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Navios Hidrográficos
25. O NAVIO HIDROGRÁFICO ALMEIDA CARVALHO
O navio Almeida Carvalho começou a ser construído nos Em 1979, foi-lhe instalado um sistema de hidrografia auto-
estaleiros californianos de Marietta Shipbuilding Co. Em matizada, o HIDRAUT, o qual funcionava em complemen-
1965, quando se encontrava ainda em fase de construção, to com o SATADH (Sistema de Aquisição e Tratamento
ocorreu a passagem do tufão Betsy que o afundou, tendo Automático de Dados Hidrográficos) entretanto instalado
por esse motivo só entrado em janeiro de 1969 ao serviço no Instituto Hidrográfico, o que veio revolucionar a meto-
da US Navy com o nome de Kellar. dologia no processamento dos dados hidrográficos.
Em 21 de janeiro de 1972, foi transferido para Portugal No âmbito da cooperação com os Países Africanos de
ao abrigo do acordo referente às condições de utilização Língua Oficial Portuguesa realizou, em 1981, diversos le-
da Base Aérea das Lajes e na mesma data aumentado ao vantamentos hidrográficos em Cabo Verde. A propósito
Efetivo dos Navios da Armada, tendo entrado na barra do desta missão, o Presidente da República de Cabo Verde,
Tejo em 12 de março. Dr. Aristides Pereira, endereçou ao Presidente da Repú-
A denominação Almei- blica Portuguesa, Ge-
da Carvalho evoca o Ca- neral Ramalho Eanes, a
pitão-de-fragata Ernesto seguinte mensagem:
Tavares de Almeida Car-
valho a quem se deve, É-me muito grato trans-
entre outros trabalhos, o mitir V. Exª muito apreço
levantamento hidrográ- parte Governo cabo-ver-
fico do litoral de Sines e diano forma diligente e
a publicação de diversos particularmente esforçada
estudos sobre a densida- como decorreu missão na-
de da água do mar e pro- vio-hidrográfico português
fundidade dos oceanos. “Almeida Carvalho” sob
comando capitão-fragata
O navio ostentava na amurada a inscrição A 527 e tinha as Carlos Fernando Souto terminada 29 Julho último. Esse com-
seguintes características: portamento altura tradições seculares gloriosa Marinha por-
tuguesa é nossa convicção que mais uma importante pedra foi
Deslocamento máximo. . . . . . . . . . . . . . . . 1.327 toneladas posta no grande edifício da profícua cooperação em curso entre
Comprimento (fora a fora) . . . . . . . . . . . . . 63,5 metros os nossos dois países de acordo com os múltiplos laços que unem
Boca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11,8 “ nossos dois povos. Muito agradecia se fizesse conhecer sr. chefe
Calado máximo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4,56 “ do Estado-Maior da Armada portuguesa esta nossa nota de mui-
Velocidade máxima . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 nós to apreço relativo missão cumprida briosamente Armada portu-
Dotado de uma instalação propulsora Diesel elétrica de guesa. Queira aceitar sr. Presidente e caro amigo a expressão minha
1.200 cavalos, tinha uma guarnição de 36 homens (5 oficiais, estima pessoal e mais elevada consideração.
7 sargentos e 24 praças), podendo ainda alojar uma equipa Em 1984, prestou apoio à realização de estudos na barra
técnica de 10 elementos. do rio Cacheu, na Guiné-Bissau.
Para o desempenho de trabalhos hidrográficos e oceano- Em 1994, para a Divisão de Oceanografia Física realizou
gráficos, foi equipado com quatro sondas Raytheon 723, dois cruzeiros oceanográficos SEFOS, para a Divisão de
dois PRF 193, um Atlas Deso 10, um Raydist DSR, dois Geologia Marinha dois cruzeiros SEPLAT e dois cruzeiros
batitermógrafos, um lançador de XBT, uma batisonda, um OMEX I, no âmbito do qual foram publicados diversos ar-
termógrafo, um sondador Atlas Fishfinder. tigos científicos e feitas apresentações em conferências so-
Passou então a estar ao serviço do Instituto Hidrográfico bre plumas túrbidas dos rios Tejo e Sado e os sedimentos
tendo a sua primeira missão consistido na continuação dos com elas relacionadas. A pedido da Faculdade de Ciências
cruzeiros MALAC para apoiar cientificamente as ativida- da Universidade de Lisboa, efetuou submersões com o
des piscatórias da captura do atum no Algarve, os quais ROV na área do Banco Gorringe para a inspeção do fundo
haviam sido iniciados em 1971, a bordo da lancha hidro- do mar, com vista à determinação de uma zona para o fun-
gráfica Cruzeiro do Sul e que vieram a concluir-se em 1973. deadouro de uma boia sismógrafo.
Em 1976, a pedido da SHELL, realizou um cruzeiro ocea- A 4 de dezembro de 2002 passou ao estado de desarma-
nográfico com o objetivo de completar o estudo geológico mento para posterior abate ao Efetivo dos Navios da Ar-
da Plataforma Continental nas zonas de concessão atribuí- mada o N.H. Almeida Carvalho, que durante três décadas
das àquela empresa, tendo sido utilizado o sistema de ra- esteve ao serviço do Instituto Hidrográfico e é o detentor,
diolocalização Shoran e colhidas amostras de fundo com até ao presente, do maior número de cruzeiros científicos,
amostradores Cnexoville. no âmbito da Marinha de Guerra Portuguesa.
Nos anos seguintes, para a Secretaria de Estado das Para além das memórias conservadas por diversas ge-
Pescas, efetuou dois cruzeiros hidrográficos no Banco rações de hidrógrafos, restam deste navio algumas peças
Gorringe. Para a Direcção-Geral de Fomento Mineiro, que formam atualmente um dos núcleos museológicos do
um cruzeiro a fim de obter elementos sobre a cobertura Instituto Hidrográfico.
de sedimentos móveis da plataforma e vertente conti-
nental superior a sul de Lisboa e no Algarve e, outros Colaboração do INSTITUTO HIDROGRÁFICO
dois cruzeiros, estes com vista à definição de perfis de
reflexão sísmica.