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REVISTA DA ARMADA | 494                                                                                                                             10

Stratεgia

MARTE E VÉNUS?

                                                                                                                                        o documento elenca a gestão de crises,
                                                                                                                                        a segurança cooperativa e a segurança
                                                                                                                                        marítima – sendo que estas funções ca-
                                                                                                                                        bem perfeitamente no quadro de atua-
                                                                                                                                        ção tanto da NATO como da UE.
                                                                                                                                        Atendendo a isso mesmo, uma das
                                                                                                                                        opções de complementaridade que tem
                                                                                                                                        sido debatida pela comunidade opera-
                                                                                                                                        cional seria a NATO assumir as opera-
                                                                                                                                        ções no extremo superior do espectro
                                                                                                                                        de empenhamentos (aquilo que em lín-
                                                                                                                                        gua inglesa se denomina de high-end ou
                                                                                                                                        high-intensity e que podemos designar
                                                                                                                                        como de alta intensidade) e a UE as mis-
                                                                                                                                        sões e operações no extremo inferior do
                                                                                                                                        espectro de empenhamentos (low-end
                                                                                                                                        ou low-intensity, que podemos designar
                                                                                                                                        como baixa intensidade), que inclui, por
                                                                                                                      Foto 1SAR A Dias  exemplo, o combate à pirataria e à imi-
                                                                                                                                        gração ilegal.
                                                                                                                                        De facto, a UE está mais vocaciona-
                                                                                                                                        da para missões e operações marítimas
Reunião de coordenação, a bordo da fragata “Álvares Cabral”, entre os comandantes e os estados-maiores das forças da
NATO e da UE (e, também, das Combined Maritime Forces), empenhadas no combate à pirataria somali
                                                                                                                                        de baixa intensidade, enquanto a NATO
                                                                                                                                        tem um maior enfoque na preparação
Marte: Quarto planeta do sistema solar, batizado em homena- para empenhamentos de alta intensidade.
gem ao deus romano da guerra.                                    Porém, não é expectável que ao nível político ambas as orga-
Vénus: Segundo planeta do sistema solar, batizado em home- nizações venham a comprometer-se com uma divisão funcional
nagem à deusa romana do amor.                                    deste tipo, pois nenhuma delas quererá prescindir declarada-

INTRODUÇÃO                                                       mente da sua autonomia de decisão, caso a caso. E relativamen-
                                                                 te à NATO, não é crível que abdique da possibilidade de intervir
                                                                 em operações de menor intensidade, como são normalmente as
  Como foi referido no artigo anterior, a recente Estratégia da  operações de segurança marítima, até porque a Estratégia Marí-
UE para a Segurança Marítima apontou a complementaridade e       tima da Aliança, que incluiu a segurança marítima no rol de fun-
a coordenação como os pilares do relacionamento mútuo entre      ções do poder naval aliado, entrou recentemente em plena fase
as duas organizações no domínio marítimo. Essa complemen-        de operacionalização. Acresce que o valioso contributo das forças
taridade e essa coordenação são tão mais importantes quan-       navais da Aliança para a segurança cooperativa, promovida pelo
to as atuais ameaças securitárias são demasiado complexas e      reforço das parcerias com países terceiros, implica o seu empe-
exigentes para poderem ser enfrentadas por um só Estado ou       nhamento em atividades não combatentes, dificultando ainda
por uma só organização internacional. Vejamos, pois, em que      mais a tal divisão funcional de tarefas no domínio marítimo.
se podem traduzir esses dois conceitos, no quadro da seguran-
ça dos mares.
                                                                 COORDENAÇÃO

COMPLEMENTARIDADE                                                  Assim, é mais expectável que o relacionamento entre a NATO
                                                                 e a UE passe por uma acrescida coordenação que permita, em
  Ao analisar a complementaridade entre as duas organiza-        cada situação e em função das circunstâncias, concertar qual o
ções, é preciso ter em atenção que a NATO é a única que tem      empenhamento mais adequado. Isso poderá evitar duplicações
um compromisso claro de defesa coletiva, o que implica prepa-    de esforços e perda de eficiência estratégica, como, de algum
ração e prontidão para atuar em todo o espectro das operações    modo, acontece atualmente com as operações OCEAN SHIELD
marítimas, incluindo em operações de combate. Efetivamente,      (da NATO) e ATALANTA (da UE), de combate à pirataria soma-
a Estratégia Marítima da Aliança aprovada em 2011 discriminou    li. Com efeito, embora os mandatos dessas operações não se-
as principais funções do poder naval aliado, começando preci-    jam iguais, existe inevitavelmente alguma sobreposição, além
samente pela dissuasão e defesa coletiva. Além dessa função,

4 MARÇO 2015
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