Page 15 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 492

A REVOLUÇÃO

INDUSTRIAL

DA MARINHA
PORTUGUESA

1833 1875

INTRODUÇÃO

  Na segunda metade do Século XIX a Armada Portuguesa era
uma sombra daquilo que tinha sido algumas décadas antes,
fruto da ruína económica trazida pelas Invasões Francesas,
pela perda do comércio do Brasil e pelas convulsões políticas
e sociais que se verificaram, sobretudo, nas décadas de 1820
e 1830. Com a indústria naval a refletir a crise que flagelava
todo o país, as inovações técnicas resultantes da Revolução In-
dustrial demoraram algum tempo a chegar à Esquadra.

  Veremos, no presente artigo, como o nosso país ultrapassou
parte do atraso tecnológico que sofrera em relação às marinhas
dos seus congéneres europeus.

NOVAS TECNOLOGIAS                                                Vapor de rodas britânico “Liverpool”, gravura de Thomas Fairland, 1838, Universidade
O VAPOR E A CONSTRUÇÃO EM FERRO                                  de Toronto [http://www.victorianweb.org/technology/ships/44.html]

  As três primeiras décadas do século XIX são tecnologicamen-      A aplicação do vapor aos navios de combate começa com
te marcadas pela aplicação da propulsão a vapor aos transpor-    as corvetas de propulsão mista, surgindo a primeira em In-
tes marítimos e terrestres. Os primeiros navios a vapor empre-   glaterra – HMS “Columbine” –, em 1827. A França segue-a de
gam rodas de pás laterais na sua propulsão, com o hélice a sur-  perto, dois anos depois. Já em relação à introdução do héli-
gir pouco depois.                                                ce, a Royal Navy mostra-se muito mais renitente, pois o Al-
                                                                 mirantado britânico só aprova a ideia depois de o novo tipo
  Apesar do pioneirismo britânico na Revolução Industrial, foi   de propulsão provar a sua superioridade em competição. É
um engenheiro americano, Robert Fulton, quem, em 1803, apli-     assim que o primeiro navio de guerra a hélice surge em Fran-
cou pela primeira vez o vapor à propulsão de um veículo aquá-    ça, logo em 1842, quatro anos antes de a Inglaterra adotar
tico. E é nos E.U.A. que, em 1811, surge o primeiro steamer de   esta técnica.
utilização regular. Pouco tempo depois, o uso de vapores ge-
neraliza-se, quer para funções de reboque quer de transporte,
pois o facto de poderem manobrar independentemente de ven-
tos e correntes tornava-os mais fiáveis em situações meteoroló-
gicas adversas ou de manobra em águas costeiras ou restritas,
apesar de ainda não atingirem as mesmas velocidades obtidas
pelos navios de vela.

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