Page 28 - Revista da Armada 534
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VIGIA DA HISTÓRIA 104
OS DEUSES
DEVEM ESTAR
LOUCOS
s que por cá andam há mais tempo certamente se lembra-
Orão de um filme que, com o nome indicado acima, teve um
grande sucesso, filme esse que relatava, de forma anedótica, as
aventuras (e desventuras) de um africano quando confrontado
com a sociedade moderna.
Foi através desse filme que muitos dos espectadores, talvez
mesmo a sua quase totalidade, tomaram conhecimento da exis-
tência de uma tribo africana cujos membros comunicavam entre
si, fundamentalmente, através de assobios e estalidos vocais.
O facto, que aparentemente era considerado como sendo novi-
dade, já havia sido observado e noticiado anteriormente pelos
portugueses, no decurso das viagens de exploração e descobri-
mento, pelo menos desde 1506. Na verdade, Giovanni de Empoli,
que seguia viagem com Afonso de Albuquerque em 1506, numa
das cartas que escreveu refere a existência de uns negros cuja
“fala é gutural e acompanhada de acenos e assobios “.
Alguns séculos depois, o Governador de Angola, em carta
escrita para o Reino em 1770, refere ter mandado uma expe-
dição, capitaneada por João Pilarte da Silva, em busca de even-
tuais sobreviventes do naufrágio de um navio ocorrido, pouco
tempo antes, nas praias de Macorocas, informando que a expe-
dição teria atingido a zona do Cabo Negro onde haviam encon-
trado ossadas de brancos, eventualmente comidos por canibais,
acrescentando ainda, com alguma surpresa, na dita carta que,
no decurso da expedição, haviam encontrado uns negros que só
comunicavam “com estalidos e assobios”.
É evidente que o Governador desconhecia a descrição efec-
tuada alguns séculos atrás acerca desses negros, tal como aliás
sucedia, no séc. XX, com os espectadores do filme.
Cmdt. E. Gomes
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
Fonte : Arquivo de Angola vol. 1
Notícias para a História das Nações Ultramarinas Tom. II
DR