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REVISTA DA ARMADA | 485
dida de A2 foi a construção das Linhas de Torres, no séc. XIX, para Capa de um recente livro de Sam Tangredi, sobre A2/AD
evitar que as tropas invasoras francesas atingissem Lisboa. Contu-
do, as ações e as capacidades de A2/AD não são exclusivas de ato- • a aquisição de mísseis balísticos com longo alcance, nomeada-
res envolvidos em estratégias defensivas. Por exemplo, o ataque a mente, até às bases americanas de Okinawa (Japão) e de Guam
Pearl Harbour, pelo Império Nipónico, em 1942, foi uma ação de A2 (território dos EUA);
enquadrada numa estratégia ofensiva de preservação e de prosse- • a aquisição de mísseis anti-navio e anti-aéreos, capazes de con-
cução de uma política de conquistas agressiva em todo o Pacífico. dicionar significativamente a operação de porta-aviões no Pacífi-
co ocidental;
Na atualidade, a expressão tem aparecido sobretudo ligada à • a edificação de uma capacidade de guerra cibernética ofensiva,
China (mas também ao Irão e à Coreia do Norte), designando as que tem estado na origem de muita discórdia entre Washington
ações e as capacidades, edificadas por esses Estados (incluindo no e Pequim; e
âmbito da guerra cibernética, da guerra eletrónica, da guerra de mi- • a operacionalização de armas anti-satélite (capacidade testada
nas e da aquisição de misseis balísticos e de cruzeiro) para negar ou e demonstrada em 2007, quando a China destruiu um satélite
dificultar a projeção de poder dos EUA nas suas áreas de interesse. próprio no espaço).
De facto, hoje em dia, é quase consensual entre os analistas mi- Segundo os analistas norte-americanos (incluindo Sam Tangredi,
litares norte-americanos que a maior ameaça convencional aos no muito recente livro cuja capa ilustra este texto), todas estas ações
EUA são as ações e as capacidades de A2/AD, que têm vindo a e capacidades denunciam uma modalidade de ação de A2/AD, vi-
ser desenvolvidas por esses Estados, nomeadamente pela China. sando desafiar a hegemonia dos EUA e dos seus aliados no Sudeste
asiático. Daí a elevada prioridade concedida – ao mais alto nível da
Embora a doutrina estratégica chinesa seja largamente desco- documentação estruturante americana – à capacidade de projetar
nhecida no ocidente, aparentemente, a seguir à primeira guerra poder em áreas onde tenham sido desenvolvidas ações e edificadas
do Iraque (Operação Tempestade no Deserto), os analistas chi- capacidades de A2/AD. Daí, também, o foco estratégico americano
neses terão notado que um dos elementos-chave do sucesso da se ter virado para a Ásia e para o Pacífico, em detrimento da Europa
coligação liderada pelos EUA fora a capacidade de projetar forças e do Atlântico, o que provocou, entre outras consequências, a dimi-
para o teatro de operações, com pouca ou nenhuma oposição. nuição do contingente americano na Base das Lajes.
Terão, então, concluído que, na eventualidade de um conflito Para finalizar, é interessante constatar que o A2/AD remete,
com os EUA, teriam obrigatoriamente que impedir ou, pelo me- muito claramente, para um conceito muito empregue no quadro
nos, dificultar ao máximo a projeção do poder americano. da estratégia marítima. Que conceito é esse? Questão para ser
abordada no próximo texto.
Esse desiderato terá estado por detrás de um conjunto de me-
didas que têm em comum a particularidade de condicionar seria-
mente a liberdade de ação de qualquer força militar no Pacífico
ocidental.
São disso exemplo:
• a edificação de uma numerosa esquadrilha de submarinos, que
totaliza 55 unidades, segundo afirmou recentemente o Chief of
Naval Operations da US Navy, Almirante Jonathan Greenert;
Submarino chinês à superfície (Foto: AsiaNews) Sardinha Monteiro
CFR
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