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PONTO AO MEIO DIA
NRP “Almirante Gago Coutinho”
Um reforço significativo da capacidade hidro-oceanográfica nacional
ompete à Marinha garantir as capa- da extensão da plataforma continental, cam- xiliares de Marinha adaptadas para traba-
cidades necessárias para executar as panhas para o estudo do canhão da Nazaré, lhos de hidrografia e oceanografia . Este
Coperações de carácter militar e dis- apoio ambiental a operações navais e apoio conjunto de meios operacionais virá facili-
por de meios, com capacidade oceânica e à comunidade científica nacional. tar o cumprimento dos objectivos estabele-
costeira para, complementarmente, execu- O NRP “Almirante Gago Coutinho” foi cidos na Directiva Sectorial Oceanográfica
tarem outras tarefas de serviço público. transferido para Portugal em 2000, estan- e Hidrográfica, aprovada pelo Almirante
Os navios hidrográficos da Marinha exe- do actualmente na fase final do processo de CEMA em 2006. No contexto presente im-
cutam actividades relacionadas com as ci- conversão em navio hidro-oceanográfico. porta assegurar o equilíbrio entre o empre-
ências e técnicas do mar, tendo em vista a Para além de equipamentos idênticos aos go estritamente militar dos navios da classe
sua aplicação militar e contribuem, comple- existentes no NRP “D. Carlos I”, financia- “D.Carlos I” e a sua utilização técnico-cien-
mentarmente, para o desenvolvimento do dos pelo MDN/ Estrutura de Missão para tífica civil, seja no âmbito das actividades
País nas áreas científica e da defesa do am- a Extensão da Plataforma Continental e ins- hidro-oceanográficas do Instituto Hidro-
biente marinho. talados pela Marinha , foi equipado com gráfico, seja no apoio à comunidade cientí-
O Agrupamento de Navios Hidrográficos novos sistemas para trabalhos de geofísica fica nacional ou na execução de acções de
dispõe de quatro navios: dois com capacidade e geologia marinha, designadamente um política externa nacional. Nesta perspecti-
costeira, NRP “Andrómeda” e NRP “Auriga” “Sub-Bottom Profiler” e um guincho para va, a eventual utilização destes navios em
(classe Andrómeda) e dois navios oceânicos, efectuar recolha de amostras geológicas do missões NATO (por exemplo, apoio de “Ra-
NRP “D. Carlos I” e NRP “Almirante Gago fundo do mar. Com a sua configuração o pid Environmental Assessment” (REA) in-
Coutinho” (classe D. Carlos I). O emprego NRP “Almirante Gago Coutinho” garan- tegrado na NATO RESPONSE FORCE) ou
operacional destas unidades navais abrange te complementaridade com o outro navio a sua utilização em missões de cooperação
a execução de um amplo conjunto de tare- da classe nos domínios da geofísica e geo- no espaço lusófono, deverá ter necessaria-
fas, designadamente no âmbito da instrução, logia marinha. Até finais de 2008 prevê-se mente em atenção a contribuição a prestar
da oceanografia, da hidrografia, do assinala- um elevado empenhamento operacional do à comunidade científica prevista no proto-
mento marítimo e da monitorização ambien- navio, maioritariamente em apoio aos tra- colo anteriormente referido, bem como as
tal. Sob o comando operacional do Comando balhos em curso para a extensão da plata- missões do Plano de Actividades do Insti-
Naval, os navios hidrográficos estão coloca- forma continental portuguesa. Saliente-se tuto Hidrográfico.
dos na subordinação directa do Instituto Hi- que, desde 2004, e no âmbito deste projecto, O cenário descrito constitui um ambi-
drográfico (IH) no que respeita aos aspectos o NRP “D. Carlos I” já efectuou a cobertura cioso desafio para o futuro das actividades
técnicos da execução das suas missões. do fundo do mar numa área equivalente a hidro-oceanográficas da Marinha. Haverá,
Os navios da classe Andrómeda entra- cinco vezes o território de Portugal. contudo, que ter em consideração: as longas
ram ao serviço na segunda metade da dé- Parte do investimento aplicado no equi- e continuadas tarefas a desempenhar pelos
cada de oitenta, tendo sido construídos no pamento do NRP “D. Carlos I”, e previsto dois navios oceânicos, tradicionais recordis-
Arsenal do Alfeite de acordo com requisi- efectuar ainda no NRP “Almirante Gago tas em horas de navegação anuais; os recur-
tos operacionais definidos pela Marinha. Coutinho”, resulta de financiamento já dispo- sos humanos qualificados e experimentados
São navios versáteis, capazes de embarcar nibilizado e a conceder pela Fundação para a para satisfazer as necessidades dos navios
e operar equipamentos diversificados , e Ciência e Tecnologia, de acordo com um pro- e das brigadas hidrográficas; a obtenção e
foram concebidos para operar em zonas tocolo celebrado em 1999. Como contraparti- manutenção de elevados padrões e qualifi-
costeiras e portuárias. São frequentemen- da, a Marinha assumiu atribuir, anualmente , cações do pessoal militar e civil da lotação
te utilizados por outros organismos de in- 75 dias de cada navio para missões em apoio do IH; e , não menos importante, a escassez
vestigação do Estado e fundamentais para da comunidade científica nacional. de pessoal técnico-científico apto a operar
o projecto das Rotas Seguras de Acesso aos No âmbito militar, o emprego dos navios alguns dos novos sistemas instalados e a
Portos Nacionais. hidro-oceanográficos no apoio ambiental instalar nos navios. Desejavelmente, a nova
A capacidade hidro-oceanográfica oceâ- às operações navais tem sido realizado lei orgânica do IH, compatibilizando o es-
nica reside nos navios da classe D. Carlos I, com sucesso durante os exercícios navais. tatuto de OCAD e de Laboratório do Esta-
dispondo estas unidades de sistemas e equi- As metodologias de avaliação e treino da do, permitirá a utilização de ferramentas de
pamentos “state-of-the-art”, desenvolvendo Flotilha foram bem assimiladas e permiti- gestão suficientemente flexíveis para torne-
a sua actividade ao nível dos melhores pa- ram elevar o desempenho global das suas ar algumas das dificuldades que se perspec-
drões de âmbito mundial. guarnições. A participação de um navio da tivam a curto e médio prazo. A Marinha e o
O NRP “D. Carlos I”passou ao estado cl asse D. Carlos I no “Hydrographic Ope- País muito terão a ganhar com um Instituto
de armamento em 1997 e concluiu a sua rational Sea Training” (HOST) no Reino Hidrográfico apostado em continuar a de-
adaptação a navio hidro-oceanográfico em Unido, a efectuar assim que o planeamen- sempenhar um papel de excelência na in-
2004. Foi equipado com um sistema son- to operacional e os recursos o permitam, vestigação do mar e uma capacidade naval
dador multifeixe, perfiladores acústicos de constituirá uma oportunidade de inovação hidro-oceanográfica dotada de meios huma-
correntes, guinchos oceanográficos, apare- e melhoramento que produzirá reflexos po- nos e materiais prontos, disponíveis e aptos
lhos de força e novos laboratórios. Desde sitivos na operação dos demais navios do a satisfazer as reais necessidades das comu-
Maio de 2004, com a actual configuração, Agrupamento de Navios Hidrográficos. nidades , militar e civil, que servem.
tem vindo a efectuar múltiplas missões de A partir do segundo semestre de 2007 a Z
carácter científico, com destaque para os le- Marinha passará a dispor de quatro navios José Augusto de Brito
vantamentos hidrográficos para o projecto hidro-oceanográficos e de três unidades au- VALM
4 JULHO 2007 U REVISTA DA ARMADA