Page 217 - Revista da Armada
P. 217

Setting Sail
                                   Setting Sail








              14. LUGRE-PATACHO


              A denominação lugre-patacho classifica todo e qualquer veleiro cujo apare-  pode ser rebatido, sendo que os gonzos constituem uma espécie de dobradiça
            lho acomode três ou mais mastros, na condição de que no de vante – traquete   ou articulação pesada. Embora pouco exacta, esta expressão pode igualmente
            – se encontrem dispostas vergas redondas em toda a sua extensão. Por isso, neste   ser ouvida para caracterizar o mastaréu de arriar.
            mastro, enverga pano daquela sorte, ao passo que nos demais conta com pano
            latino quadrangular, por norma armado com retranca e carangueja. Além das   Mastaréus – Pau da bujarrona (E), mastaréu de velacho (F), mastaréu de joa-
            mencionadas velas, esta armação dispõe ainda de pano latino de proa, velas de   nete (G), gavetope do grande (H) e gavetope da mezena (I).
            entremastro – estas apenas caçadas no intervalo entre os dois mastros situados
            mais a vante –, e ainda gavetopes, que trabalham em todos os mastaréus à ex-  Mau de vela – Esta expressão pode ser utilizada com vários sentidos, com
            cepção do de vante, recebendo aqueles paus idêntica designação.  o intuito de qualificar o navio que anda pouco à vela, o que se encontra ve-
              Tal como sucede com outros dois casos que abordaremos proximamente,   licamente desequilibrado, ou ainda aquele que, navegando à vela, arriba ou
            também a denominação desta armação surge a partir da justaposição de dois   abate muito.
            termos – lugre e patacho –, que, de per se, como vimos anteriormente, caracte-
            rizam já diferentes aparelhos de veleiro. Compreensivelmente, por isso, o navio   Popa arrasada – Diz-se do navio que navega com o vento entrando exacta-
            desta maneira apelidado reúne características que encontramos nessas mesmas   mente pela popa, ou cuja marcação vale 180 graus. Embora pouco usual, esta
            armações. Assim, ao patacho, vai buscar a existência de pano redondo no mas-  mesma expressão pode ainda ser usada para definir a direcção exacta de popa
            tro de vante, enquanto que da parte do lugre herda o pano latino quadrangular   à proa, com origem na popa do navio.
            e gavetopes, presentes nos demais mastros.
              Em nossa opinião esta denominação não passa de um preciosismo, ou de   Repicar – Acção exercida quando se entra com o cabo denominado adriça
            uma forma refinada para qualificar este tipo de armação, reduzindo-se, no es-  do pique, cuja finalidade é tão só içar um pouco mais o penol de uma caran-
            sencial, a diferença, entre o patacho e o lugre-patacho, ao simples facto de o   gueja, e à qual geralmente se recorre com vento mais forte, de maneira a dimi-
            primeiro apenas contar com dois mastros, podendo, o segundo, dispor de três   nuir o saco formado pela vela.
            ou mais antenas.
                                                               Repique (α) – Nome dado ao ângulo que a carangueja forma com o respectivo
              Bom de bolina – Diz-se do navio que navega bem com vento escasso, não   mastro. Quando esse ângulo é pequeno, ou quando a vela se encontra excessi-
            se verificando, nessa situação, abatimento apreciável nem registo de quebra   vamente direita ou sem saco, diz-se que está muito repicada. Quando se nave-
            acentuada na sua velocidade.                      ga com vento fraco ou brisa, é conveniente atenuar o repique, que tem como
                                                              consequência o aumento do saco da vela, maximizando nestas condições o seu
              Enfunar – Acção do encher das velas por acção do vento. De uma vela cheia   rendimento em benefício de uma maior velocidade do navio.
            e com grande saco diz-se que tem grande enfunamento.
                                                               Superfície vélica – A forma curvilínea que as velas adquirem quando cheias
              Entesourar – Dispor as velas latinas quadrangulares na denominada posição   torna esta designação mais adequada para classificar a dimensão da respecti-
            de asa-de-pombo, mareação por vezes utilizada, embora perigosa, quando se   va face do que a muito propalada área vélica. Esta última pressupõe o seu de-
            navega com o vento no sector da popa. Esta mareação caracteriza-se pelo fac-  senvolvimento em apenas um plano, o que manifestamente está longe de se
            to de, nas citadas circunstâncias, uma das velas armar para bombordo e outra   ajustar à realidade.
            para estibordo, eventualmente uma para barlavento e outra para sotavento, caso
            não se navegue exactamente à popa arrasada. Os termos tesoura, em borboleta   Tomadouro – Cabo de pequena bitola que se enrola em volta do mastro ou
            ou dois-ventos podem também ser empregues com o objectivo de caracterizar   verga, contra estes ferrando ou abafando a vela, por intermédio das denomina-
            esta mesma mareação.                              das voltas de tomadouro.
              Ensacar – Atribui-se este termo quando a vela faz bojo excessivo, poden-  Velas de proa – Vela de estai (1), bujarrona de dentro (2), bujarrona de fora
            do este resultar de duas situações distintas. Em primeiro lugar pelo facto de a   (3) e giba (4).
            vela se encontrar mal confeccionada, resultando daqui maior ou menor grau
            de deformação da sua superfície. Por outro lado, o ensacar pode ser meramen-  Velas do traquete – Traquete redondo (5), velacho baixo (6), velacho alto (7)
            te provocado pela simples razão de a vela se encontrar mal mareada, para as   e joanete de proa (8).
            condições de vento existentes (marcação e intensidade). Noutro contexto, esta
            palavra pode prefigurar a situação em que se encontra um navio que não con-  Velas do grande – Vela grande (9) e gavetope do grande (10).
            segue montar a linha que une duas pontas de terra ou cabos. Diz-se então que
            este se encontra ensacado.                         Velas da mezena – Mezena (11) e gavetope da mezena (12).
              Estiramento da vela – Aumento da superfície de uma vela, geralmente as-  Velas de entremastro – Vela de estai de gávea (13), formosa (14) e vela de
            sociado à deformação que esta sofre pelo uso intensivo e/ou prolongado, po-  estai do gavetope (15).
            dendo ainda este efeito ficar a dever-se à menor qualidade do pano utilizado
            na sua confecção.                                  Vela angulada (16) – Nome dado ao pano latino triangular em que os painéis
                                                              que a constituem são, na parte inferior paralelos à esteira e na parte superior
              Joanete – Este termo tanto qualifica o mastaréu que espiga a partir do masta-  paralelos à valuma. A junção destes, sensivelmente a meio da vela, dá origem
            réu de gávea e do velacho, como designa o pau e respectiva vela redonda que   a uma costura perpendicular ao gurutil, conferindo um certo reforço ao próprio
            o cruza, sendo que este, contando de baixo, num navio sem vergas dobradas,   punho da escota.
            corresponde à terceira verga.
                                                               Velas de reger – Nome pelo qual, nas armações latinas, são conhecidas as
              Latino grande – Vela latina quadrangular, dispondo de retranca e carangue-  velas içadas nas extremidades de um veleiro, como são os casos da giba, bu-
            ja, que enverga pela testa por ante a ré do mastro grande, no caso vertente, se-  jarrona, mezena e gavetope. São assim chamadas porque a sua acção exerce
            gundo mastro a contar de vante. É também conhecida como vela grande, vela   grande influência sobre o governo e a manobra do navio.
            mestra ou vela principal.
                                                                                           António Manuel Gonçalves
              Mastros – Gurupés (A), traquete (B), grande (C) e mezena (D).                               CTEN
                                                                                                am.sailing@hotmail.com
              Mastaréu de gonzos – Designação pela qual é conhecido o mastaréu que               Desenho: Aida Colaço
   212   213   214   215   216   217   218   219   220   221   222