Page 325 - Revista da Armada
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Setting Sail
                                   Setting Sail








              17. BARCA


              O termo barca caracteriza todo e qualquer veleiro de três ou mais mastros,  pectiva manobra e maior resistência do pano com vento forte, nesse espa-
            no pressuposto de que em todos eles cruza vergas redondas em toda a sua   ço foi acrescentada mais uma verga, passando doravante essas vergas a ser
            extensão, à excepção do situado mais a ré (mezena), nelas largando pano   conhecidas como gávea baixa e gávea alta. Com o mesmo significado po-
            de igual feitio. Esta armação conta ainda com velas latinas triangulares, tanto  dem ser utilizadas as expressões vergas dobradas ou vergas volantes, sendo
            à proa como envergadas nos respectivos estais de entremastro.  o último termo sinónimo de verga móvel.
              No mastro da mezena deita pano latino, geralmente uma vela quadran-
            gular, que recebe o nome do mastro, e ainda uma vela triangular a que   Lanzudo – Coxim com mealhar que envolve alguns cabos fixos do apa-
            chamamos gavetope. Como se depreende, este tipo de aparelho apenas   relho, nomeadamente ovéns e estais, actuando como uma espécie de de-
            difere da galera pelo facto de envergar pano latino no mastro situado mais   fensa, com o intuito de proteger as velas quando estas neles roçam. Também
            a ré. Resta dizer, que de acordo com a documentação e iconografia, esta   conhecido como lanudo ou coxim da enxárcia.
            armação é muito antiga, embora, como variante da galera, que surgiu com   Mastros – Gurupés (A), traquete (B), grande (C) e mezena (D).
            o objectivo de minimizar o número de elementos das tripulações e cortar
            despesas, o aparelho de barca só se impôs, tal como hoje o conhecemos, a   Mastaréus – Velacho (E) e gávea (F).
            partir de 1840. Na sua versão mais arcaica, parece ter inspirado os navios
            do Mediterrâneo, nomeadamente os egípcios, romanos e fenícios. Por ou-  Mezenas partidas – Quando o espaço entre a retranca e a verga onde
            tro lado, combinando elementos destes com os das embarcações vikings,   corre a esteira do gavetope se encontra dividido por uma segunda caran-
            julga-se ter estado na génese da coga, nau, galeão e mesmo das primeiras   gueja, regra geral para facilidade da manobra e optimização da mareação,
            fragatas construídas no sul da Europa.            passam aí a envergar duas velas, designadas, respectivamente, de mezena
              Quanto à etimologia, esta designação confunde-se com a mais remota   baixa e mezena alta. Nesta situação dispensa-se a existência da mezena de
            navegação levada a cabo pelo Homem, sendo habitual ouvi-la também   tempo, uma vez que em caso de temporal se pode optar por caçar apenas
            como sinónimo de navio ou barco. Porém, tudo indica que tenha chegado   um dos panos. A expressão mezenas dobradas é utilizada com significado
            até nós por via do latim tardio barcae, ou mais provavelmente pelo latim   equivalente. Cumpre referir, que a existência de mezenas partidas foi uma
            vulgar barica. Em qualquer dos casos, ambas as palavras latinas terão deri-  variação introduzida nos seus navios pelos grandes armadores alemães,
            vado do grego bâris ou bârisidos, embora subsista um amplo consenso re-  com o objectivo de minimizar as tripulações das grandes barcas de quatro
            lativamente ao facto do termo ter tido origem egípcia.  e cinco mastros, sendo por isso conhecida internacionalmente por mezena
              Por seu turno, a expressão «deitar a barca», era antigamente utilizada   alemã – german spanker.
            quando se pretendia avaliar a velocidade do navio, lançando à água a de-  Toca-brióis – Designação atribuída ao marinheiro que sobe ao mastro
            nominada barquinha e medindo o comprimento da linha desenrolada num   com a função de folgar o tirador dos brióis, para que a vela, quando caça-
            período de 15 segundos, recorrendo ao auxílio de uma ampulheta gradua-  da, fique com a sua superfície perfeitamente estendida. Por vezes torna-se
            da para esse efeito.                              necessária a sua acção, nomeadamente quando se larga o pano com ven-
              Em virtude de no próximo dia 30 de Outubro se celebrarem os setenta
            anos do NRP Sagres, decidimos, por isso, eleger o desenho do aparelho da   to fraco, uma vez que a sua intensidade, por si só, não consegue vencer a
                                                              resistência dos próprios cabos e inércia dos respectivos aparelhos de força,
            «nossa barca», como base aos comentários sobre esta armação.
                                                              para enformar a vela.
              Bujarrona – Vela de proa triangular que enverga em estai com o mesmo   Velachos – Nome dado ao conjunto das denominadas gáveas de proa,
            nome, encontrando-se este localizado entre o estai da denominada vela de   conhecidas individualmente como velacho baixo e velacho alto.
            estai e o estai da giba, recebendo o último a vela de proa localizada mais a
            vante. Normalmente, de entre todas as velas de proa, a bujarrona é aquela   Velas de proa – Vela de estai (1), bujarrona de dentro (2), bujarrona de
            cuja superfície é de maiores dimensões. Nos navios que contam com qua-  fora ou contrabujarrona (3) e giba (4).
            tro panos de proa, como é o caso do navio-escola Sagres, ambas as velas do
            meio tomam a designação de bujarronas, sendo que, para as destrinçar, são   Velas do alto – Nome habitualmente utilizado para caracterizar as velas
            utilizados os termos bujarrona de dentro ou bujarrona baixa, para aquela   mais altas envergadas num veleiro redondo, sobre-joanetes no caso verten-
            que se situa mais a ré, e bujarrona de fora ou bujarrona alta, para classificar   te. Em sentido lato pode considerar-se sinónimo de crista, não obstante esta
            a que é caçada mais a vante. Embora constitua termo de utilização pouco   última denominação ser um pouco mais abrangente, englobando, inclusi-
            corrente, esta última pode também ser apelidada de contra-bujarrona.  vamente, os latinos altos – leia-se entremastros: estai do galope do grande
                                                              e estai do galope do gavetope –, e ainda o gavetope e a giba.
              Contrabracear – Acção que visa bracear a bordos opostos as vergas do
            mastro grande e as do traquete, nomeadamente quando se pretende atra-  Velas do traquete – Traquete redondo (5), velacho baixo (6), velacho alto
            vessar o navio. Este termo pode igualmente ser utilizado nas situações em   (7), joanete de proa (8) e sobre-joanete de proa (9).
            que se pretende bracear as vergas de um mastro ao bordo contrário àquele   Velas do grande – Vela grande ou grande redondo (10), gávea baixa (11),
            em que estas se encontram braceadas.
                                                              gávea alta (12), joanete do grande (13) e sobre-joanete do grande (14).
              Gáveas – Nome pelo qual é conhecido o conjunto das quatro velas e/ou
            vergas dos velachos (mastro do traquete) e das gáveas (mastro grande) pro-  Velas da mezena – Mezena baixa (15), mezena alta (16) e gavetope
            priamente ditas. No entanto, pode também ser utilizado para caracterizar   (17).
            apenas as duas velas/vergas do mastro grande, sendo que as correspondentes   Velas de entremastro – Vela de estai de gávea (18), vela de estai do jo-
            velas/vergas do traquete habitualmente recebe a denominação de velachos,   anete grande (19), vela de estai do galope do grande (20), vela de estai da
            ou gáveas de proa. Embora sendo de utilização pouco frequente, as vergas/  mezena (21), vela de estai do gavetope (22) e vela de estai do galope do
            velas superiores podem igualmente ser chamadas de gáveas de cima.  gavetope (23).

              Gáveas partidas – Esta designação qualifica as duas vergas que existem
            no local onde antigamente apenas envergava uma única vela, denomina-           António Manuel Gonçalves
            da gávea. Pela necessidade de melhor gerir a superfície vélica em função                     CTEN
            da intensidade do vento, ao qual devemos ainda somar a vantagem na res-            am.sailing@hotmail.com
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