Page 290 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
Património Cultural da Marinha
Peças para Recordar
8. AS BOMBAS DO ARSENAL DA MARINHA
No séc. XIX, Lisboa foi palco de violentos incêndios, alguns dos quais de pro-
porções dantescas.
O Arsenal da Marinha continuou a ter, nesse século, o papel destacado no com-
bate aos incêndios na cidade que a sua antecessora, a Ribeira das Naus, tivera desde
1395.
Com o advento da máquina a vapor, foi encetada uma profunda modernização do
parque de máquinas da Cordoaria Nacional mas, malogradamente, a 13 de Junho de
1881, ocorreu um violento incêndio que celerizou a aquisição da primeira bomba de
combate a incêndios a vapor do Arsenal da Marinha. A bomba terá chegado a Lisboa
no princípio do Outono de 1881 e foi atribuída à Cordoaria Nacional, que na
sequência da reorganização de 1868 ficara dependente do Arsenal.
Na noite de 17 de Dezembro de 1883 eclodiu um incêndio no brigue Camões,
em construção no Arsenal da Marinha que se estendeu a várias oficinas, consumindo
importantes valores. Evidenciada a insuficiência das bombas manuais de combate a
incêndios existentes, foram encomendadas mais duas bombas a vapor Merryweather,
que chegaram em 1885.
Foram estas três bombas que, representando um grandioso salto tecnológico, via-
bilizaram páginas gloriosas de sucesso da Marinha e dos seus homens que eram sem-
pre os primeiros a chegar e a combater o fogo e, por galhardia, nunca quiseram rece-
ber o prémio que a Câmara Municipal de Lisboa tinha criado para esse fim. A capaci-
dade das bombas e a actuação organizada e eficaz dos homens do Arsenal imor-
talizariam as “Bombas do Arsenal da Marinha” como eram então conhecidas na
velha Lisboa oitocentista. São todas de tracção hipomóvel, o que permitia uma rápida
deslocação, embora inicialmente fossem puxadas como acontecia com as bombas
manuais por vários “remadores”.
As bombas alimentavam duas linhas de mangueira de 2´´1/2 e o caudal e o
alcance do jacto de água da bomba mais antiga eram cerca de três vezes superior às
mais recentes bombas manuais da época. O vapor era gerado numa caldeira vertical
de “alta pressão” e de rápida vaporização, a cerca de 6 atmosferas, e necessitava
apenas de cerca de 10 minutos para permitir o funcionamento da bomba. O com-
bustível utilizado era o carvão de coque.
Merece particular relevo o facto dessas bombas terem sido utilizadas no combate a
incêndios em navios surtos no Tejo e várias vezes atravessaram o rio, dentro de bar-
caças, para acudirem a incêndios na Margem Sul.
As velhas bombas foram integradas em 1934 no cortejo alusivo à história do
serviço de incêndios da cidade de Lisboa e já não regressaram ao Arsenal.
Volvidos mais de 44 anos de permanência numa dependência de material antigo
do Corpo dos Bombeiros Sapadores, na Mitra, as bombas foram para o Museu de
Marinha no dia 19 de Julho de 1979, por instâncias do Director do Museu, C/Alm.
Emmanuel Ricou, local onde ainda hoje se encontram e constituem um valioso
património.
Museu de Marinha
(Texto de R.H. Isidro Valente, CF EMQ)