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REVISTA DA ARMADA | 516




          Stratεgia                                                                                     29








          Centros de Excelência da NATO – 1ª Parte




          INTRODUÇÃO

            ste artigo é o primeiro (de dois) dedicado aos Centros
         Ede Excelência da NATO. Aqui se abordam os antece-
          dentes históricos que levaram ao surgimento destas en-
          tidades no seio da Aliança Atlântica, o respetivo conceito
          e os ganhos que as nações buscam quando oferecem um
          Centro de Excelência à NATO. No próximo artigo, expli-
          car-se-á a forma original e inovadora como os Centros de
          Excelência se inserem na estrutura da NATO e descrever-
          -se-á a participação portuguesa nos referidos centros.
           Cabe aqui referir que a denominação Centros de Ex-
          celência  não  é  exclusiva  da  Aliança  Atlântica,  sendo
          empregue em muitos outros âmbitos (incluindo fora da
          esfera militar) para nomear organizações de vanguarda
          que procuram elevados níveis de desempenho numa de-
          terminada área ou matéria. Não obstante, neste artigo usar-se-á   NATO. Para compensar essa redução, as autoridades militares da
          essa denominação para designar apenas os Centros de Excelên-  Aliança Atlântica começaram a estudar a possibilidade de tirar par-
          cia acreditados pela NATO.                          tido de Centros de Excelência existentes em países membros ou,
                                                              mesmo, de estimular a formação de novos Centros de Excelência
          ANTECEDENTES                                        por parte de grupos de países interessados no efeito, sem financia-
                                                              mento comum da NATO. Foi assim que surgiu o conceito para os
           A cimeira de Praga, realizada em 21 e 22 de novembro de 2002,   Centros de Excelência da NATO, normalmente identificados pelo
          foi extremamente importante para o futuro da Aliança Atlântica.   seu acrónimo em língua inglesa: COE, de Centre Of Excellence.
          Entre outras decisões marcantes (como o convite para adesão a
          sete nações da Europa de Leste  e a criação da NATO Response   CONCEITO DOS CENTROS DE EXCELÊNCIA
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          Force) os chefes de Estado e de Governo dos então 19 Aliados de-
          cidiram reestruturar e reduzir a Estrutura de Comandos da NATO   O documento fundador dos Centros de Excelência foi aprovado
          (NATO Command Structure).                           pelo Comité Militar da NATO em junho de 2003. Esse documento,
           Na sequência dessa decisão, foram encerrados vários coman-  intitulado “Conceito para Centros de Excelência”, define-os como
          dos, sendo de realçar que o seu número total passou de 80 em   entidades nacionais ou, preferencialmente, multinacionais , que
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          1994 para 20 após a cimeira de Praga . Houve, ainda, uma re-  oferecem a sua perícia e experiência em benefício da Aliança,
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          designação de alguns quartéis-generais, como o de Lisboa, cujo   especialmente no apoio à transformação, em áreas como a for-
          nome mudou de Commander-in-Chief Southern Atlantic (CINC-  mação, o treino, os exercícios, as lições aprendidas, o desenvolvi-
          SOUTHLANT) para Joint Force Command Lisbon (JFC Lisbon) , sen-  mento de conceitos, a experimentação e a produção doutrinária.
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          do também reconfigurado. Além disso, a reestruturação determi-  O primeiro Centro de Excelência a ser acreditado pela NATO
          nada na cimeira de 2002 implicou a criação de dois comandos   foi o Joint Air Power Competence Centre, na Alemanha, em 2005.
          estratégicos, com uma divisão de tarefas baseada em critérios   Desde então e até esta altura, a NATO já acreditou um total de 23
          funcionais (e já não geográficos, como era habitual até então):   Centros de Excelência, havendo mais um em processo de acre-
          o Comando Aliado para as Operações (Allied Command Opera-  ditação,  conforme  mostrado  na  tabela  junta.  De  início,  alguns
          tions), localizado em Mons (Bélgica) e responsável pelo plane-  Centros de Excelência oferecidos à NATO eram organizações já
          amento e execução das operações; e o Comando Aliado para a   existentes,  cujas  capacidades  eram  disponibilizadas  à  Aliança
          Transformação (Allied Command Transformation), localizado em   Atlântica. Foi o caso, por exemplo, da École de Guerre des Mines
          Norfolk (EUA) e responsável pela transformação da Aliança, i.e.   (Escola de Guerra de Minas das marinhas Belga e Holandesa),
          pelo processo de adaptação contínua da NATO a um ambiente de   que,  em  2006,  conseguiu  a  acreditação  da  NATO  como  Naval
          segurança em permanente evolução.                   Mine Warfare COE. Não obstante, a maior parte dos Centros de
           Naturalmente, esta reestruturação implicou também uma con-  Excelência foi desenvolvida de raiz por grupos de Aliados, com
          siderável  diminuição  do  pessoal  da  Estrutura  de  Comandos  da   o objetivo de complementar as capacidades da NATO em deter-



         4    MARÇO 2017
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