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FUZILEIROS
400 ANOS DE HISTÓRIA
C om quase quatro séculos de
história ao serviço da Marinha, maior atenção. Num quadro de gestão abril de 1621 é que foi oficialmente
os Fuzileiros são os legítimos global, este Corpo de elite da Marinha criado o Terço da Armada da Coroa de
herdeiros da mais antiga força militar não pode assumir um estatuto de exce- Portugal. Os «Soldados da Armada»
constituída com caráter permanente ção num esforço que o país exige fa- ou os «Marinheiros do Fuzil», como
em Portugal, o Terço da Armada da Co- zer, mas também não deve, nem pode na altura eram conhecidos, combate-
roa de Portugal. Até aos residir nele, porventura, a única solu- ram durante os primórdios em locais
dias que correm, várias
foram as configurações e ção para atingir esse objectivo, sem distantes e cenários tão
os conceitos de emprego que não haja qualquer perda de ca- diferenciados, desde o
desta força especial, ba- pacidades ou a descaracterização da Brasil às guarnições da
seados na visão, nas mis- sua natureza especial, como a elevada Esquadra de Guarda de
sões e nos valores que ao prontidão para combate ou a flexibi- Costa, tendo ainda lu-
longo de várias gerações lidade de emprego que, recordamos, tado ao lado de Lorde
foram sendo definidas. estiveram na génese da sua recriação, Nelson, no Mediterrâ-
É de realçar que atra- em 1961. neo, somando sucessos
vés da sua genética, e na luta contra Franceses,
conforme a história bem HISTÓRIA DOS FUZILEIROS Holandeses e Espanhóis.
pode comprovar, identi- O Terço foi sempre con-
ficamos neste punhado A existência de Fuzileiros na Armada siderado como uma uni-
de homens uma capa- remonta a 1585 quando foram consti- dade de elite, cuja res-
cidade expedicionária tuídas equipas para treino das guarni- ponsabilidade e a guarda
com elevada prontidão, ções das naus da Índia para o manejo pessoal do Rei D. João IV
características que os de- da artilharia e da fuzilaria, mas só em constituíram um dos seus
finem como força espe- principais símbolos de
cial de natureza anfíbia marca; durante o século
e cujo emprego, variado XVIII ocorreram várias
e polivalente, “aonde alterações na organiza-
e sempre que necessá- ção desta força, sendo
rio”, lhes atribui um ca- que a mais significativa,
riz único em Portugal, ordenada por D. Maria I
fruto da cultura naval em finais desse século,
que cedo adquiriam no regista o agrupamento
berço. Nesta época de de todos os regimentos
elevadas restrições eco- navais na nova Briga-
nómicas e de verdadeira da Real da Marinha. Em
contenção, em particu- 1808, parte desta força
lar o registo das medi- acompanha a família real
das que se anunciam e portuguesa no seu êxodo
outros exigentes desafios para o Brasil, e cuja pre-
que se colocam às insti- sença naquele território
tuições militares, onde veio contribuir para a
termos como racionali- edificação do Corpo de
zar, eficiência e produti- Fuzileiros Navais da Ma-
vidade estão associados rinha Brasileira, após a
à afetação de recursos sua independência. Em
humanos, financeiros e meados do mesmo sé-
materiais, há claramente necessidade culo, dá-se a militariza-
de refletir sobre aquilo que somos e ção de todo o pessoal da
o que fazemos, definir prioridades e Armada em Portugal e concomitante-
reconhecer as capacidades que são mente a extinção desta Brigada Real,
necessárias manter para responder às transferindo-se a sua capacidade para
principais necessidades da nossa orga- as guarnições dos navios que passam a
nização, interpretando naturalmente receber treino de infantaria de comba-
as idiossincrasias dos seus componen- te, e que mais tarde vêm a constituir o
tes. O Corpo de Fuzileiros, constitui- núcleo das forças expedicionárias que
-se atualmente como o principal ena- participam em algumas campanhas
bler da Marinha para a edificação da além-mar. Em 1924 volta a ser criada
capacidade de projeção de força e da em Portugal uma unidade permanente
possibilidade desta poder continuar a de infantaria de marinha, a Brigada da
influenciar as operações junto ao li- Guarda Naval que no entanto é extin-
toral, onde a assimetria e a imprevisi- ta dez anos mais tarde. Em 1961 e em
bilidade da ameaça hoje exigem uma vésperas de uma guerra colonial que
se antecipava, o então Contra-almiran-
te Roboredo e Silva, à data Subchefe
8 AGOSTO 2013 • REVISTA DA ARMADA