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PÁGINA DA SAÚDE 10
A cardiologia no século XXI
A cardiologia no século XXI
m relação à cardiologia existem, como muitas vezes na vida, As consequências da obesidade e da hipertensão são devastado-
boas e más notícias. Assim, se por um lado a causa mais ras, levando a progressão galopante do processo aterosclerótico
Eimportante de mortalidade no mundo ocidental é doença (que vai espessar e ocluir artérias) e, por fim, à tal mortalidade
isquémica cardíaca e a hipertensão arterial a entidade nosológi- cardiovascular (vide figura 1)
ca mais comum – que em Portugal afecta cerca de 50 % de todos Percebemos, então, pelo explícito atrás, que a prevenção im-
os adultos – também é ver- plica uma grande alteração
dade que a cardiologia tem no estilo de vida. Desde logo,
sido, tecnicamente, das espe- cuidados na alimentação (bai-
cialidades cujas terapêuticas xa em gorduras saturadas de
(preventivas e curativas) mais origem animal – que poten-
evoluíram. cia níveis elevados de coles-
Na cardiologia é imperativa terol), promoção do exercício
a prevenção e esse é o grande regular (aérobico) e períodos
desafio das sociedades mo- livres de stress, para permitir
dernas, o que, na nossa opi- o equilíbrio, que contraria a
nião, extravasa largamente a Figura 1-Evolução, ao longo do tempo, da placa aterosclerótica coronária. hipertensão. Infelizmente, as
responsabilidade das profis- exigências do mundo moder-
sões ligadas à prestação de cuidados médicos. Na verdade, o ser no parecem muitas vezes evoluir em sentido contrário.
humano actual mantém ligações biológicas íntimas com os pri- Existem, porém, hoje fármacos paliativos (já que para a ateros-
meiros seres humanos. Estes foram geneticamente preparados clerose não há cura definitiva), que permitem uma grande longe-
para preservar energia, sob a forma de gordura (tecido adipo- vidade, dos quais sobressai a classe das estatinas (medicamentos
so). Assim, nas sociedades de caçado- que limitam o processo degenerativo
res-colectores, que fomos durante mi- aterosclerótico, a nível da artérias). Da
lénios, a alimentação rica em energia mesma forma, existem terapêuticas in-
era escassa, e mal distribuída no tempo, vasivas como a angioplastia coronária
de modo a que a espécie evoluiu para (tratamento das coronárias doentes por
armazenar em tempo de fartura, para via percutânea – sem cirurgia – através
gastar em tempos de escassez. – Ora, de visualização radiológica, como ex-
como sabemos, vivemos hoje em tem- presso na figura 2) e a cirurgia de bypass
pos de grande abundância alimentar e coronário, para casos mais graves, que
o organismo vai armazenando gordu- permitem – eles também - grande lon-
ra, principalmente gordura visceral (no gevidade.
abdómen). Na Marinha, acreditamos, particular
Existe, ainda, uma característica bio- atenção deve ser dada à atitude preven-
lógica que explica a grande prevalência tiva. Esta atitude passa por rastreios sis-
de hipertensão arterial: o mecanismo de temáticos ao pessoal no Activo (o que já
alarme que está presente em todos nós. vem acontecendo por acção do Centro
Novamente, os seres humanos primi- de Medicina Naval). Admite-se, que se
Figura 2 – Angiografia coronária – vide os traçados corresponden-
tivos tinham muitas ameaças. Evoluí- deve dar particular atenção à dieta e
tes às artérias coronárias (as artérias que irrigam o coração).
ram, deste modo, para um mecanismo criar, mesmo a bordo, condições para
dependente da adrenalina, que faz subir a pressão arterial, de a prática desportiva – o que hoje é possível através de uma bici-
modo a melhor alimentar os músculos – necessários para uma cleta estática, ou de um tapete rolante. No final, cada um deve
fuga rápida do perigo. Hoje com todo o stress, as buzinadelas, as ser responsável por si próprio neste desiderato: a protecção do
exigências do trabalho, esse mecanismo está em constante activi- seu coração. É, compreenderá o leitor, um tema de capital im-
dade, incrementado por doses elevadas de estimulantes (como portância…
a cafeína, por exemplo), potenciando a hipertensão arterial, que Z
parece ser uma (má) adaptação – ela também – à vida moderna. (Colaboração da DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE)
NOTÍCIA
FRAGATA “D. FERNANDO II E GLÓRIA”
¬ No passado dia 1 de Março abriu de novo ao público a Fragata D. Fernando II e Glória. Foto 1SAR FZ Pereira
Após dois anos de estadia no Arsenal do Alfeite para trabalhos de manutenção e pequenas
reparações, o Navio encontra-se de novo aberto a visitas encontrando-se agora em Caci-
lhas, em seco, numa das docas dos antigos estaleiros da Parry and Son.
as
O horário de visitas é das 10 às 17.00h diariamente, com excepção das 2 feiras e fe-
riados.
As entradas são gratuitas para todos os que pertencem à Marinha e seus familiares.
REVISTA DA ARMADA U MAIO 2008 27