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PORTUGAL VAI CONTINUAR A DISPOR
            PORTUGAL VAI CONTINUAR A DISPOR

                       DE CAPACIDADE SUBMARINA
                       DE CAPACIDADE SUBMARINA


             ela Resolução do Conselho de Ministros  se. Efectivamente na “fuel cell”, o hidrogénio  mas ainda assim com a necessidade de garantir
             n.º 183/2003 de 6 de Novembro, foi ad-  e o oxigénio reagem através de uma membra-  a existência dos meios necessários ao exercício
         Pjudicado ao GSC (German Submarine  na, a uma temperatura baixa de cerca de 80º  da vigilância, controlo e defesa, do seu vasto
         Consortium) (1) a construção de dois subma-  C, produzindo electricidade e água.  espaço marítimo, a detenção da capacidade
         rinos tipo 209PN, que formarão a 5ª Esqua-  Existem actualmente vários tipos de “fuel  submarina significa:
         drilha da Marinha Portuguesa. Esta resolução  cell”, tendo o adoptado para os submarinos a   - determinação de defesa autónoma
         constituiu um importante passo no Processo  designação de PEM (Polymer Electrolyte Mem-  - credibilidade da imagem de empenho
         de Aquisição iniciado em 1995, permitindo  brane ). A sua escolha foi consequência das  efectivo para assumir as  responsabilidades
         iniciar a fase de negociações pré-contratuais  vantagens que tornam este tipo especialmente  militares no âmbito das alianças em que
         que culminou com a assinatura do contrato  indicado para aplicação em submarinos, no-  se insere.
         em 21 de Abril.                                                                         A percepção des-
           Deste modo, Por-                                                                    te significado  esteve
         tugal vê assegurada a                                                                 patente ao longo dos
         continuidade da sua                                                                   últimos 90 anos  da
         capacidade  submari-                                                                  nossa história tradu-
         na, que detém desde                                                                   zindo-se na manuten-
         1913, ano em que foi                                                                  ção dessa importan-
         entregue o “Espadarte”,                                                               te capacidade que as
         o primeiro submersível                                                                várias esquadrilhas de
         português.                                                                            submarinos têm vin-
           Ao longo dos noven-                                                                 do ininterruptamente
         ta anos decorridos des-                                                               a assegurar ao nos-
         de então, formaram-se                                                                 so país.
         quatro esquadrilhas,                                                                    Satisfazendo os re-
         tendo sido marcante a                                                                 quisitos da Marinha
         evolução ocorrida na                                                                  Portuguesa face aos
         passagem da terceira                                                                  novos cenários rela-
         para a quarta e actu-                                                                 tivos ao período pós
         al esquadrilha, com o                                                                 Guerra Fria, os sub-
         despontar do subma-                                                                   marinos da 5ª Esqua-
         rino em vez do sub-                                                                   drilha (equipados com
         mersível.                                                                             AIP) estão projectados
           Com efeito, a evolu-                                                                para ser empregues,
         ção tecnológica permitiu o desenvolvimento  meadamente: baixa temperatura (baixa assina-  nomeadamente, nas seguintes missões:
         de operações em que os submarinos podiam  tura térmica), bom rendimento na conversão   s Protecção avançada à força naval portu-
         permanecer em imersão profunda durante três  de energia, facilidade de iniciar e interromper  guesa ou aliada, nomeadamente em futuras
         ou quatro dias, o que era impensável na época  o funcionamento, não existência de produtos  operações que impliquem a utilização do na-
         dos submersíveis.                  de evacuação e funcionamento independente  vio polivalente logístico (LPD);
           Recorda-se este grande salto tecnológico  da profundidade de imersão.  s Vigilância e recolha de informações  dis-
         pelas consequências operacionais que acar-  Para além dos vários módulos que associa-  cretas, junto à costa de um opositor, ou em
         retou e porque, com a 5ª Esquadrilha, se irá  dos dão à “fuel cell” a potência necessária, o  zonas sob o seu controlo;
         verificar um novo passo em frente de seme-  sistema consiste ainda de vários equipamentos   s Ataques selectivos a interesses de alto valor
         lhante importância. Isto porque, para além de  auxiliares, do interface com o sistema de con-  estratégico na zona litoral de um  opositor;
         os novos submarinos serem naturalmente mais  trolo da plataforma, do tanque para armazena-  s Interdição de áreas focais junto a portos,
         modernos em todas as áreas, virão dotados de  mento da água proveniente da reacção quími-  costa ou zonas de navegação de elevado inte-
         um sistema AIP (Air Independent Propulsion)  ca e dos reservatórios para o armazenamento  resse para o opositor (operações de minagem
         que lhes permitirá desenvolver operações em  do oxigénio (no estado líquido no interior do  e de luta anti-superfície).
         imersão profunda durante semanas. Neste pe-  submarino) e do hidrogénio (no estado gasoso   s Integração em forças combinadas e/ou
         ríodo, o submarino não necessita de vir à cota  em reservatórios especiais localizados no exte-  conjuntas em acções de apoio avançado.
         periscópica para carregar as baterias de pro-  rior do submarino, em que o “metal hydride”   s Acções de negação do uso do mar (sea
         pulsão, não se expondo assim a uma possível  que os preenche, absorve o hidrogénio como  denial) em áreas oceânicas.
         detecção pelos seus antagonistas, o que per-  se de uma esponja se tratasse).  s Patrulha de área oceânica, anti-submarina
         mite aumentar não só a incerteza sobre a sua   Esta importante capacidade, associada a  e/ou anti-superfície
         área de operação, mas também  o seu poder  uma plataforma extremamente silenciosa e a   s Vigilância da ZEE no quadro de uma po-
         de dissuasão.                      um sistema de combate – comando e controlo,  lítica de dissuasão a infracções ambientais e
           O sistema AIP dos novos submarinos têm  sensores e armas – de última geração, tornam  de segurança.
         como fonte de energia a “fuel cell”, equipa-  os novos submarinos um meio naval extrema-  s Vigilância discreta, nas áreas costeiras, de
         mento que permite a produção de energia  mente eficaz.                 actividades ilícitas como o narcotráfico, o trá-
         de forma silenciosa, sem combustão, através   Num país com limitações na edificação do  fico de pessoas ou outras actividades associa-
         de uma conversão  electroquímica que não é  seu sistema de forças, decorrentes da sua di-  das ao crime organizado.
         mais do que o fenómeno inverso da electróli-  mensão e potencial económico e financeiro,   s Vigilância da infiltração, a partir do mar,

         20  MAIO 2004 U REVISTA DA ARMADA
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