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REVISTA DA ARMADA | 485
Stratεgia 1
A2 / AD
NOTA PRÉVIA: Pouco depois de tomar posse, o novo diretor da Anti-access and Area Denial Challenge”, da autoria de Andrew
Revista da Armada desafiou-me a escrever pequenos textos para F. Krepinevich (presidente do CSBA) e de outros dois analistas.
esta revista, com caráter regular. Acedo ao desafio com enorme
prazer e orgulho, pela oportunidade de colaborar regularmente Relativamente ao seu significado, o relatório atrás referido de-
com o órgão de comunicação oficial da Marinha Portuguesa. Além finiu A2 como o conjunto de ações inimigas destinadas a evitar
disso, faço-o com redobrado gosto pela estima e consideração que ou a dificultar a deslocação e a penetração das forças militares
tenho pelo Contra-almirante Mina Henriques e, também, como próprias num teatro de operações. Já o AD foi definido como o
tributo ao anterior diretor, o Contra-almirante Roque Martins, que conjunto de atividades desenvolvidas por um inimigo para negar
sempre me incentivou a escrever e a publicar os meus escritos. a liberdade de ação própria num teatro de operações. Ou seja, o
A2 visa evitar a entrada numa área de operações, enquanto o AD
Anti-access/Area Denial (que se pode traduzir por Anti-acesso/ visa evitar que um contendor (que já está na área de operações)
Negação de Área) é uma das expressões da moda por entre possa empregar todo o seu potencial militar.
os estrategistas e os analistas militares norte-americanos, sendo o
respetivo acrónimo (A2/AD) empregue com grande frequência em As semelhanças entre muitas das ações e das capacidades de
relatórios, estudos e artigos de âmbito estratégico e militar. Anti-access e de Area Denial levam a que os dois conceitos apa-
reçam normalmente juntos – o mesmo se aplicando aos seus
A expressão Anti-access/Area Denial chegou mesmo ao topo da acrónimos: A2/AD.
documentação estruturante norte-americana, constando da mais
recente revisão da estratégia de defesa dos EUA, promulgada pelo Entretanto, estes conceitos foram-se tornando cada vez mais
presidente Barack Obama em janeiro de 2012. Nesse documen- populares e o Departamento de Defesa americano atribuiu-lhes
to, intitulado “Sustaining US Global Leadership – Priorities for the definições oficiais, que tentam distingui-los em função do alcan-
21st Century Defense”, elencam-se as dez missões prioritárias das ce. Assim, o A2 é ligado a ações e capacidades de longo alcance e
Forças Armadas americanas e a terceira é, precisamente, “projetar o AD a ações e capacidades de curto alcance.
poder apesar dos desafios de Anti-access/Area Denial”.
Feitas estas explicações, pode dizer-se que o A2 e o AD são
Recordemos, pois, como é que esta expressão apareceu e o que conceitos modernos, que designam medidas estratégicas intem-
é que ela designa. porais, focalizadas em negar ou dificultar a liberdade de ação a
potenciais contendores. Ou seja, embora a designação seja re-
Relativamente à sua génese, a primeira publicação oficial a cente, esta é uma modalidade de ação extremamente comum na
abordar, de maneira explícita, o Anti-acesso e a Negação de história das disputas estratégicas e dos conflitos militares.
Área foi a Quadrennial Defense Review de 2001 – muito embo-
ra o documento análogo de 1997 já debatesse modalidades de Importa ainda referir que, embora seja muito associado à vertente
ação destinadas a evitar ou a atrasar o acesso das forças arma- militar, o A2/AD inclui também ações políticas, diplomáticas, econó-
das americanas a determinadas áreas de operações. Posterior- micas e psicossociais destinadas a evitar que um eventual contendor
mente, o think-tank norte-americano Center for Strategic and empregue todo o seu potencial estratégico numa área geográfica.
Budgetary Assessments (CSBA) aprofundou bastante os con-
ceitos de Anti-access a de Area Denial e introduziu os acróni- Normalmente, estas modalidades de ação são desenvolvidas por
mos A2 e AD num relatório de 2003, intitulado “Meeting the contendores menos poderosos perante contendores mais podero-
sos (visando evitar que eles possam usar a sua superior força militar
numa área de operações ou numa região), tendo, por isso, uma es-
sência eminentemente defensiva. Um exemplo típico de uma me-
Apresentação da estratégia de defesa americana (Janeiro de 2012)
4 MAIO 2014