Page 33 - Revista da Armada
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ra ainda não muito) antiga escola. Ali deu-se  no mútuo respeito de quem tinha em comum   Duas instituições tão semelhantes, mas com
         uma cena verdadeiramente hilariante, com  uma duríssima experiência de oito anos de  papeis tão demarcados na nossa Sociedade!…
         o porteiro, o sempre carrancudo Sr. Alberti-  internato. Isto fazia-nos, naturalmente, olhar  Como foi possível ter-se chegado a equacionar
         no, que se lembrava perfeitamente das nossas  com uma certa condescendência aqueles ca-  o encerramento de uma delas? E, de resto, sei
         “fronhas”, a barrar-nos a entrada, por não es-  detes mais antigos que se davam ares de ve-  bem que os nossos camaradas colegiais (como
         tar autorizado a deixar entrar alunos em traje  teranos. Para trás ficava uma acesa rivalidade  muitos fizeram questão de mo afirmar) nunca
         civil (na altura ainda não nos tinha sido dis-  que se exteriorizava nas competições despor-  se sentiram completamente descansados, mes-
         tribuído o nosso vistoso uniforme nº3). Em  tivas ou na disputa dos corações das “meninas  mo depois de lhes ter sido garantido que a sua
         vão procurámos convencê-lo de que já não  de Odivelas” (e se nas primeiras a suprema-  Escola seria poupada à sanha economista. É que
         éramos alunos, exibindo o nosso cartão de  cia em cada modalidade se discutia “taco-a-  num mundo que rejeita os Pupilos dificilmente
         identificação militar, na altura ainda provisó-  taco”, já neste último capítulo, abstenho-me,  o Colégio sobreviveria muito mais tempo.
         rio. Como o impasse não se afigurava passí-  por uma questão de modéstia, de dizer quem   Espero, daqui a oito anos, poder assina-
         vel de resolução, decidimos “furar” a entrada  levava, usualmente, a melhor).  lar nestas páginas o primeiro centenário do
         e dirigir-nos ao gabinete do Oficial de Dia.   Ainda me lembro, a propósito, de uma  IMPE, porventura com algo mais palpável do
         “Pois vão!”, rosnou o Sr. Albertino, julgando,  pequena conversa que tive com o Duque  que esta curtíssima visão pessoal. Aos antigos
         talvez, que nos aguardava uma valente “pas-  de Bragança quando há dois anos nos cru-  “meninos da Luz” (e, já agora - porque não?-
         sa”. Quando, dali a uns minutos, saímos na  zámos em Dili, numa recepção a bordo da  , às antigas “meninas de Odivelas”) da nossa
         companhia sorridente do Oficial de Serviço,  minha “barcaça”. Na altura, apontando para  Marinha atrevo-me, desde já, a fazer o convite
         que nos convidara para jantar, virou-nos a  a barretina castanha que orgulhosamente os-  para, na ocasião, se juntarem aos Pilões Na-
         cara, despeitado e muito confuso com aque-  tentava na lapela, comentei jocosamente que  vais e com eles brindarem ao futuro da edu-
         le desfecho. Mas, enfim!, o Sr. Capitão lá sa-  Sua Alteza Real estava a usar um símbolo da  cação de excelência e à fraternidade entre os
         beria o que estava a fazer…        “concorrência”, ao que D. Duarte retorquiu,  nossos estabelecimentos de ensino. Mas isso
           Uma vez ultrapassados os primeiros cho-  exclamando, num sorriso afável: “Ah, andou  será, com certeza, uma outra história…
         ques, pude, já na Escola Naval, usufruir do  nos Pupilos?! Aquilo é que era uma rivalida-             Z
         “acordo de cavalheiros” existente entre os an-  de!…”. E a sua expressão sorridente fundiu-se   J. Moreira Silva
         tigos alunos dos Pupilos e do Colégio, criado  num suspiro nostálgico.                              1TEN




                                               BIBLIOGRAFIA



                  Canções Soltas das Beiras
                  Canções Soltas das Beiras



            osé Marques Guedes – Zecaguedes,                                     tar alguns, o apito em uso nos navios de
            como ele próprio se resume na capa                                   guerra, para execução de serviços, desde
         J– sargento-chefe enfermeiro de profis-                                  a alvorada ao toque de silêncio.
         são deu consigo, depois de certa hesita-                                  A pesquisa do Senhor Zecaguedes
         ção, a passar à pauta musical o conjunto                                aborda os temas de música a várias épo-
         de sons de diversíssimas canções beirãs.                                cas do ano, como, das Janeiras ao Entru-
         Natural de terra muito pobre em instru-                                 do, Quaresma e Páscoa, da Páscoa aos
         mentos musicais e muito rica em cordas                                  Santos Populares, Festas e Romarias de
         vocais, ele próprio com grande riqueza de                               Verão, Colheitas, Pregões, Canções sol-
         espírito e conhecimentos musicais, tirou-                               tas, enfim, um sem número de arranjos
           -se de seus vagares  e vá de pôr, preto no                            musicais, todos identificados, e em nu-
         branco, e ainda por cima, de memória, as                                mero que chega aos duzentos e cinco!
         letras e musicas que a sua memória guar-                                Para quem nasceu em 1933 foi trabalho
         dara de menino. Boa memória!                                            e tanto! Parabéns Senhor José Marques
           Confessa o próprio, “isto não foi fácil”,                             Guedes, que também escreve com gosto
         adivinhar e dar caminho a tantas tradi-                                 que dá gosto ler!
         ções, passar tudo isto à pauta musical,                                   Isto tudo parece ter sido escrito em
         enriquecê-la com o acrescento do im-                                    1996, na Aguieira, perto de Viseu.
         portado por via das incursões de traba-                                   Não será que o Autor leu o Malhadi-
         lhadores em outras terras, dos “ratinhos”                               nhas, o Romance da Raposa ou o Homem
         por exemplo, que no Alentejo registaram                                 que matou o Diabo? Ou será apenas por
         as melodias de outros ritmos, e as adap-                                ser autor lá daquelas terras? O estilo aqui-
         taram ao jeito das Beiras, isso – acredi-                               línico, aqui e além, deixa-nos surpresos.
         ta-se! – não foi fácil.                                                   A capa (que também é sua) é que ul-
           O que é preciso é conhecer a pauta                                    trapassa as expectativas do estilo, mas
         musical, o compasso, as notas, os ritmos, as colcheias e semifu-  possui toque de beirã, inclusive no castelo da contracapa com a
         sas, breves e semibreves.                            foto (que se averiguou ser o castelo de Sortelha).
           Os instrumentos musicais são, no explicar do autor, os reis do   É livro que a RA vai guardar na sua colecção com muito agrado.
         apito, agrupando-os em instrumentos de sopro, cordas, percussão e   Muito obrigado pela oferta.
         electroacústicas, os quais funcionam quando soprados, friccionados,                                   Z
         dedilhados ou batidos, percutidos, e, modernamente, os alimenta-                              S. Machado
         dos por princípios  de oscilações eléctricas. E nem lhe falta, ao lis-                              CMG
                                                                                     REVISTA DA ARMADA U JANEIRO 2004  31
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