Page 8 - Revista da Armada
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DISCURSO DA DRª ISABEL JONET

 Celebramos hoje o Dia de Portugal, nes-    seu destino com denodo e perseverança.      nos é proporcionada pela celebração do
te local que evoca não só a nossa epopeia    Que ninguém se arrogue portanto a ca-      Dia de Portugal é de molde a tranquilizar
marítima, mas também, e em particular,                                                  aqueles de entre nós que expressam ta-
os combatentes Portugueses. Os antigos,     pacidade de nos limitar no exercício des-   manho cepticismo.
mas sem dúvida também os actuais, por       te direito tão salutar quanto, na medida
vezes tão injustamente esquecidos. Em       em que nos ajuda a contextualizar e a        Portugal nem nasceu ontem nem se
especial prestando a devida homenagem       inserir correctamente as incidências par-   extinguirá amanhã por qualquer passe
a todos aqueles que pereceram em com-       ticulares no curso mais vasto da história,  de mágica. É o fruto de uma vontade
bate ao serviço do nosso País.              acaba por ser naturalmente portador da      indómita de um Povo, de uma geogra-
                                            esperança e da energia positiva de que      fia, de uma língua, de uma cultura e de
 A Comissão Executiva para a Homena-        Portugal presentemente tanto carece.        uma longa e penosa história comum. Em
gem Nacional aos Combatentes 2013 en-                                                   suma, de uma identidade que não se es-
tendeu, no seu 20º aniversário, recordar     Vem isto naturalmente a propósito dos      bateu, antes se fortaleceu sempre ao lon-
o papel desempenhado pelas mu-              tempos de crise que grassam no nosso
lheres: as que combatem integradas          País, porventura das mais graves com             go dos tempos e encontrou força e
em forças militares e de segurança          que fomos confrontados enquanto colec-           ânimo colectivos para superar as si-
para manter a paz no espaço em              tividade na nossa história mais recente, e       tuações mais difíceis e desesperadas.
que vivemos; as que partiram com            que fazem a muitos de entre nós duvidar
os seus maridos e levaram a cultu-          e mesmo descrer da nossa capacidade               Não chegámos aqui por acaso: ti-
ra e a língua portuguesa, falada e          de enfrentar e de solucionar em conjun-          vemos que alargar horizontes, que
escrita, a tanto mundo; as que fica-        to os problemas que se nos apresentam            olhar de frente o mar tenebroso e
ram com os filhos, suportando com           pela frente, alguns deles bem complexos,         saber que mais forte que o Adamas-
afecto e aguardando com expectati-          reencontrando os caminhos de um de-              tor era a vontade de D. João II, que
va o seu regresso; as que perderam          senvolvimento sustentável e que permi-           aglutinar as muitas origens de onde
os seus maridos ou os seus filhos ao        tam voltar a alcançar níveis de satisfação       nascemos para nos realizarmos no
serviço da Pátria; as que diariamen-        e de fruição condizentes com os legíti-          homem português, que lutar por esta
te combatem em defesa de direitos           mos anseios de todos os portugueses.             vontade e acreditar neste desígnio
humanos e pela promoção da soli-                                                             de sermos livres e independentes.
dariedade.                                   A possibilidade de olhar em perspec-
                                            tiva para a realidade do nosso País que           Não se extinguiu a forja que deu à
 Associo-me a esta homenagem,                                                                luz esses Portugueses que, com ar-
desde já agradecendo o tão honro-                                                            mas ou sem elas, ao longo dos sécu-
so - quão inesperado - convite para                                                          los nunca desistiram nem baixaram
vos dirigir algumas palavras. Faço-o                                                         os braços perante as dificuldades,
de mente e de coração abertos, to-                                                           não se vergando à inércia e ao fa-
talmente liberta de constrangimen-                                                           talismo, perseverando com deter-
tos políticos, confessionais e outros.                                                       minação e coragem nesse objectivo
Constrangimentos com que alguns,                                                             nobre que é realizar Portugal todos
nestes tempos difíceis – e, estranha-                                                        os dias enquanto País livre e susten-
mente, de novo intolerantes - que                                                            tável.
se vivem no nosso País, pretendem
condicionar quem quer que seja e a                                                            Antes pelo contrário. Homens e
propósito do que quer que seja, de-                                                          mulheres envolvidos ou não em mis-
signadamente quando está em causa                                                            sões militares passadas, presentes
o exercício livre do mais elementar                                                          ou futuras, sentimo-nos todos com-
direito à intervenção cívica.                                                                batentes por Portugal. E queremos
                                                                                             hoje, nesta cerimónia solene e plena
 Somos felizmente livres e inde-                                                             de simbolismo, honrar com a nossa
pendentes, orgulhosos de sermos                                                              acção a memória daqueles que por
Portugueses, da nossa história, e dos                                                        ele lutaram e perderam a vida, irma-
nossos antepassados. Antepassados                                                            nados na celebração de um projecto
combatentes que, armados ou não,                                                             que também é passado, mas é sobre-
forjaram a custo esta nação e deram                                                          tudo esperança no futuro.
o seu melhor, com esforço, dedica-
ção e patriotismo, nalguns casos com a                                                        Os nossos Filhos e Netos não nos
perda da própria vida. Que contribuíram                                                      perdoarão se não soubermos estar à
para a edificação deste espaço, desta cul-                                                   altura do sacrifício daqueles cujos
tura e desta língua, que constituem a nos-                                              nomes estão gravados nas lápides deste
sa identidade e o nosso património co-                                                  Forte. Temos que honrar a preciosa he-
muns e que portam o nome de Portugal.                                                   rança que recebemos, legando-lhes um
                                                                                        País livre e sustentável em que eles não
 Celebrá-lo e honrá-lo preservando a                                                    só se orgulhem de ter nascido, mas onde,
memória, obviamente com lucidez e cri-                                                  sobretudo, queiram trabalhar e viver, ser-
tério, é uma manifestação de maturidade                                                 vindo-o ao mesmo tempo.
cívica e de confiança no futuro por parte                                                Homenageemos pois os nossos comba-
de um Povo. Um povo que, ao longo da                                                    tentes passados, presentes e futuros.
sua história, sobejas vezes confrontado                                                  Por Portugal. Viva Portugal!
com momentos difíceis, na aparência
sem solução, sempre soube reencontrar,                                                                               Drª Isabel Jonet
com sucesso, o seu caminho e cumprir o                                                      REVISTA DA ARMADA • AGOSTO 2013 7
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