Page 32 - Revista da Armada
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DIVAGAÇÕES DE UM MARUJO (4)
Os Meninos de Benfica
Os Meninos de Benfica
assadas que estão – oficialmente, claro! Electrónica, Contabilidade e Mecânica. Dali A história dos Pilões Navais é, por conse-
- as comemorações dos duzentos anos saiu, durante muitos anos, a “nata” do nosso guinte, ainda muito curta. Ainda não temos
Pdo Colégio Militar, permita-me a infi- mundo empresarial, e tornou-se frequente os heróis de guerra, mas tem havido sempre um
nita paciência dos meus leitores falar-lhes, melhores alunos assinarem contrato com as “pilão” onde quer que a nossa Marinha tenha
hoje, de uma outra instituição que, sendo grandes empresas muito antes de verem o seu estado ultimamente: Adriático, Guiné-Bissau,
muito mais moderna, com ele é muitas ve- curso concluído. Zaire ou Timor. Ainda não demos à Marinha
zes confundida, instituição, essa, na qual Claro que as distinções de classe se fo- um CEMA, mas temos, frequentemente, che-
passei a parte mais significativa da minha ram apagando ao longo do século XX e hoje gado ao topo das respectivas classes, pelo que
mocidade: o Instituto Militar dos Pupilos do qualquer um dos colégios permite a entra- já contamos com uma boa meia dúzia de ofi-
Exército (IMPE). da a filhos de oficiais, sargentos, praças ou ciais generais. E devo dizer que não sinto me-
O IMPE nasceu, praticamente, com a Re- até de civis. Persiste, no entanto, a diferença nos orgulho por saber que também nas cate-
pública, a 25 de Maio de 1911. Ao criá-lo, nas orientações vocacionais. É inegável, por gorias de sargento e de praça, assim como na
o então Ministro da Guerra, General António exemplo, que o Colégio Militar sempre teve qualidade de civis, muitos outros “pilões” têm
Xavier Correia Barreto, tinha por objectivo uma maior tradição em formar militares, em- servido com brio a nossa Corporação.
genérico “a formação de cidadãos válidos à bora nas últimas décadas essa tendência se Jamais esquecerei o dia em que saí pela úl-
Nação”, contudo o Instituto acabou por vir a tenha vindo a esbater. tima vez, na qualidade de aluno, do velho in-
preencher uma importante lacuna no Apoio No caso específico da Escola Naval, só a ternato de S. Domingos de Benfica. Tinha, nes-
Social das Forças Armadas: a educação dos partir dos anos 50 do século passado pôde se dia, concluído a minha semana de campo
filhos dos sargentos e das praças, uma vez que aquela academia receber os primeiros “pi- e, com ela, o Curso Geral de Milicianos (sim,
para os descendentes dos oficiais já existia, há lões” (alcunha que, contrariamente a outras confesso: como grande parte dos antigos alunos
muito, o Colégio Militar. Recorda-se que, na explicações mais imaginativas dadas para a do IMPE e do Colégio no activo, tenho o equi-
altura, era frequente os militares terem de se origem do termo, é apenas um diminutivo de valente à recruta da “Magala”!). O dia anterior
ausentar em longas comissões no Ultramar, “pupilões”), e só para as classes de Adminis- tinha sido preenchido com uma extenuante
das quais muitos não regressavam. Várias fa- tração Naval e de Engenheiros Maquinistas marcha de vinte e cinco quilómetros, na tor-
mílias ficavam, assim, impossibilitadas de dar Navais (o primeiro “pilão” da classe de Mari- reira do sol, pela serra da Carregueira e arredo-
uma educação condigna às suas crianças. Foi, nha só entraria em 1981). res. Para o meu grupo, porém, essa distância foi
pois, por esse motivo acrescentada de uma
que surgiram o Colé- boa dezena de quiló-
gio Militar, os Pupi- metros, pois tínhamos
los do Exército e o “saltado”, por engano
Instituto de Odivelas - grandes chouriços! -,
(este último destina- uma estação de con-
do ao sexo – que me trolo. Lembro-me
perdoem os mais po- que, na altura, mal-
liticamente correc- disse o Exército com
tos! - feminino). todas as minhas forças
Ora, não poden- e dei graças aos Céus
do orientar os seus por ter decidido con-
alunos no sentido de correr à Escola Naval.
virem a ser oficiais Dali a três meses, po-
das Forças Armadas, rém, agoniado pelo
carreira que lhes es- enjoo na ponte da
taria, em princípio, corveta que me tinha
vedada, o IMPE pro- calhado em sorte na
curou, antes do mais, Viagem de Adapta-
ensinar-lhes uma ção, lamentava amar-
profissão, nas áreas gamente o malfadado
do Comércio ou da dia em que resolvera
Indústria, que lhes escolher a Marinha.
permitisse tornarem- Tais foram as sau-
se economicamen- dades que passados,
te independentes. apenas, alguns dias
Contudo, este ensi- do regresso à Base,
no profissional foi, numa das primeiras
progressivamente, licenças de Quar-
ganhando qualida- ta-Feira, fui logo,
de e estatuto, vindo acompanhado de
a culminar nos con- outro camarada “pi-
ceituados bacharela- lão”, fazer uma visi-
tos em Electrotecnia, ta à minha (na altu-
30 JANEIRO 2004 U REVISTA DA ARMADA