Page 10 - Revista da Armada
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relação entre o beneficio operacional e “Concluídos 122 dias de missão como na- Flexibilidade, fiabilidade e iniciativa
o seu desgaste. vio-almirante do CTF 465 e como unidade lí- tornaram-se as palavras-chave para o
der da força naval da Operação ATALANTA, vosso navio, o qual esteve consistente-
Obviamente, que não nos podemos vocês merecem o vosso regresso a casa. Ao mente na linha da frente com novas e
esquecer de todos aqueles que, em sair da Área de Operações podem fazê-lo inovadoras soluções para resolução dos
Portugal, apoiaram logisticamente o na- com orgulho pelo excelente serviço que o problemas colocados por um adversário
vio. Mesmo a milhares de quilómetros navio e a sua guarnição proporcionaram na astuto, e a vossa flexibilidade e energia
de distância, e este é sem duvida um liderança desta operação desde o início. foram inspiradoras.
dos grandes desafios inerente às mis-
sões “fora-de-área”, foi possível manter Estou certo que partem da área de
uma assinalável taxa de disponibilida- operações com um misto de emoções,
de dos diversos sistemas e equipamen- que se por um lado anseiam um mere-
tos em prol do cumprimento da missão. cido regresso a casa, por outro deixam
A todos vós um grande Bem Hajam. um sentimento de pesar ao abandonar
uma missão cuja diferença é sentida
Por último, gostaria de transcre- na segurança e bem-estar de todos os
ver parte da mensagem pessoal para a fra- marinheiros que aqui navegam.
gata “Vasco da Gama”do Comandante da Em nome dos 284.000 marinheiros que
Operação ATALANTA, Contra-almirante da a bordo de 14.200 navios mercantes tran-
Royal Navy Duncan Potts, sediado no Quartel- sitaram pela área de operações durante o
General em Northwood, Inglaterra. vosso quarto, e dos milhares de somalis
que continuam a receber preciosa ajuda
Colaboração do Comando do humanitária, agradeço-vos por todo o
NRP VASCO DA GAMA vosso esforço. BZ.”
A27 de Fevereiro último, Portugal e a MARY GIGLITTO serviço de Espanha foi o primeiro europeu a
Marinha em particular, perderam uma pisar as terras do Oeste dos Estados Unidos,
aliada incondicional. chegando posteriormente a directora do depar- também se ficou a dever à entusiástica e vi-
Conhecia-a creio que no ano de 1986, no tamento escolar. sionária actividade da Mary. A criação de um
gabinete do então Chefe do Estado-Maior da magnífico parque natural na envolvente dessa
Armada, Almirante António Sousa Leitão, Sendo uma das fundadoras do Festival estátua, as óptimas instalações aí construí-
onde fui apresentado a essa extraordinária. Cabrilho do qual por várias vezes foi presi- das onde tantas conferências têm tido lugar,
Senhora, que se fazia acompanhar pela Miss dente, tornou-se sua impulsionadora perante evocando glórias de Portugal, é igualmente à
Cabrilho. Vinham apresentar cumprimentos os Governos de Portugal, México, Espanha, Mary que temos de agradecer.
ao Alto-Comissário para o Festival Cabrilho América e a Comunidade Indígena da Ca-
junto ao Governo português que, por pressão lifórnia. Pelo seu entusiasmo e diligência o A partir dos anos 70 a Mary decidiu con-
da Mary e com estatuto permanente, passara a evento acabou por se tornar num dos prin- vidar a comunidade hispânica residente em
ser o Chefe do Estado-Maior da Armada. cipais festivais internacionais dos Estados São Diego para participar na organização do
Unidos. Após o seu último mandato como festival, organizando igualmente o Festival
Logo nesse primeiro encontro apercebi- presidente, por aclamação unânime, recebeu Cabrilho em Ensenada, México.
-me de imediato do carisma e entusiasmo o título de Presidente Emérita.
daquela luso-descendente, defensora acérri- Em 1992 tive oportunidade de ser rece-
ma das suas raízes e dos nossos interesses. A A colocação no alto da Península de Point bido no Festival Cabrilho pela Mary. Nun-
partir daí tive notícias constantes dessa indi- Loma da estátua do ilustre português, que ao ca esquecerei a sua presença digna, a sua
vidualidade fora do comum, dessa força da conversa inteligente, o seu muito saber, a
natureza, pessoa de uma capacidade invulgar sua afabilidade e discrição. Quanto aos ca-
para organizar e bem orientar. detes, creio que muitos ainda relembram o
seu “Lexus” branco recém estreado, em que
Note-se que a partir da visita da “Sagres” a generosamente os transportava.
S. Diego, em 1978, para participar no Festival
Cabrilho, por directa influência do Almirante A Mary foi também presidente do Centro
Sarmento Rodrigues e a pedido de Mary Gi- Histórico Português onde tive oportunidade
glitto, muitos militares da Armada passaram de participar em algumas conferências ali or-
a conhecer esta fascinante personalidade, que ganizadas durante o Festival Cabrilho.
dinamizou intensamente a comunidade Por-
tuguesa de S. Diego, conseguindo contar regu- Pessoa absolutamente excepcional, dotada
larmente com a participação de um navio de de raras virtudes e capacidade, segundo Lo-
guerra português nesse importante festival. melino Alves, outro alto dirigente da comuni-
dade portuguesa, a Mary foi uma mulher que
A Mary, como familiarmente era conhecida, sabia a direcção em que queria levar as coisas.
já consta das páginas da nossa Revista, tendo
concedido uma entrevista, publicada em Março Ao longo da sua vida muito preenchida
de 1994, onde estão patentes todas as facetas da recebeu diversas condecorações e distin-
sua personalidade e o seu envolvimento com a ções, de que se destacam a Medalha Naval
Armada e a Comunidade Portuguesa. Recorde- Vasco da Gama, a Comenda da Ordem do
mos o seu percurso na tão intensa vida que há Infante Dom Henrique e a Medalha da Or-
alguns meses terminou. dem de Instrução Pública.
Maria Antónia Rosa Giglitto, filha de uma Foi, e estou certo que muitos camaradas par-
das famílias pioneiras na faina da pesca do tilham deste meu sentimento, uma personagem
atum em São Diego, gente oriunda da Ilha do que só com muita dificuldade se poderá substi-
Pico, formou-se como educadora pela Universi- tuir. Perdemos, todos nós, uma grande amiga.
dade de São Diego aí fazendo o seu mestrado e
José Manuel Malhão Pereira
10 NOVEMBRO 2011 • REVISTA DA ARMADA CMG