Page 32 - Revista da Armada
P. 32
REVISTA DA ARMADA | 525 REVISTA DA ARMADA | 533
SUMÁRIO
SAÚDE PARA TODOS 58
02 700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento OS VALORES E MÉRITOS
DOS FUZILEIROS 04 SUICÍDIO
07 NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa
Foi há 2 meses e não há um dia que passe sem eu me lembrar dele. Porque é que ele decidiu tomar uma decisão tão radical? Como
09 Lusitano 17 é que não nos apercebemos? Poderia alguém ter feito algo para impedir esta tragédia? Sendo os comportamentos suicidários um
18 Cerimónia Militar problema grave de saúde pública, a OMS instituiu o dia 10 de setembro como o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Em memória de
ti, Bruno, e de todas as vítimas de suicídio, escrevo este artigo a 10 de setembro. Pretendo alertar toda a população para este flagelo
22 Direito do Mar e Direito Marítimo (13) e ajudar a reconhecer potenciais vítimas, bem como clarificar as medidas que se devem adotar nestas situações.
24 Academia de Marinha termo à vida de forma intencional e voluntária. Estima-se que
O suicídio define-se como um ato em que um indivíduo põe
25 Notícias ocorra 1 suicídio no mundo a cada 40 segundos. O número de
tentativas ainda é cerca de 20 vezes maior. Embora as mulhe-
28 Novas Histórias da Botica (66) 11 BALANÇO DAS res tentem suicidar-se com uma frequência três vezes superior à
dos homens, estes consumam o suicídio numa proporção quatro
29 Estórias (37) ATIVIDADES 2017 – MARINHA vezes superior à delas. Em Portugal registam-se cerca de 1000
suicídios/ano, sendo o número de suicídios mais significativo no
30 Vigia da História (97) Alentejo e em pessoas ≥ 65 anos. Esta é já a segunda causa de
morte dos jovens entre os 14 e os 24 anos, a seguir aos aciden-
31 Desporto tes de viação. E, embora com maior raridade, já se começam a
registar suicídios na infância! Porém, não existe um perfil típico
32 Saúde para Todos (51) do suicida: homens e mulheres, novos e velhos, ricos e pobres, DR
pessoas de meios rurais e meios urbanos, pessoas de todas as
33 Quarto de Folga raças, credos e níveis educacionais morrem através de suicídio. de suicídio prévias. Importa, contudo, salientar que cada indi-
víduo lida com o stress e o sofrimento de maneira diferente e,
Os comportamentos suicidas são um flagelo na sociedade.
34 Notícias Pessoais / Convívios Além do suicídio consumado, o comportamento suicida abrange como tal, a presença de múltiplos fatores de risco não implica
forçosamente que a pessoa cometa suicídio. Na maioria dos
as tentativas de suicídio, na qual a pessoa tem intenção de mor-
CC Símbolos Heráldicos rer, mas sobrevive, e os gestos suicidas, que são comportamentos casos é a interação de vários dos fatores supracitados que des-
poleta uma sensação de desespero suficientemente forte para se
ATIVIDADES 2017 – AMN 20 colocar a ideia de suicídio.
autolesivos, sem intenção de morrer, como por exemplo a auto-
BALANÇO DAS
mutilação com cortes superficiais ou queimaduras com cigarros.
Esses atos não devem ser subestimados. Todos os pensamentos Reconhecer os sinais de alarme e intervir de forma eficaz é uma
e comportamentos suicidas, quer se trate de gestos, quer de ten- tarefa importante que poderá salvar vidas. E todos temos essa
tativas, devem ser levados a sério e ajuda médica especializada obrigação! Familiares, amigos, colegas de trabalho e os chama-
deve ser procurada. dos porteiros sociais (exemplo: taxistas, cabeleireiros, barmen,
Um dos mitos à volta do suicídio é que a pessoa que fala sobre o professores, médicos de qualquer especialidade, enfermeiros e
suicídio ou tenta suicidar-se só quer a atenção dos outros. Errado. farmacêuticos) podem identificar mais facilmente os casos de
8 em cada 10 pessoas que se suicidaram verbalizaram este plano risco através de alguns sinais de alarme que pessoas com inten-
antes do ato. Também este pedido desesperado de ajuda não ção suicida exibem: tristeza profunda, perda de autoestima, iso-
equivale a um comportamento manipulativo para obter atenção lamento, desesperança (sensação de que nada vale a pena e que
extra de terceiros! Falar sobre suicídio com a pessoa em risco não já não se está a fazer nada neste mundo), mudanças rápidas de
a levará a cometer o ato, este é normalmente um ato muito pon- humor, redução dos horizontes a um simples tudo-ou-nada, fazer
derado e refletido, e não um ato impulsivo. Portanto, identificar muitos comentários acerca da morte ou suicídio, fazer prepara-
precocemente uma pessoa em risco e ajuda-la a perceber que tivos para a morte como escrever cartas aos amigos/familiares e
precisa de cuidados médicos, reduz os comportamentos suici- dar objetos pessoais de valor sentimental.
das, pois, na maioria dos casos, o suicida escolheria outra forma Se forem detetados alguns sinais de alerta é crucial não deixar
Capa de solucionar os problemas se não estivesse numa angústia tão a pessoa sozinha e levar a pessoa a sério, mantendo-se calmo e
Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme essencialmente escutando. Procurar saber se a pessoa tem pla-
da Brigada Real da Marinha. grande que o impossibilitasse de considerar outras opções para nos específicos e qual o método que pretende adotar. Tentar ser
Foto SMOR L Almeida de Carvalho além do suicídio. A intenção é geralmente livrar-se dos seus pro-
blemas, e não pôr termo à vida! empático e não crítico, realçando sempre o facto de o suicídio
Os principais fatores de risco para o suicídio são a depressão (e ser uma solução permanente para um problema que, ainda que
Revista da
ARMADA outras doenças psiquiátricas tais como a doença bipolar e esqui- parecendo irreversível, pode ter saída. Lembrar a pessoa de que
existe ajuda especializada e que, para seu bem, não deve ficar
zofrenia), alcoolismo, toxicodependência, morte de entes queri-
dos, experiências de vida traumáticas (como os abusos sexuais e sozinha. Deve contatar-se um familiar ou amigo para a acompa-
Publicação Oficial da Marinha Diretor Desenho Gráfico E-mail da Revista da Armada nhar, levar a pessoa a uma urgência médica ou mesmo telefonar
Periodicidade mensal CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria revista.armada@marinha.pt maus-tratos), culpabilidade por atos praticados, perturbações da
Nº 525 / Ano XLVII Chefe de Redação ra.sec@marinha.pt personalidade (impulsividade e agressão), dificuldades socioeco- para o 112 pois, em último recurso, existe a hipótese de interna-
Janeiro 2017 Administração, Redação e Publicidade nómicas (divórcio, residir sozinho, desemprego, reforma, endivi- mento como meio de proteger a pessoa dela própria, enquanto a
CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Revista da Armada – Edifício das Instalações Paginação eletrónica e produção ideação suicida estiver ativa.
Redatora Centrais da Marinha – Rua do Arsenal Página Ímpar, Lda. damento), viver em ambientes de conflito (tais como violência
1149-001 Lisboa – Portugal
Revista anotada na ERC 1TEN TSN -COM Ana Alexandra G. de Brito Telef: 21 159 32 54 Estrada de Benfica, 317 - 1 Fte doméstica ou bullying escolar), ser portador de uma deficiência Ana Cristina Pratas
1500-074 Lisboa
Depósito Legal nº 55737/92 Secretário de Redação física, especialmente se for crónica ou dolorosa, estar sujeito a 1TEN MN
ISSN 0870-9343 SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho Tiragem média mensal: 4000 exemplares
modelos suicidários (familiares ou amigos) e ter feito tentativas www.facebook.com/participanosaudeparatodos
32
JANEIRO 2018 3 SETEMBRO/OUTUBRO 2018

