Page 177 - Revista da Armada
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A outra meia comissão era para ser uma in- perdição que assisti, já lá vão uns bons anos, tiva de entrar de serviço na manhã seguinte
teira, mas foi bruscamente interrompida por a um divertido diálogo entre os três guardas- acabaram por vencer a minha curiosidade,
um grande incêndio a bordo, durante uma -marinhas do navio e um grupo de belas “aves remetendo-me antecipadamente ao camaro-
estadia no porto da Horta. Não tem grande d’arribação”. Para impressionar as moçoilas, te. Também não me lembro do relato verbal
piada para ser aqui contada, apesar de, feliz- fazia-se um deles passar por um estudante que os protagonistas deste episódio posterior-
mente, não se terem registado vítimas. Passe- estrangeiro – italiano no caso em apreço -, mente terão feito na Câmara de Oficiais, mas,
mos, pois, adiante… funcionando os outros dois como intérpre- pelo andar da conversa, deduzo que a colhei-
Dizia eu, há pouco, que os Açores já não tes. Acontece que o jovem camarada não era ta dessa noite tenha sido proveitosa!
são hoje o “bicho-papão” que eram há duas propriamente fluente na língua de Dante Ali- E o que tem esta historieta a ver com os
ou três décadas, embora, mesmo nesses ghieri, pelo que todo o seu vocabulário se re- Açores?, perguntar-me-ão alguns. Bom, além
tempos, tivessem muitas facetas agradáveis duzia à duvidosa expressão “Per piaciare per do espaço físico em que ela se desenrolou
(decididamente, aqui não há espaço para mare!”, cujo significado desconheço (aliás, (que, admito, poderia muito bem ser o de
meios-termos: ou se amam ou se odeiam). A tal como ele ou como, provavelmente, qual- uma discoteca em Lisboa ou em Faro), tem,
vertente gastronómica foi, e continua a ser, quer verdadeiro italiano). Mas as “piquenas”, sobretudo, a ver com todo um modo de vida
um forte factor de motivação para a maruja- totalmente embevecidas, pareciam ignorar que se estabelece numa terra que adoptamos
da, descontando-se, com a devida indulgên- por completo este ínfimo pormenor, pedindo como nossa e que, simultaneamente, nos
cia, a criminosa proliferação da comida “de constantemente aos outros dois “guardas” que adopta, mesmo que seja a título temporário.
plástico” que acaba, fatalmente, por atingir lhes traduzissem os piropos dirigidos ao galã É essa identificação que faz com que muitos
os últimos recantos do Paraíso terrestre. Já o latino. E os improvisados intérpretes lá se es- sintam um nó na garganta ou derramem uma
ambiente nocturno sofreu um notório pro- forçavam por italianizar as frases encomenda- lágrima no momento de regressar à “Metrópo-
cesso de sofisticação com o advento de uma das, dando às palavras uma terminação que le”, levando no coração aquelas nove “ilhas
fresca e copiosa população estudantil atraída soasse de modo mais ou menos credível, do de bruma”. É por isso que faço questão de
pelos núcleos universitários entretanto instala- tipo “’Sta gajina ‘stá diciendo q’éz un tippo lá levar novamente os meus saudosos e nos-
dos. Graças a ela, aos copos e jantaradas foi munto bono.”. Claro que a resposta era, inva- tálgicos leitores. Mas isso já sucederá numa
acrescentado um vasto leque de diversões, riavelmente, o “Per piaciare per mare!”, que outra história…
onde pontua uma infinidade de discotecas e logo tratavam de traduzir para uma qualquer Z
de bares musicados. baboseira em Português. Não assisti ao fim da J. Moreira Silva
Pois foi, justamente, numa destas casas de cena, pois o cansaço acumulado e a perspec- CTEN
ENCONTRO NACIONAL DE COMBATENTES – 10 DE JUNHO DE 2008
¬ A Comissão Executiva do Encontro Nacional de Comba- terá lugar na véspera, dia 9 de Junho, no auditório 3 da Fun-
tentes 2008, dando continuidade ao espírito que nos anos an- dação Gulbenkian. Serão conferencistas os Professores Dou-
teriores presidiu a esta homenagem, promove, no próximo tores Adriano Moreira, Ferreira do Amaral, Joaquim Aguiar,
dia 10 de Junho, junto ao Monumento aos Combatentes do Nogueira Pinto e Carlos Gaspar, o General Espírito Santo, o
Ultramar, em Belém, Lisboa, o seu 15º Encontro Nacional. Embaixador Leonardo Matias e o Doutor Vítor Bento.
As cerimónias que ali terão lugar têm por objectivo come- O programa é o seguinte:
morar o Dia de Por- Dia 09
tugal e prestar home- 09H30 - Sessão de
nagem e não deixar abertura da Confe-
esquecer aqueles que rência;
tombaram em defesa Dia 10
dos valores e da pe- 10H30 – Missa no
renidade da Nação Mosteiro dos Jeróni-
Portuguesa. Por esta mos; Terno de clarins
razão é importante e Coral;
reunir o maior nú- 11H30 – Concen-
mero de Portugue- tração junto ao Mo-
ses, não só os que fo- numento;
ram combatentes no 12H00 – Cerimónia
ex-Ultramar e os que inter-religiosa (cató-
mais recentemente lica e muçulmana);
serviram em missão 12H10 – Discurso
de paz no estran- alusivo pelo Prof. Dr.
geiro, mas também João Luís César das
todos aqueles que, Neves;
amantes da nossa 12H20 – Homena-
História e envolvidos gem aos mortos e de-
na construção de um futuro mais próspero para a sociedade posição de flores;
portuguesa, queiram participar nesta cerimónias. 12H45 – Hino Nacional tocado pela Banda do Exército e
Este ano, pela primeira vez, a Comissão levará também a cantado por Dany Silva (acompanhado por elementos da Se-
efeito, em conjunto com a Revista Militar e a Associação dos lecção Nacional de Râguebi e por todos os presentes);
Antigos Auditores dos Cursos de Defesa Nacional, uma Con- 12H50 – Passagem de meios aéreos da FAP;
ferência subordinada ao tema “Os valores da nação e o papel 13H00 – Salto de Pára-quedistas;
das Forças Armadas nas sociedades desenvolvidas”, a qual 13H15 – Almoço-convívio (pode ser adquirido no local).
REVISTA DA ARMADA U MAIO 2008 31