Page 218 - Revista da Armada
P. 218

Património Cultural da Marinha
             Património Cultural da Marinha


                                         Peças para Recordar





                                6. LIVRO “ARTE DA GUERRA DO MAR”


                                           DO PADRE FERNANDO OLIVEIRA


                       OLIVEIRA, Fernando – Arte da guerra do mar novamente escrita por Fernando
                    Oliueyra & dirigida ao muyto manifico senhor, o senhor Don Nuno da Cunha capitão
                    das galees do muyto poderoso rey de Portugal Don Johão o terceyro. Vista &  amitida
                    pellos senhores deputados da sancta inquisiçam. Coimbra, per Johão Aluerez, 1555. [4],
                    9-80f., 4º (19 cm)
                       Grande gramático e notável escritor de marinha português, o Padre Fernando Oliveira
                    nasceu em Aveiro em 1507, desconhecendo-se, no entanto, a data da sua morte.
                       Aos 13 anos, encontra-se em Évora no Convento da Ordem de S. Domingos, tendo
                    ali recebido lições de André de Resende, a quem possivelmente deve a sua formação
                    humanística. Aos 25 anos, parte para Castela e quando regressa a Portugal passa a ensi-
                    nar em Lisboa. Teve sempre uma vida agitada e repleta de peripécias, prestando também
                    serviço na Armada Francesa, onde terá adquirido conhecimentos náuticos que lhe per-
                    mitiram escrever as suas obras de cariz naval. Feito prisioneiro pelos ingleses, passou a
                    viver em Inglaterra, vindo a conseguir, até mesmo junto do rei Henrique VIII, assinalado
                    prestígio.
                       O Padre Fernando Oliveira merece ser considerado como um dos maiores vultos por-
                    tugueses quinhentistas e um fecundo autor de escritos náuticos, de que sobressai a “Arte
                    da Guerra do Mar” que justamente mais o celebrizou.
                       A Biblioteca Central da Marinha tem o grato privilégio de contar no seu acervo com a
                    1ª edição desta obra que é o mais antigo tratado impresso sobre a Arte da Guerra no
                    Mar. O texto compreende 30 capítulos e está dividido em duas partes: a primeira, no
                    dizer do próprio autor, trata da “intenção e apercebimento” da Guerra do Mar, abordan-
                    do matérias que hoje em dia se consideram inseridas no âmbito da Estratégia, da
                    Organização e da Política; a segunda, abrangendo os 15 capítulos finais, trata das “frotas
                    armadas, das batalhas marítimas e seus ardis”, ou seja, desenvolve conceitos que em lin-
                    guagem actual se enquadram no campo da Táctica e da Náutica.
                       Passados mais de quatro séculos da sua impressão, esta obra do Padre Fernando
                    Oliveira é de grande proveito para os que se interessam pelas ciências militares navais,
                    tendo já sido objecto de estudos de, entre outros, Lopes de Mendonça, Quirino da
                    Fonseca e Botelho de Sousa.
                       Impresso em caracteres góticos no texto e romanos nas peças preliminares, o exem-
                    plar existente nesta Biblioteca está em bom estado de conservação. Foi seu impressor
                    João Álvares, português com grande produção, principalmente em Coimbra e ao serviço
                    da respectiva Universidade. Além deste exemplar só se sabe da existência de outro na
                    Biblioteca Nacional de Lisboa.
                       Além desta obra, o Padre Fernando Oliveira escreveu entre outras: Gramática de
                    Linguagem Portuguesa (a qual é a primeira que no nosso idioma se publicou), e dois
                    importantes tratados de arquitectura naval: Ars Nautica (manuscrito da Biblioteca de
                    Leiden) e o Livro da Fábrica das Naus (texto publicado em 1898 por Henrique Lopes de
                    Mendonça e posteriormente pela Academia de Marinha em 1991).
                                                          Biblioteca Central de Marinha – cota: R Da 210/nº 1275
                                                          (Texto de Luís Joel Pascoal – C/Almirante)
   213   214   215   216   217   218   219   220   221   222   223