Page 271 - Revista da Armada
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JS – Não, já fiz mais trabalhos por causa do  do dramaturgo alemão Tankred Dorst. Depois   RA – Está velho! (Risos)... Ouvimos, pela pri-
         próximo Dia da Marinha, em Sines. Ainda a  fiz «Abrigo» do albanês Kadare. A ópera, «Pino  meira vez, uma peça sua no São Luís e vi muitas
         propósito deste concerto, posso dar mais duas  do Verão», muito peculiar pois foi pensada para  pessoas compartilharem da nossa própria sur-
         vertentes do trabalho que desenvolvo com a  ser cantada na encosta, bastante íngreme, do  presa. Havia como que uma... força.
         Banda. Uma é o de conceber obras originais,  Castelo de Palmela e em que a orquestra está   JS – Procuro que a minha música seja mais do
         de cariz mais elaborado, para eventos especiais  distribuída por esse cenário natural.  que isso, que, com todas as minhas limitações
         como a Festa da Primavera do CCB.    RA –Integrado nas Festas de Palmela?  e condicionantes, possa de algum modo fazer
           RA – Lembro-me também do “De Profundis”   JS – Não. No FIAR (Festival Internacional de  reflectir sobre o mundo em que vivemos.
         para o concerto das Jornadas do Mar, na Escola  Artes de Rua), um grande evento anual. Nos três   RA – Recordamos, no caso, um texto intro-
         Naval, dedicadas a Pedro Nunes.    anos em que foi representada teve a presença,  dutório.
           JS – Exactamente. Uma outra vertente é a da  em média, de 3000 pessoas por récita.  JS – Foi lido no palco.
         recuperação e exploração de iconografia liga-  RA – Outras encomendas?   RA – Tem uma filha! Também tem uma edu-
         da ao mar, no plano musical, como é óbvio. É   JS – Sim, de instituições e de particulares, a  cação musical?
         o caso do arranjo “Navegar, Navegar”, também  que vou respondendo conforme possível.  JS – Sim, tem sete anos. Tem de ter. Todos os
         estreado nesse concerto.                                                dias toca um bocadinho de piano. A Mãe
           RA – E a sua experiência no campo didác-                              tocava-lhe piano ainda antes de nascer. Mas
         tico, não tem sido aproveitada na Banda?                                ainda não teve aquele clic... ainda não se vai
           JS – Adivinhou! De facto, este ano, va-                               sentar ao piano para se divertir.
         mos concretizar um projecto para sensibili-                               RA – O seu casamento tem, pois, que ver
         zação das crianças ao mundo da música e                                 com a Música.
         dos instrumentos de uma banda e também                                    JS – Sim! Aliás, começámos a namorar
         ao conhecimento e preservação dos recur-                                em Viena.
         sos do mar.                                                               RA – Ah! Bom! É o sítio ideal...
           Esse trabalho será inserido na relação que                              JS – Tocávamos já em Palmela. Ela fez o
         a Banda mantém com as escolas que a visi-                               curso de piano até ao quinto ano mas tocou
         tam no seu local de ensaio.                                             também clarinete e flauta na Banda que nes-
           RA – Na sede, à Praça da Armada, em                                   sa altura foi à Áustria.
         Alcântara, a Banda surpreendeu-me, mas                                    RA – Não sabíamos que a sua Mulher era
         doutro modo, num desses ensaios...  Jorge Salgeiro a ser entrevistado na Revista da Armada.  instrumentista.
           JS – Não são ensaios, são mesmo acções de   Este ano estrearei, na Madeira, uma obra   JS – Profissionalmente é licenciada em Die-
         sensibilização. É um concerto didáctico.  inspirada na sua descoberta que sob a minha  tética e trabalha num hospital.
           RA – Para escolas de Lisboa?     direcção será interpretada pela Banda daquela   RA – Uma educação musical parece-nos,
           JS – Não só. De todo o País. Marcam e vêm  Zona Militar juntamente com a Orquestra e os  hoje, fundamental. Penso em ... memória au-
         depois ao antigo Quartel de Marinheiros...  Coros do Gabinete Coordenador da Educação  ditiva e ...
           RA – A propósito, entrou com que posto?  Artística da Região no dia em que se comemo-  JS – Sim e também a memória visual (muito
           JS – Como Grumete fiz a recruta e na Ban-  ra a sua Autonomia.       importante par decorar partituras), a concen-
         da como 1.º Marinheiro e já sou 1.º Sargento   A Orquestra de Jovens da Suíça encomen-  tração, a coordenação psicomotora, a sensibi-
         desde 1994.                        dou-me um concerto para tuba a estrear em Ju-  lidade expressiva e auditiva, o sentido crítico e
           RA – O Quadro comporta quantos Oficiais?  lho, naquele país. São trabalhos esporádicos...  o gosto pela cultura. Tanta coisa…
           JS – Três, agora vai haver um concurso públi-  RA – Tem alguma relação com a Suíça?  RA – O trabalho em equipa ... Tem, ao que
         co para o terceiro.                  JS – Não. A ideia nasceu do solista, o tubis-  vemos, duas condecorações.
           RA – Como é esse concurso em termos  ta Sérgio Carolino, que é um virtuoso portu-  JS - São as Medalhas da Cruz Naval de 4ª clas-
         musicais?                          guês com carreira internacional e que irá es-  se, que recebi em 1995 e em 2005.
           JS – A componente musical principal é a di-  trear a obra.            RA – Esta, na Figueira da Foz.
         recção de banda. É uma carreira completamente   RA – É pois mais uma internacionalização...  JS – Durante a cerimónia que decorreu an-
         diferente que obriga ao estudo da obra de outros   JS – Tenho algumas obras minhas tocadas lá  tes do desfile.
         compositores e a uma absorvente dedicação à  fora e contactos com editoras, nada de gran-  RA – E Louvores! Do de 95 destaco: «Apesar
         carreira militar e de direcção de banda.  de relevo.                  da sua juventude... invejável curriculum... vasta
           RA – Tenho a impressão que algo nos está   RA – Penso que em Nova Iorque?  obra produzida e a integração em diversas or-
         a escapar...                         JS – Na Califórnia, por uma orquestra uni-  questras... elevado nível técnico... /contribuin-
           JS – Talvez a minha actividade, a que faço  versitária.             do/ para a imagem e competência da /Banda
         com regularidade, de escrita de música para   RA – Como é que isso tem acontecido?  e da/ Marinha...» e do de 2001, que reforça o
         teatro,...                           JS – De várias maneiras. Na EXPO 98, um  de 95, respigo «... militar muito determinado...
           RA – Isso mesmo... o «Ensaio Sobre a Ce-  maestro americano, agradavelmente impres-  espírito de missão, zelo e sentido das respon-
         gueira», do Saramago, que vimos em Palmela.  sionado, seleccionou música erudita portugue-  sabilidades... sem regatear qualquer tipo de
           JS – Levado à cena pelo Grupo de Teatro «O  sa na Sociedade Portuguesa de Autores e, lá, a  disponibilidade. ...» sublinhando «as qualida-
         Bando» de que sou membro da Direcção Artís-  executou. Como?...       des... humanas...» que registamos e sabemos
         tica desde 2000 e que também foi representada   RA – Nada, continue!  ser o timbre da sua personalidade.
         no Teatro Nacional de São João no Porto, e em   JS – Na Europa, editoras de música para   Na sua idade, com mais de 140 obras, temos
         Lisboa, na Culturgest e no Trindade.  Bandas conhecem-na através de alunos portu-  todos muito a esperar de si. Com os nossos sin-
           RA – Ficou-se por aí ...?        gueses, como na  Holanda, ou porque a obra  ceros votos um sonoro Bem-haja!!!
           JS – ...e que foi gravado pela Orquestra Na-  é tocada em concursos para Bandas, muito fre-  Permita, porém, que nos felicitemos também
         cional do Porto. A par, estou a fazer um estudo  quentes na Europa Central. Tenho obras edita-  por ter recebido, mais do que o reconhecimen-
         sobre a música para teatro que deve ficar con-  das na Holanda e na Alemanha e agora a «Foco  to, o estímulo de quem estava em condições
         cluído daqui a dois anos.          Musical» está em contacto, como disse, com  de o avaliar.
           RA – Sim? Referia-me ao teatro.  uma editora espanhola. As coisas têm aconte-                       Z
           JS – Ah! Musiquei cerca de 10 peças. «Mer-  cido... devagar.              Dr. Rui M. Ramalho Ortigão Neves
         lim», sobre a saga dos Cavaleiros da Távola Re-  RA – Que idade tem?  Nota:                      1TEN REF
         donda, foi o meu primeiro trabalho, com texto   JS – Tenho 36.        1  Ver RA n.º 366 de Julho de 2003.
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