Page 383 - Revista da Armada
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Porto de Lisboa, confessa; «O meu cunhado  No ano seguinte, o gentio do Ambriz re-  Como, nas longas horas, eram os dotes
         far-nos-á muita falta, pelo menos ao Pedro  bela-se e, face aos nossos interesses, aos dos  artísticos de cada um que as amenizava,
         que o estima muito porque ele é, na ver-  nossos aliados africanos e à súbita cobiça  D. Luís convidou o filho de António Feli-
         dade, um excelente rapaz, muito acriança-  das potências europeias, havia que reagir.  ciano de Castilho a recitar o poeta e, agra-
         do, mas sério nas suas tendências (20) (…)».  Um batalhão provisório constituído por  dado, ofereceu-lhe um charuto (27). O
           A 10 de Abril de 1859 a mesma força  duas companhias de caçadores de Angola,  guarda-marinha Augusto de Castilho,
         segue para Inglaterra onde vai buscar o  uma de Diu e outra de Damão, num total  que, no Rio, salvará a vida de muitos ca-
         noivo da infanta D. Maria Ana. Em cinco  de 359 homens, mais 30 soldados e um ofi-  maradas brasileiros e que será ministro da
         dias estão em Southampton donde se au-  cial de artilharia, e o novo governador-geral  Marinha (28), guarda-lo-á, enternecedora-
         senta, de 24 a 29, para ir a Londres saudar  de Angola embarcam num navio fretado, o  mente, para o seu ilustre… pai.
         os monarcas britânicos, acompanhado do  «África», que a 11 de Junho sairá escoltado  Debelada a subversão, entronizado o le-
         visconde da Campanhã e pelo capitão-de-  pela canhoneira «Maria Ana» (21).   gítimo Rei do Congo e reforçada a consoli-
         fragata Sérgio de Sousa.                                              dação da vitória ei-los, em 31 dias, em Lis-
           A 3 de Maio, tendo embarcado na véspe-                              boa, a 15 de Outubro, um mês depois da
         ra o príncipe Frederico da Saxónia, acompa-                           «Estefânia».
         nhado de 18 pessoas seguem, com a sua es-                               Já em 1861, depois de escoltar a Impe-
         colta na alheta de BB, para Lisboa indo lar-                          ratriz Isabel da Áustria, do Funchal (29) a
         gar ferro em Belém, no dia 7.                                         Gibraltar e de trazer para Lisboa 45 recrutas
           Nova saída da divisão, a 21, para trans-                            para a Armada, e de Inglaterra o irmão da
         portar os jovens esposos a Antuérpia onde                             rainha e noivo de D. Antónia de Bragança, e
         desembarcaram com todas as honras da                                  D. Pedro V, do Porto, onde inaugurara a
         Ordenança, aproveitando D. Luís a pas-                                Exposição Industrial e a construção do Palá-
         sagem em Southampton e Londres para es-                               cio de Cristal, vai levar de volta o recém ca-
         tudar a «organização dos arsenais, docas e                            sal e sua luzida comitiva.
         estaleiros».                                                            A viagem que começou borrascosa, ter-
           A 25 de Junho, sem a «Sagres» que ficou                             minaria… tragicamente
         a reparar o convés, alcançou numa singra-                               Desembarcados os reais passageiros em
         dura, o Tamisa, donde a 9 de Julho ruma ao                            Southampton e recolhidos em Londres, são
         Tejo para a 14,  amarrar à bóia.                                      principescamente recebidos em Antuérpia
           D. Estefânia, 14 meses amada rainha,                                a 29 de Setembro.
         falecera uma semana antes…                                              Enquanto a «BD» sofre fabricos, D. Luís e
           Porque em Marrocos se declarara, entre                              seu irmão D. João, seguem para Paris, em
         os quatro filhos do falecido Imperador,                               visita a Napoleão III, onde lhes é ocultada a
         uma guerra civil que obrigara, «no meio de                            notícia do falecimento, a 4 de Outubro, do
         tamanha anarquia e confusão, ao entrichei-                            irmão D. Fernando.
         ramento dos europeus e suas representa-                                 A 7 estão já em Londres e são aí informa-
         ções diplomáticas e consulares», entendeu o                           dos da doença e melhoras de D. Pedro e de
         govêrno enviar uma força naval «que fizes-                            D. Augusto e a 8, depois de, incógnitos,
         se respeitar a bandeira e os interesses portu-  D. Luís, CMG, 1860.   cumprimentarem a rainha Vitória, embar-
         gueses».                                                              cam, entregue o comando da «BD», no
           Assim, a 14 de Setembro, esta, sob o man-  No dia seguinte sai a «Estefânia» com 329  vapor «Oneida» para Lisboa onde são cha-
         do do sereníssimo infante, fez-se ao mar,  homens do 2º Batalhão Expedicionário de  mados e aonde chegam a 14.
         com o seu navio, mais a corveta «Estefânia»  Infantaria, destinado à Campanha dos  D. Luís «pressentiu que o aguardava
         e o vapor «Argus» que ao pairo, ao mar de  Dembos (22), além das mulheres e 16 filhos  algum funesto sucesso e, ao ouvir o dobrar
         Santa Maria, os reforçou, indo em dois dias,  de 17 soldados e oficiais.  dos sinos e o estampido da artilharia a es-
         dar fundo em Tânger.                 A 29 de Agosto largaram a  «B.D.», escol-  paços comprehendeu».
           As instruções que o comandante recebeu  tando o transporte, «D. Antónia», com 43  Três dias antes falecera D. Pedro, aos 25
         eram claras. Logo no primeiro dos cinco  soldados, alguns degredados e 36 cavalos  anos, e, dias depois, falecerá o outro irmão.
         pontos, se ordenava que deveria «Avistar-  para o esquadrão (23) de Angola.  A bordo, foi lhe assim comunicado:
         -se com os comandantes das forças estran-  A força naval às ordens de D. Luís leva-  -«Praza a Deus conceder toda a sua divi-
         geiras em Marrocos e operar de comum  va, como chefe do seu estado-maior, o seu  na graça e auxílio a V. Magestade.
         acordo» o que não teve de acontecer, per-  fidelíssimo assessor Sérgio de Sousa.  - Meu irmão!?…
         mitindo-lhes o regresso a 21, porque «a si-  Esta ordem de partida faseada, ainda que  - Foi para onde tinha vindo.
         tuação, para os cristãos não era de causar  coerente, teve como causa o facto de D. Luís  - Que fatalidade! Que fatalidade!…»
         preocupações».                     ter adoecido e, certamente, por este não ter  D. Luís, o Bom, o Popular, o Marinheiro
           Mas, certamente, o infante compreendeu  querido eximir -se às suas responsabilida-  revelar-se-á, de imediato, inesperadamente
         que um oficial da Armada tem de ser ho-  des. Recorde-se o que era então África (24)  (30) e em muitos aspectos, um Rei notável.
         mem habituado a enfrentar, além de altero-  e que continuava a ser o primeiro no acesso  Após um «noviciado de 3 annos e meio»
         sas ondas, imprevistos tão extrêmos como os  ao trono.                «faz dos Oficiais da Armada os seus amigos
         que podem surgir tanto do pó das areias do  Certa noite o oficial de quarto, alegando  e entre eles escolhe o perceptor de seus fi-
         deserto, como do pó de arroz dos… salões.  que via luzes no horizonte, mandou-o cha-  lhos», «corresponde com a continência e
           Ainda em 1859 fora eleito rei do Congo o  mar. Nada enxergando, ouviu o jovem  um sorriso amigo a todas as praças que ha-
         marquês de Catende, vassalo de D. Pedro V,  tenente murmurar do fraco rancho que lhe  viam servido consigo»  e recordava uma
         mas D. Álvaro M. Dongo não o acatou e,  afectara a… visão. Ao descer à camarinha  história que lhe fora contada «dum oficial
         acto contínuo, cercou a residência do super-  ordenou que levassem à tolda (25) uma  ignorante e presunçoso… que acabara
         -intendente das minas do Bembe, o capitão-  travessa de… carnes frias.  preso»…
         -tenente Baptista de Andrade cuja sereni-  À segunda, sem mais, mandou logo  Em 22 de Julho de 1863, criou, junto da
         dade, saber e valor lhe grangearam a pro-  outra… travessa. A visão do «alastrativo  Escola Naval, o Museu da Marinha que do-
         moção por distinção em… combate.   (26) » melhorou… definitivamente.  tou, para treino dos seus alunos, com a co-

         20 DEZEMBRO 99 • REVISTA DA ARMADA
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