Page 199 - Revista da Armada
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É preciso olharmo-nos
          É preciso olharmo-nos




                               ao espelho...
                               ao espelho...







                o dia 30 de Março, o Centro Na-
                val de Ensino a Distância aco-
         N lheu, na Casa da Balança, a expo-
         sição fotográfica Direitos Humanos – 50 Anos
         Depois, da autoria do fotógrafo John Isaac.
         Esta mostra, gentilmente cedida pela As-
         sembleia da República e pela Organização
         das Nações Unidas, foi inaugurada pelo
         Chefe do Estado-Maior da Armada, ALM
         Vieira Matias.
           Muitos perguntaram  qual a relação en-
         tre um organismo militar e uma exposição
         sobre os Direitos do Homem. Pensamos
         que cabe a cada um de nós encontrar o nos-
         so papel e a nossa função na teia social.
           Passados 50 anos sobre a proclamação da
         Declaração Universal dos Direitos do Ho-
         mem, todos a reconhecemos co-
         mo um valioso património que
         importa preservar e defender.
           Os recentes episódios da
         limpeza étnica no Kosovo e as
         prisões e massacres em Timor-                                         destruição ambiental, os focos de fome e
         Leste, só para referir alguns, são                                    de guerra que pululam no mundo, mas
         impensáveis e inaceitáveis no                                         todos ou quase todos encaramos, por
         limiar do novo século.                                                vezes, impávidos e serenos, estes aconteci-
                                                                               mentos como se de ficção se tratassem.
                                                                                 Os direitos humanos são universais
                                                                               porque abarcam toda a geografia mundial,
                                                                               tendo servido de modelo às democracias,
                                                                               pelo que a educação para os direitos é um
                                                                               factor de sucesso como forma de aper-
                                                                               feiçoamento colectivo e individual e de
                                                                               prevenir a repetição de factos históricos
                                                                               passados.
                                                                                 Volvidos 50 anos, é necessário olharmo-
                                                                               -nos ao espelho, conscientes de que tam-
                                                       A exposição fotográfica que  bém nós temos um papel a desempenhar e
                                                     esteve patente na Casa da  que não cabe só aos Estados defender e
                                                     Balança reflecte os olhares de  fazer cumprir o prescrito na Declaração.
                                                     John Isaac sobre este mundo  Como afirmou José Saramago em Esto-
                                                     antagónico, onde, por um  colmo Usamos perversamente a razão quando
                                                     lado, assistimos ao avanço  humilhamos a vida, que a dignidade do ser
                                                     desenfreado e à proliferação  humano é todos os dias insultada pelos
                                                     das novas tecnologias, à ex-  poderosos do nosso mundo, que a mentira uni-
                                                     celência das técnicas de “mar-  versal tomou o lugar das verdades plurais, que
                                                     keting”, aos novos valores e  o homem deixou de respeitar-se a si mesmo
                                                     modismos sociais; por outro  quando perdeu o respeito que devia ao seu se-
                                                     lado, ao desrespeito dos valo-  melhante.
                                                     res mais elementares da hu-  É preciso adoptar novos olhares, repetir
                                                     manidade: a igualdade, a fra-  ciclos de aprendizagens esquecidos para
                                                     ternidade e a solidariedade.  que, como diz Manuel Alegre, seja possível
                                                       Sentimos que é necessário  viver sem fingir que se vive.
                                                     dar vida aos direitos e deveres
                                                     previstos nesta Declaração.
                                                     Olhamos atónitos o desenrolar                  Ana Paula Silva
                                                     de lutas étnicas, religiosas, a  Professora do Centro Naval de Ensino a Distância

         16 JUNHO 99 • REVISTA DA ARMADA
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