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REVISTA DA ARMADA | 489
SAÚDE PARA TODOS 18
ERGONOMIA: NA SENDA DAS BOAS POSTURAS!
O médico italiano Bernardino Ramazzini foi o primeiro a escrever sobre doenças e lesões relacionadas com o trabalho, na sua publicação de
1700 "De Morbis Ar ficum" (doenças ocupacionais). Naquela altura, Ramazzini foi discriminado pelos seus colegas por visitar os locais de tra-
balho dos seus pacientes a fim de iden ficar as causas dos seus problemas.
A Segunda Guerra Mundial marcou o advento das máquinas e armas sofis cadas, criando exigências cogni vas e sicas jamais vistas pelos
operadores de máquinas. Nas décadas seguintes à guerra, e até os dias atuais, a adaptação do trabalho ao homem con nuou a desenvolver-se
e a diversificar-se. Em 1949, Murrel, engenheiro inglês, fez o reconhecimento desta disciplina cien fica criando a primeira associação nacional
de Ergonomia, a Ergonomic Research Society.
Para melhor compreensão desta temática foi pedida a colaboração ao 1TEN MN Santos Henriques, médico do Centro de Educação Física
da Armada.
AP – O que é a Ergonomia? dores, com benefícios para a saúde dos ou a prática irregular, que traz benefícios
SH – O termo Ergonomia deriva do grego indivíduos, o bem-estar coletivo e a pro- para a saúde. Como se define a prática
ergon (trabalho) e nomos (leis ou normas). dutividade da instituição. regular de atividade física?
A Ergonomia é a ciência que estuda a com- AP – Pode apontar um dos erros que seja SH – Em cada semana, os adultos devem
patibilidade entre os indivíduos e o seu mais frequente nos locais de trabalho? acumular um mínimo de 150 minutos de
trabalho. O conceito de "trabalho" inclui o SH – Todos sabem que a quantidade de atividade física aeróbia de intensidade mo-
ambiente envolvente, o local específico de pessoas que passa grande parte do seu derada (e.g. 30 minutos/dia, 5 dias/sema-
trabalho e as tarefas desempenhadas. tempo laboral sentado à secretária a tra- na) ou 75 minutos de atividade física aeró-
AP – Como funciona a Ergonomia? balhar num computador não é negligenciá- bia de intensidade vigorosa (e.g. 25 minu-
SH – O objetivo da Ergonomia é identifi- vel. Como tal, parece ser pertinente abor- tos/dia, 3 dias/semana) ou uma combina-
car as condições de trabalho que não se dar e divulgar alguns factos relativos à pos- ção equivalente das duas anteriores. Para
adequam ao corpo dos trabalhadores e tura a adotar nesta situação em particular. alcançar os tempos totais de prática de ati-
impõem restrições na capacidade de tra- A título de exemplo, considerem-se as se- vidade física deve preferir-se uma distribui-
balho a longo prazo. Essas condições ori- guintes 10 indicações (ver figura): ção semanal equilibrada, podendo inclusi-
ginam frequentemente desconforto e fa- 1. Encosto da cadeira adaptado à curvatu- ve ser fracionada ao longo do dia em pe-
diga, podendo mesmo resultar em lesões ra da coluna; ríodos nunca inferiores a 10 minutos con-
e doenças profissionais, com consequente 2. Descanso dos antebraços ao nível dos secutivos. Os adultos devem ainda realizar
absentismo laboral. cotovelos; exercícios de fortalecimento muscular de
AP–Quais as causas ergonómicas que mais 3. Altura do assento abaixo do nível das intensidade moderada a elevada que en-
frequentemente podem originar doença? rótulas; volvam grandes grupos musculares, duas
SH – As situações patológicas resultantes 4. Ombros e ancas alinhados; ou mais vezes por semana.
de condições ergonómicas inadequadas 5. Punhos em posição neutra (sem dobrar
incluem lesões por esforços ou por movi- ou esticar); Ana Cristina Pratas
mentos repetitivos, bem como alterações 6. Joelhos ligeiramente abaixo das ancas; 1TEN MN
osteomusculares relacionadas com o tra- 7. Pés apoiados no chão ou num descanso
balho. A sua origem reside normalmen- para pés; A Ergonomia é a ciência que estuda a rela-
te em períodos de trabalho prolongado 8. Monitor do computador com o limite ção entre o Homem e o trabalho que executa,
envolvendo movimentos forçados, movi- superior ao nível dos olhos; brilho e con- procurando desenvolver uma integração per-
mentos repetitivos ou posturas incorre- traste ajustados; feita entre as condições de trabalho, as capa-
tas. Além do componente físico da pres- 9. Teclado do computador centrado à cidades e limitações sicas e psicológicas do
tação laboral, não se pode negligenciar o frente do utilizador; trabalhador, e a eficiência do sistema produ -
impacto das condições ambientais envol- 10. Rato do computador próximo do te- vo. Os seus obje vos primordiais são aumen-
ventes no sentimento de bem-estar e mo- clado e ao mesmo nível. tar a eficiência organizacional (produ vidade
tivação dos trabalhadores, aspeto de ca- Além deste tipo de cuidados, é ainda e lucros) e aumentar a segurança, a saúde e o
pital importância no rendimento laboral. aconselhável fazer pequenos intervalos conforto do trabalhador.
Um local de trabalho muito frio ou mui- no trabalho para realizar exercícios no
to quente, pouco iluminado, barulhento, sentido de minimizar desconfortos mus-
pouco ventilado ou com odores desagra- culares e articulares. O Gabinete Médico
dáveis causa descontentamento, stress, do Centro de Educação Física da Arma-
fadiga, cansaço visual, dor de cabeça e ou- da disponibiliza a todos os interessados
tros problemas ou mesmo doenças. um folheto informativo que inclui alguns
AP – Como podem estes problemas ser exemplos de exercícios.
prevenidos? Considerando o maior risco destes indiví-
SH – Todas as situações previamente cita- duos terem um estilo de vida sedentário,
das podem ser prevenidas fazendo com é importante sublinhar o valor da prática
que o local e a organização do trabalho se regular de atividade física para compen-
ajustem às necessidades físicas e mentais sar os longos períodos de inatividade em
de cada trabalhador. Ao corrigir as condi- contexto laboral.
ções inadequadas já identificadas é possí- AP – Sabe-se que é a prática regular de
vel otimizar o desempenho dos trabalha- atividade física, e não um ato esporádico
32 OUTUBRO 2014