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REVISTA DA ARMADA | 511


          ça para o nosso próprio território e tendo
          como  prioridade  máxima  o  combate  ao
          terrorismo internacional, foram tomadas,
          entre outras, as seguintes decisões para o
          empenhamento  da  NATO  para  além  das
          suas fronteiras:
          • Iniciar um programa de capacitação do
          Iraque em matéria de defesa, incluindo o
          treino de forças iraquianas no seu territó-
          rio.
          • Apoiar a Coligação Internacional contra
          o autodenominado Estado Islâmico,  dis-                                                                Foto Paulo Vaz Henriques
          ponibilizando os aviões Airborne Warning
          And Control System (AWACS) da NATO.
          • Lançar a Operação SEA GUARDIAN, em
          resultado da transição da Operação ACTIVE ENDEAVOUR de arti-  da cimeira, uma vez que contribui simultaneamente para a dissua-
          go 5º para uma Operação de Segurança Marítima. Esta operação   são e defesa e para a projeção de estabilidade.
          manterá um enfoque no Mediterrâneo, podendo ser estendida   Portugal tem também contribuído significativamente para a ci-
          para outras áreas em caso de necessidade.           berdefesa Aliada, tendo em vista a entrada em funcionamento da
          •  Apoiar  e  complementar  as  atividades  da  UE  no  Mediterrâ-  NATO Communications, Information and Cyber Academy de Oeiras
          neo Central, em três vertentes interligadas: apoiar a Operação   já em 2018, e deu mais um importante passo neste domínio, ao
          SOPHIA no combate ao tráfico ilegal de pessoas; preparar para   anunciar em Varsóvia a decisão de aderir ao Centro de Excelência
          responder a um eventual pedido de assistência da Líbia para a   de Ciberdefesa Cooperativa da NATO, em Talin.
          capacitação da sua Marinha; contribuir para a implementação da   Por fim, Portugal apoiou a declaração conjunta entre a NATO e
          Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas (RCS-  a UE sobre as áreas-chave em que a cooperação estratégica será
          NU) 2292 sobre o embargo de armas à Líbia.          reforçada, incluindo a segurança marítima.
                                                                Perante este contexto global, importa agora refletir sobre o con-
          O PAPEL DE PORTUGAL                                 tributo que Portugal poderá vir a dar para as missões e operações
                                                              da Aliança. Assim – tendo em consideração as posições nacionais
           Portugal tem desempenhado um papel importante no debate   que têm vindo a ser defendidas na NATO, agora reafirmadas ao
          político sobre a adaptação da Aliança, sustentando a sua argu-  mais alto nível na cimeira de Varsóvia – Portugal terá vantagem em
          mentação na abordagem de 360°, através da qual se procura dar   manter o nível de participação nas missões a leste, mas concen-
          resposta às preocupações de segurança de todos os Aliados, em   trando agora maiores esforços nas missões da Aliança no flanco sul.
          linha com o princípio fundamental da solidariedade, consagrado   Nesse entendimento, pensamos que o contributo das Forças Arma-
          no Tratado de Washington. E Portugal tem desempenhado esse   das Portuguesas teria maior retorno e visibilidade política com a
          papel de tentar recentrar a atenção da NATO a sul com proprie-  participação nas seguintes operações, missões ou forças Aliadas:
          dade e credibilidade, pois mesmo num período de constrangi-  • Operação SEA GUARDIAN, designadamente quando aquela for
          mentos orçamentais não deixou de contribuir para as seguintes   mandatada a implementar a RCSNU 2292 sobre o embargo de ar-
          medidas de tranquilização dos Aliados de leste:     mas à Líbia e a apoiar a Operação SOPHIA da UE no combate ao
          • Comando do Standing NATO Maritime Group 1 em 2015, com o   tráfico ilegal de pessoas.
          empenhamento de uma fragata nos Mares Báltico e Negro.  • Programas de capacitação das instituições de defesa e das for-
          • Participação de um submarino no Exercício BALTOPS 2016, en-  ças armadas dos parceiros do sul, com enfoque no Iraque (situação
          tre as costas da Polónia e da Estónia.              mais iminente) e na Líbia (assim que as autoridades líbias formula-
          • Liderança da missão de policiamento aéreo dos Estados Bálti-  rem o pedido à NATO), tirando partido da vasta experiência nacio-
          cos e da Roménia com aeronaves F-16, por duas vezes em menos   nal no quadro da Cooperação Técnico-Militar e da Iniciativa 5+5.
          de dois anos.                                       • Standing NATO Maritime Groups, considerando a opção de co-
          • Projeção de uma companhia de reconhecimento para a Lituâ-  mandar um dos dois grupos num futuro próximo, em linha com o
          nia, também já por duas vezes, para participar em ações de trei-  interesse nacional de manter o nível de ambição das forças navais
          no e exercícios.                                    permanentes e de reforçar a postura marítima da Aliança.
           Em Varsóvia, Portugal foi claro ao afirmar que as medidas de   A cimeira de Varsóvia consagrou um importante passo para a vi-
          dissuasão e defesa ora aprovadas encerram o capítulo da adap-  ragem da NATO a sul. Portugal terá agora o desafio acrescido de,
          tação a leste, tendo chegado a hora de começar a implementar o   em conjunto com outros Aliados que partilham da visão portugue-
          quadro (ainda conceptual) de adaptação da NATO aos desafios e   sa, conseguir que a Aliança passe das palavras à ação. E isso exigirá,
          ameaças provenientes do sul.                        também da nossa parte, que não nos fiquemos meramente pelo
           Além disso, enquanto nação marítima, Portugal tem sublinha-  discurso político.
          do a importância desta dimensão para o desempenho das três
          tarefas essenciais da NATO (defesa coletiva, gestão de crises e                          Sardinha Monteiro
          segurança cooperativa) e esteve na linha da frente da decisão                                      CFR
          tomada em Varsóvia de reforçar a postura marítima da Aliança,                                  Silva Pinto
          que assume importância acrescida no contexto dos dois pilares                                 CFR EN-AEL



                                                                                           SETEMBRO/OUTUBRO 2016  5
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