Page 225 - Revista da Armada
P. 225

foram por muitos anos a Europa fora da Europa,  levantes. Mas a verdade é que não só o nosso pa-  assim como do património que herdámos, são
         o rosto visível da civilização europeia nos quatro  trimónio ligado ao mar se encontra sub-aprovei-  dois elementos decisivos para o reforço da nossa
         cantos do mundo.                   tado, como a própria ligação dos Portugueses ao  identidade comum.
           A Europa é, naturalmente, o nosso espaço geo-  mar se caracteriza por um certo alheamento.  É preciso não abandonar, nem perder de vis-
         gráfico, político e cultural. No mapa que Fernan-   Tanto no passado como em anos recentes, rea-  ta, aquilo que fomos, se queremos estar à altura
         do Pessoa imaginou, em versos bem conhecidos,  lizaram-se inúmeros estudos sobre a aposta por-  das nossas responsabilidades, individuais e colec-
         a Europa fita o Ocidente e «o rosto com que fita  tuguesa no mar. Já se identificaram, em diversas  tivas, para que Portugal continue a ter uma pre-
         é Portugal».                       ocasiões, as facetas e as virtualidades daquilo a  sença marcante no concerto das nações.
               ... ...                      que muitos designam pelo«cluster do mar».  Conforme tive oportunidade de lembrar na
           A nossa proximidade geográfica em relação   Mas não basta o mero sublinhar do nosso po-  mensagem de Ano Novo, “para estarmos entre
         ao Atlântico, que permitiu a gesta dos descobri-  tencial, nem a retórica das virtualidades da apos-  os melhores, devemos ter a ambição de estabe-
         mentos, constitui hoje, porventura mais do que  ta no mar. É preciso passar à acção, tirar partido  lecer metas exigentes, que a todos comprome-
         nunca, um potencial que ainda não fomos capa-  das oportunidades geradas pela economia do  tam e responsabilizem”. Repito: “todos”. A tare-
         zes de explorar como devíamos. Foi por conhe-  mar e enfrentar, com determinação, as ameaças  fa é de todos.
         cermos o mar como ninguém que conseguimos,  que sobre ele impendem, tais como a poluição,   Neste Dia de Portugal, de Camões e das Co-
         no passado, ir tão longe.          as alterações climáticas e o desordenamento da  munidades Portuguesas, devemos olhar o pas-
           Há todo um conjunto de factores históricos,  orla costeira.         sado como uma prova de que podemos fazer
         económicos, ambientais e científicos para que   Tenciono dedicar a próxima Jornada do  mais e melhor no futuro.
         Portugal encontre novamente no mar um dos  Roteiro para a Ciência às Ciências e Tecnolo-  Sei que o podemos fazer. Sei que podemos
         seus mais importantes vectores de afirmação e  gias do Mar. Terei, certamente, oportunidade  vencer as dificuldades de hoje. Sei que podemos
         desenvolvimento.                   de mostrar os bons exemplos de investigação,  deixar aos Portugueses de amanhã um Portugal
           Dispomos de uma das maiores Zonas Econó-  desenvolvimento e inovação que existem nes-  digno da sua história.”
         micas Exclusivas da Europa, de um património  te domínio.               Seguiu-se a cerimónia de entrega de condeco-
         oceânico que é único e de recursos geológicos,   ... ...              rações a personalidades civis e militares.
         minerais, biotecnológicos e energéticos muito re-  A preservação do espaço que habitamos,             Z



             14º ENCONTRO NACIONAL DE COMBATENTES
             14º ENCONTRO NACIONAL DE COMBATENTES

                 Homenagear os heróis do passado com o olhar no futuro

               ecorreu em 10 de Junho, Dia                                         de Janus: vendo o passado e perscrutan-
               de Portugal, em Belém, o já tra-                                    do o futuro”.
         Ddicional Encontro Nacional de                                              Os momentos mais emotivos foram
         Combatentes que ali juntou milhares de                                    vividos a seguir com a Homenagem aos
         cidadãos, sobretudo antigos combaten-                                     Mortos em Combate, marcada pelos cla-
         tes e seus familiares                                                     rins a tocarem a silêncio, que seria que-
           As celebrações foram precedidas por                                     brado pelo vibrante toque de alvorada a
         uma missa muito participada na Igreja dos                                 glorificar também o futuro. As coroas de
         Jerónimos e constaram de um programa                                      flores vieram depois marcar a homena-
         que teve por ambiente a zona ribeirinha                                   gem de individualidades e instituições
         junto ao Monumento aos Combatentes.                                       presentes.
         Aí, as cerimónias foram iniciadas pelo                                      A emoção visível no rosto dos Antigos
         Presidente da Comissão Executiva do                                       Combatentes acentuar-se-ia com a lei-
         14º Encontro, o Almirante Vieira Matias,                                  tura de um poema de Viçoso Caetano,
         que, numa breve alocução, deu as boas vindas  era notória a presença de muçulmanos, sobre-  como que preparando para o imediato entoar
         aos Antigos Combatentes, aos convidados de  tudo de origem africana.  em coro do Hino Nacional, tocado pela Ban-
         honra, com realce para o Secretário de Estado   Falou a seguir o orador convidado, Prof.  da do Exército e liderado pela excelente voz
         da Defesa Nacional e dos Assuntos do Mar,  Doutor Ernâni Lopes, que com o brilho e a  da cantora Alexandra. Ao mesmo tempo, uma
         em representação do Ministro, que incluíam  profundidade que lhe são reconhecidos se-  corveta da Marinha, o NRP “Afonso Cerquei-
         ex-Chefes do Estado-Maior das Forças Arma-  guiu o conceito de honrar o passado com uma  ra”, salvava com 21 tiros e aeronaves da Força
         das, condecorados com a Torre e Espada, Pre-  visão prospectiva. Disse, a abrir, que por não  Aérea, algumas delas velhas companheiras de
         sidente da Liga dos Combatentes, “sponsors”,  ter sido combatente: “Não vos posso falar de  África, sobrevoavam o local.
         antigos oradores, etc. O Almirante salientou a  operações militares em que tenha participado;   A expressão do sentir dos participantes,
         importância de relembrar à nossa sociedade  quero falar-vos como mais um cidadão entre  Antigos Combatentes ou familiares dos Mor-
         os sacrifícios, às vezes extremos, que muitos  nós - que todos o somos. O que nos irmana  tos, teve continuidade na deposição indivi-
         Portugueses fizeram ao longo da nossa história  é o sentido do dever para com a Pátria, o sen-  dual de flores junto ao Monumento. Muitos
         para que hoje possamos ter a força moral e o  tido de responsabilidade de cidadania”;….”  ramos ou singelas flores foram homenagem
         orgulho nacional necessários à construção de  Não vos falo do passado; quero, absolutamen-  aos que “apenas ajoelharam perante o altar
         um amanhã cada vez mais digno e prestigian-  te, falar-vos sobre o futuro”.  da Pátria”.
         te para Portugal.                     O orador desenvolveu, depois, o seu racio-  A encerrar as cerimónias houve uma lar-
           Na linha de Encontros anteriores, seguiu -se  cínio, afirmando: “O vosso combate em Áfri-  gada de pára-quedistas militares, a marcar
         uma cerimónia inter religiosa com orações  ca não pode ser visto no quadro limitado da  também o início do convívio que se iria pro-
         proferidas por um Capelão católico da Mari-  circunstância histórica de 1961 a 1974”….”O  longar pela tarde nas zonas envolventes ao
         nha e pelo Iman da Mesquita de Lisboa, em  vosso esforço não foi perdido, nem inútil, nem  Monumento com merendas e refeições ad-
         memória de Católicos e de Muçulmanos que,  vazio; ele insere-se num longo processo his-  quiridas no local.
         juntos, morreram por Portugal. Na assistência,  tórico inevitavelmente revestido das 2 faces          Z
                                                                                        REVISTA DA ARMADA U JULHO 2007  7
   220   221   222   223   224   225   226   227   228   229   230