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1863 e duas em 1864. É de referir que estes navios, apesar José da Silva Mendes Leal (1820-1886), por Marquês de Sá da Bandeira (1795-1876),
de menos velozes e manobráveis do que os seus anteces-
sores – sendo, portanto, menos adequados para o combate Charles Armand-Dumaresque, 1883 gravura de L. Maurin, 1855
naval –, e de disporem de menor capacidade de transporte,
devido ao espaço ocupado pela maquinaria, tinham a van- NOVAS CLASSES TÉCNICAS
tagem de poder deslocar-se à vela para as distantes provín-
cias ultramarinas e, uma vez aí, utilizar, com vantagem, a Quando os primeiros vapores de rodas entraram ao serviço da
propulsão a vapor para manobrar mais facilmente junto à Armada Portuguesa, em 1833, tinham, ainda, embarcados enge-
costa e patrulhar os estuários dos rios africanos, podendo nheiros ingleses, uma vez que em Portugal ainda não existia pes-
mesmo, nalguns casos, utilizá-los como eixo de penetração soal qualificado para supervisionar o funcionamento e a opera-
no vasto sertão. ção da instalação propulsora destes navios.
É em meados dessa década que surgem os primeiros engenheiros
É também nestes dois períodos que são aumentadas ao maquinistas navais portugueses (o primeiro deles em 1836). O con-
serviço as primeiras canhoneiras de propulsão mista, uma junto destes técnicos qualificados, ao qual se juntam maquinistas es-
em 1859, uma em 1864 e três em 1865. Contudo, após pecializados, engrossa consideravelmente entre 1845 e 1847, altura
este ciclo de expansão, voltou-se à falta de investimento em que são aumentados ao efetivo cinco novos vapores, os primei-
e estagnação iniciais. A questão aqui teria sido, essencial- ros depois dos dois adquiridos durante a Guerra Civil. Refira-se que
mente, o surgimento de propostas de revisão do Progra- grande parte deste pessoal se tinha iniciado como aprendiz ou aju-
ma Naval de Sá da Bandeira-Mendes Leal, devido à rapidez dante de ferraria no Arsenal, o que lhe dava, à partida, alguma afi-
da evolução técnica a que o Mundo assistia e à incerteza nidade com este novo serviço. O Corpo de Maquinistas Navais (en-
quanto ao futuro. genheiros e maquinistas) só é, porém, oficialmente criado em 1854,
por decreto de 6 de Setembro. O curso de Engenheiros Maquinistas
A maior parte destes novos meios foi adquirida no estrangei- Navais na Escola Naval será concebido quinze anos mais tarde.
ro (Inglaterra, sobretudo), embora algumas corvetas mistas e ca- Durante cerca de 40 anos não se registará a existência de outras
nhoneiras tenham sido construídas em Lisboa. classes técnicas a bordo dos navios da Armada. Só em 1878 a intro-
dução de uma nova forma de energia – a eletricidade – fará surgir
DESENVOLVIMENTOS POSTERIORES mais duas especialidades técnicas: os torpedos e a telegrafia.
Como atrás foi mencionado, em 1875 surge a primeira cor-
veta couraçada (de características costeiras), inserida no pro-
grama naval do ministro João de Andrade Corvo, que, entre
1875 e 1879, equipa a Armada com mais duas corvetas mistas
e três canhoneiras.
Outra inovação consiste na introdução dos navios torpedei-
ros, também para defesa costeira, sendo adquiridos quatro entre
1881 e 1886.
Mas só no final do século, a partir de 1895, o programa naval
do ministro Jacinto Cândido da Silva permitirá à Armada Portu-
guesa recuperar parte do seu atraso em relação às suas congé-
neres europeias, destacando-se o aumento ao efetivo de cinco
cruzadores em aço, que se manterão em serviço até meados do
século XX.
Moreira Silva
CFR
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
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