Page 73 - Revista da Armada
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Património Cultural da Marinha
             Património Cultural da Marinha


                                          Faróis de Portugal





                  6. FAROL DO CABO ESPICHEL


                  Consta que em 1410, teria aparecido no Cabo Espichel,  ferior; sendo verticais as dos dois que lhe succedem, e arrema-
                 Santa Maria (Nossa Senhora do Cabo) para acalmar um tem-  tando com cimalha e varanda de cantaria, elevando-se dentro
                 poral e “iluminar o oceano como se fosse dia”. Em 1428 já  d’esta um sócco que sustenta a dita lanterna. Os cunhaes tam-
                 lá existia a ermida da memória e em 1430 começaram os  bém são de cantaria. A altura de todo edificio, desde a base
                 círios, e a irmandade de N. Sr.ª do Cabo edificou um farolim  da torre até ao vertice da lanterna, é de 30m,70.
                 antecessor do actual farol.                   Data a construcção d’este pharol do anno de 1790, tendo
                  A grande afluência de círios ao cabo obrigou a que, em  sido reformado em 1817, 1846 e 1848.
                 1715, se construíssem hospedarias com sobrados e lojas   Em roda e ligado ao primeiro corpo da torre d’este pharol
                 que seriam ampliados cerca de cinquenta anos depois. As  há um edificio com telhado e que tem por base um rectan-
                 hospedarias, a ermida e uma igreja mandada construir em  gulo de 22m,80 por 10m,72 com quatro casas para residen-
                 1701 por D. Pedro II, consti-                                     cia do pharoleiro e deposito de
                 tuem actualmente o Santuário                                      azeite com tres tanques de pe-
                 de N. Sr.ª do Cabo Espichel,                                      dra, que podem receber 100
                 local muito demandado por                                         almudes ou 1695 litros de azei-
                 peregrinações.                                                    te. Todo este edificio é circum-
                  A construção do actual Farol                                     dado de um muro de vedação
                 do Cabo Espichel decorre do                                       com uma cancella de ferro
                 ímpeto reformista que decor-                                      para o lado do nascente.
                 reu do terramoto de 1755, em                                       N’este pharol não ha relogio
                 que o Marquês do Pombal cria,                                     para regular o serviço.
                 em 1758,  um Serviço de Fa-                                        (...)
                 róis organizado e manda cons-                                      Para o serviço d’este pharol
                 truir seis faróis. Data de 1790 a                                 ha só um pharoleiro, que tem
                 sua construção, a cerca de 600                                    um homem a quem paga para
                 metros do santuário. Pouco se                                     o coadjuvar, o que bem mostra
                 sabe do seu equipamento ini-                                      a necessidade de haver ali mais
                 cial, pelo que a primeira refe-                                   outro pharoleiro para se alter-
                 rência pormenorizada consta                                       narem n’aquele serviço, princi-
                 de um roteiro da nossa costa                                      palmente de noite.”
                 de 1812, considerando o edi-                                       O Plano de Alumiamento
                 fício “muito distincto e separa-                                  de 1883 definiu melhoramen-
                 do, elevado 620 pés, que póde                                     tos para este farol, pelo que a
                 avistar-se na distância de 30 milhas”.       Direcção Geral dos Correios, Telégrafos e Pharoes comuni-
                  Outro relato do Almirante Pereira da Silva, o primeiro ofi-  cou que, em 30 de Maio de 1886, o farol passaria a funcionar
                 cial da Marinha a assumir a responsabilidade pelo serviço  com uma nova lanterna, um aparelho iluminante de primeira
                 de faróis, descreve em 1865:                 ordem (920 mm de distância focal) rotativo com quatro cla-
                  “A luz d’este pharol é fixa e branca produzida por dezesete  rões, uma máquina de relojoaria para a rotação e um apa-
                 candieiros de Argant com reflectores parabolicos, distribuidos  relho iluminante utilizando a incandescência pelo vapor de
                 na respectiva árvore em tres ordens horisontaes, formando  petróleo. Foi também dotado de um sino como sinal sono-
                 um sector illuminado de 260º, com seis candieiros na pri-  ro, junto á falésia, que seria substituído por uma sereia a ar
                 meira ordem, cinco na segunda e seis na terceira tendo um  comprimido em 1925.
                 alcance de 13 milhas.                         Foram montados geradores em 1926 e em 1947 era ali
                  A lanterna que abriga o apparelho tem 6m,80 de altura  instalado o actual aparelho óptico, aeromarítimo com 300
                 com seis faces de 1m,30cada uma de largo. A cupula tem  mm de distância focal. Foi dotado de um transmissor de MF
                 uma chaminé no vertice que dá suficiente tiragem ao fumo;  constituindo um radiofarol entre 1948 e 2001.
                 mas faltam-lhe em roda tubos para a ventilação, e não tem   A rede pública de electricidade chegou ao farol em 1980
                 pára-raios.                                  e o farol foi automatizado em 1989 com a instalação de um
                  O edificio em que assenta a lanterna é uma torre hexagonal  novo sinal sonoro e mecanismos redundantes para a rotação
                                                formada de tres  e substituição de lâmpadas. Actualmente o farol é guarneci-
                  Local:   Cabo Espichel - Azóia  corpos cons-  do por três faroleiros.
                  Altura:  32 m                 truidos de gros-  Apesar de se situarem numa zona isolada, o Farol e o
                  Altitude: 168 m               sas paredes de  Santuá rio constituem um importante motivo de interesse da
                  Luz:     Fl Br 4s             alvenaria, que  região. No último verão realizaram-se palestras e visitas noc-
                  Alcance: 26 M                 apresentam  turnas ao farol, com cerca de um milhar de assistentes.
                  Óptica:   4ª Ordem 300 mm     talude no pri-
                  Ano:     1790                 meiro corpo in-                           Direcção de Faróis
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