Page 170 - Revista da Armada
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ACADEMIA DE MARINHA



                              Sessões Culturais
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              eve lugar na Academia de Marinha,                                  Seguidamente, passou a palavra à Vice-
              no dia 2 de Março, uma das habituais                             -Presidente que fez uma breve descrição da
         Tsessões culturais, em que a mesa foi                                 actividade cultural e científica do Prof. Carré
         presidida pelo VALM F. Sacchetti, Presidente                          nas diversas Universidades francesas em que
         da Academia, ladeado pela Vice-Presidente e                           leccionou até presentemente exercer a docên-
         Secretário-Geral da mesma Academia.                                   cia em Paris - Sorbonne, sendo essencialmente
           O Presidente da Academia abriu a ses-                               um geógrafo com grande interesse nas pescas
         são, começando por apresentar a oradora,                              do Atlântico Norte inclusivé de Portugal.
         a Dra. Kioko Koiso, que completou há cerca                              O orador referiu-se então à política europeia
         de um ano um Mestrado em História dos                                 dos fins do século XVIII e dos interesses surgi-
         Descobrimentos na Faculdade de Letras da                              dos quanto ao Continente Antárctico, principal-
         Universidade de Lisboa e que é a única ci-                            mente após a viagem de James Cook (1772-5),
         dadã de nacionalidade japonesa membro                                 entre eles, os da Rússia de Alexandre I.
         associado da Academia de Marinha.                                       Fez uma breve descrição de Fabian Gottlieb
           A oradora, que já embarcou em diversas                              von Bellingshausen (1778-1854), oficial da
         viagens de estudo na “Sagres” e no “Creoula”,                         Marinha Russa que, já em 1809, se distinguiu
         agradeceu à Academia o convite para apresen-                          contra a esquadra Sueca, quando comandava
         tar a sua comunicação e informar que o tema                           uma corveta.
         “História Trágico-Maritima: Factos revelados em do-                     Este oficial comandou o esquadrão russo,
         cumentação inédita” se baseava, em grande par-  UÊ œÊ`ˆ>ÊÓÎÊ`iÊ >ÀXœÊÀi>ˆâœÕ‡Ãiʘ>Ê V>-  em que um dos navios esteve sob o coman-
         te, no texto que foi galardoado, em 2003, com o  demia de Marinha uma sessão cultural, sob  do do Tenente Lazarev e preparou-se cuida-
         “Prémio Almirante Sarmento Rodrigues“.  a presidência do VALM Ferraz Sacchetti, Pre-  dosamente para proceder à exploração das
           Referiu-se ao texto conhecido de Bernardo  sidente da Academia, coadjuvado na mesa  terras em torno do polo antárctico, tendo
         Gomes de Brito publicado, em dois tomos,  pela Vice-Presidente Prof. Dra. Raquel Soeiro  adqui rido os instrumentos mais apropria-
         um em 1735 e outro em 1736 e aos estudos  de Brito e pelo Secretário-Geral, em que o ora-  dos e avançados existentes na época, para
         que sobre estes naufrágios foram já realizados  dor, o membro associado da Academia Prof.  assegurar o êxito da viagem.
         por estudiosos, como Charles Boxer e Giulia  Dr. François Carré fez uma comunicação so-  Descreveu com grande largueza de porme-
         Lanciani, mas que na generalidade só se de-  bre “L’expédition russe circunantarctique de  nores e utilizando projecções o trajecto dos
         bruçaram sobre documentos já publicados.  Bellingshausen et Lazarev (1819-1821)”.  navios russos em torno da Antárctida, ser-
           Abordou a tragédia do galeão grande “São   O Presidente da Academia abriu a sessão  vindo-se para isso de reproduções do relató-
         João”, mais conhecido pessoalmente pelo nome  tendo-se referido às três longas viagens de Ja-  rio de Bellingshausen, cujo original se encon-
         de “Naufrágio de Sepúlveda” e sobre o assunto  mes Cook nos mares do Sul, em que na segun-  tra em S. Petersburgo e que durante algum
         fez uma série de considerações apropriadas.  da , a despeito de ter atingido os 71º de latitude  tempo foi quase ignorado, até pelas próprias
           Seguidamente referiu-se e fez comparações  Sul, “afirmou então que, com um clima como  autoridades russas, vindo a ter uma maior
         com outros textos respeitantes ao mesmo nau-  aquele, não poderiam existir terras habitadas  divulgação quando apareceu em 1945, uma
         frágio, indicando as diferenças e divergências  mais a sul, no que estava, aliás, certo.  tradução inglesa.
         encontrados nas descrições de algumas das   De facto, aquele explorador circumnave-  Aludiu às Terras antárcticas avistadas por ve-
         cenas mais lancinantes, o que se explica tal-  gou a Antárctida mas não a viu e citou ainda  zes a grandes distâncias e baptizadas naquela
         vez pela necessidade de alguns autores me-  as preocupações globais existentes quanto à  viagem, com os nomes de Alexandre I e Pedro I,
         lhor chamarem a atenção dos leitores e assim  preservação da natureza e ao Tratado da An-  tendo ainda os russos nesta viagem aproveitado
         enriquecerem a descrição.          tárctica (1DEZ59)respeitado por todos.  para explorar as ilhas Fiji e da Sociedade, uma
           E, foi assim, que “através de manuscritos, po-                      das quais aliás tem o nome de Bellingshausen,
         demos conhecer os bastidores dos dramas que não                       nome este também dado a uma das áreas ma-
         correspondem exactamente ao que tem sido divul-                       rítimas em torno da Antárctida.
         gado ao longo dos séculos”, mesmo quando se                             Referiu-se o orador, ainda, às viagens se-
         trata do relato de Diogo de Couto.                                    guintes de Palmer (1821), Weddel (1823),
           Explicou, no fim, a forma com tinha des-                             Dumont Durville (1839-40), Wilkes (1839) e
         coberto por acaso os manuscritos inéditos                             Ross (1839-43) e das estações científicas exis-
         e como os tinha estudado em pormenor de                               tentes normalmente naquele continente, que
         forma a habilita-la a fazer comparações com                           por acordo internacional, se encontra livre de
         textos publicados.                                                    qualquer tipo de armas.
           Respondeu às diversas perguntas que so-                               Bellingshausen chegou a governador mili-
         bre o assunto lhe foram feitas por membros                            tar de Kronstadt, onde aliás já tinha frequenta-
         da Academia e convidados presentes, mos-                              do a Escola Naval, quando atingiu o posto de
         trando ainda um bom domínio do idioma                                 Vice-Almirante e lhe foi confiada a Esquadra
         português, na explicação das várias projec-                           Russa do Báltico.
         ções de textos que foram apresentados.                                  Após a exposição, feita em língua francesa, fo-
           Ao encerrar a sessão, o Presidente da Aca-                          ram apresentadas diversas questões ao orador
         demia agradeceu à oradora e desejou-lhe o                             que amávelmente se designou a responder.
         melhor sucesso na preparação do seu douto-                                                            Z
         ramento em Portugal.                                                            (Colaboração da Academia de Marinha)

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