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REVISTA DA ARMADA | 494
SAÚDE PARA TODOS 23
DOENÇA DE ALZHEIMER
Demência é o termo médico utilizado para designar um grupo alargado de doenças que causam uma deterioração progressiva das funções
cognitivas. A função cognitiva cuja alteração mais associamos às demências é a memória, mas estas englobam muitos outros domínios, como
a atenção, a linguagem, o processamento visuo-espacial, o cálculo e mesmo as competências sociais, comportamento e personalidade.
Existem muitas causas de demência, sendo a Doença de Alzheimer a mais comum. Foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra e
neuropatologista alemão Alois Alzheimer, de quem recebeu o nome. Apesar de ser mais frequente após os 65 anos, esta doença pode surgir
muitos anos antes. É uma doença neurodegenerativa, ou seja, existe uma perda progressiva e irreversível das células nervosas – os neurónios.
Uma vez que a Doença de Alzheimer ainda não tem cura, o doente torna-se gradualmente dependente da assistência de outros. Na maioria
das situações são os familiares quem assume o papel de cuidadores. Portanto, esta doença, além de ter impacto na vida do doente, tem
também um impacto muito significativo para os cuidadores, quer a nível psicológico e social, quer a nível físico e económico. Nos países
desenvolvidos, a doença de Alzheimer é uma das doenças com maiores custos sociais.
DESCRIÇÃO to da doença, incluindo o exercício físico e a máticos, ou seja, visam melhorar e atrasar
estimulação cognitiva, ou seja, escolaridade a progressão dos sintomas. Os tratamentos
A Doença de Alzheimer representa cerca elevada, empregos intelectualmente estimu- atuais passam por fármacos (inibidores da
de 70% das demências e deve-se a uma acu- lantes, leitura frequente, tocar instrumentos acetilcolinesterase: rivastigmina, galantami-
mulação anormal de proteínas no cérebro, musicais e interação social frequente. na e donepezilo; antagonistas dos recetores
nomeadamente de proteína beta-amiloide de NMDA: memantina), pelo controlo dos fa-
(deposita-se no exterior dos neurónios sob A forma hereditária da Doença de Alzhei- tores de risco vascular, pela estimulação do
a forma de placas senis) e de proteína tau mer é rara (<1% dos casos) e surge normal- exercício físico, atividades cognitivas e intera-
(forma tranças neurofibrilhares no interior mente entre os 40 e 60 anos. Por ser autos- ção social (não sendo de todo recomendado
dos neurónios). Esta situação afeta o fun- sómica dominante, se um dos progenitores que o doente passe o dia sozinho em fren-
cionamento e a comunicação dos neurónios tem um gene mutado, cada filho terá 50% te à televisão), por medidas gerais (e.g.: criar
entre si, que acabam por degenerar e mor- de probabilidade de herdá-lo. rotinas diárias, simplificar os objetos na casa
rer, levando a atrofia cerebral (diminuição de banho e na mesa de refeições, aumentar a
do volume do cérebro). SINTOMAS intensidade da luz ambiente, usar fechaduras
de segurança, rotular os artigos domésticos)
À medida que as células cerebrais vão Nas fases iniciais da doença os sintomas e pelas intervenções psicossociais (e.g.: tera-
desaparecendo, o doente vai ficando gra- são muito subtis e podem ser confundidos pia emocional, cognitiva, comportamental).
dualmente incapaz de recordar a informa- com o processo normal de envelhecimen-
ção. Primeiro é afetada a memória a cur- to ou stress. Começam frequentemente por PROGNÓSTICO
to prazo (dificuldade em recordar factos lapsos de memória e dificuldade em en-
aprendidos recentemente ou em memori- contrar as palavras certas para objetos do A velocidade da progressão da doença
zar nova informação) e só posteriormente quotidiano. Com o tempo vão aparecendo varia de pessoa para pessoa, mas esta aca-
as memórias mais antigas da vida da pessoa novos sintomas como confusão mental, dis- ba por levar a uma situação de dependên-
(memória episódica), os factos já aprendi- curso vago e pobre, apatia, alterações súbi- cia completa, culminando na morte. Uma
dos (memória semântica) e a memória im- tas de humor (choro, irritabilidade e agressi- pessoa com Doença de Alzheimer pode
plícita (a memória associada à realização de vidade), falhas na linguagem, dificuldade na viver entre três a vinte anos, sendo que a
ações, como usar uma caneta para escrever coordenação motora e perda de memória a média estabelecida é de sete a dez anos.
ou andar de bicicleta). longo prazo. É importante salientar que ge-
ralmente o doente não tem perceção das ana Cristina Pratas
EPIDEMIOLOGIA próprias dificuldades de memória. 1 TEN MN
A doença afeta cerca de 1% das pessoas DIAGNÓSTICO A Alzheimer Portugal é uma Instituição Par-
entre os 65 e 70 anos, mas a prevalência ticular de Solidariedade Social. Fornece apoio,
aumenta exponencialmente com a idade, É baseado na história clínica, com a ca- informação, formação e aconselhamento para
sendo de 10-15% aos 80 anos e até 50% racterização dos sintomas do doente, dos as pessoas afetadas pela Demência, seja para
após os 90 anos. É mais comum em mulhe- seus antecedentes pessoais e familiares, os próprios doentes ou para os seus familiares.
res do que em homens. bem como na observação do doente, sen- Este apoio pode fazer uma diferença positiva
do extremamente importante a presença na forma de gerir a doença.
Em Portugal, durante o ano de 2009, es- de um familiar/acompanhante nas consul-
timou-se que existiam cerca de 90.000 pes- tas. É, contudo, fundamental excluir outras
soas com Alzheimer. A Organização Mun- causas tratáveis de demência, através de
dial de Saúde prevê que em 2050 afete 1 análises sanguíneas e exames de imagem,
em cada 85 pessoas à escala mundial. como a tomografia computadorizada (TC)
ou a ressonância magnética (RMN).
CAUSAS
O diagnóstico definitivo só é possível
A Doença de Alzheimer pode ser esporá- mediante uma análise histopatológica, in-
dica ou familiar. A forma esporádica é larga- cluindo um exame microscópico ao tecido
mente mais frequente. Esta surge normal- cerebral (autópsia ou biópsia cerebral).
mente acima dos 65 anos e ainda não se
conhecem na totalidade os fatores de risco TRATAMENTO
para o seu aparecimento. Contudo, existem
alguns já conhecidos: genética, tabagismo, O diagnóstico precoce é importante para
consumo elevado de álcool, hipercolestero- se tentar preservar ao máximo as capacida-
lemia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, des intelectuais e prolongar a qualidade de
traumatismo craniano grave no passado, de- vida do doente e dos seus cuidadores. Dado
pressão em idades superiores a 50 anos e se- que não existem tratamentos para parar ou
dentarismo. De forma oposta, alguns fatores regredir a progressão da doença, os trata-
parecem reduzir o risco de desenvolvimen- mentos disponibilizados são apenas sinto-
32 MARÇO 2015