Page 24 - Revista da Armada 534

REVISTA DA ARMADA | 525 REVISTA DA ARMADA | 534
SUMÁRIO
ATAQUE DO UC 67 E AS PERDAS

02 700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento OS VALORES E MÉRITOS
DOS FUZILEIROS 04 DA FROTA PESQUEIRA PORTUGUESA
07 NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa

09 Lusitano 17 (17 MARÇO 1917)

18 Cerimónia Militar Em trabalhos anteriores, esboçámos afundados, no entanto o UC 67 intimou o

22 Direito do Mar e Direito Marítimo (13) uma primeira tentativa de comensurar abandono dos navios com tiros de canhão,
o impacto da guerra submarina alemã
forçando os pescadores portugueses a aban-
24 Academia de Marinha na economia portuguesa no período da donar os navios. Os pescadores dos caíques
Santa Rita Segunda, Flord d’Abril e Senhora
Grande Guerra. Não nos foi possível apro-
25 Notícias fundar, à luz da erudição histórica e acadé- do Rosário abandonaram os barcos, recor-
mica, esta temática, como desejaríamos,
rendo a pequenas lanchas para se afastarem
28 Novas Histórias da Botica (66) 11 BALANÇO DAS não obstante verificámos que a indústria do submarino. A tripulação do navio Res-
taurador tentou afastar-se, mas um tiro de
pesqueira nacional fora um dos setores
29 Estórias (37) ATIVIDADES 2017 – MARINHA económicos mais afetados neste sentido. canhão partiu o mastro do navio, matando A tripulação de um navio, que será posteriormen-
Segundo conseguimos apurar, pelo menos
um dos tripulantes e ferindo três. Os ale-
30 Vigia da História (97) 7 navios de pesca portugueses foram afun- mães aproximaram-se de uma das lanchas, te afundado, à fala com os elementos de um sub-
mais concretamente a Senhora do Rosário,
dados por submarinos alemães, no entanto
marino alemão. Este era o procedimento habitual
31 Desporto admitimos que possam ser mais. A 17 de intimaram o mestre e um tripulante com as dos submarinos alemães no Atlântico (Colecção
Allan Hunt)
março de 1917, o submarino alemão UC
suas pistolas, para que estes os auxiliassem
32 Saúde para Todos (51) 67, comandado por Karl Neumann, afun- na colocação de bombas nas quilhas dos "comissão de cabos" que se responsabiliza-
navios. As fontes são coincidentes quanto
dou quatro caíques de pesca portugueses
33 Quarto de Folga nas proximidades do Cabo da Roca: o Res- ao uso de bombas no afundamento detas ram pela angariação de donativos por todo
o país, para a compra de novas embarca-
embarcações por parte dos alemães. Antes
taurador; o Primeira Flor d’Abril; o Santa
1
34 Notícias Pessoais / Convívios Rita Segunda e o Senhora do Rosário . do golpe final, os alemães extorquiram algu- ções para os pescadores que vivenciaram
o ataque. Vários grupos económicos doa-
Karl Neumann, ao comando do UC 67
mas peças de roupa e peixe fresco que esta-
CC Símbolos Heráldicos desde dezembro de 1916, seguia em dire- vam a bordo. ram quantias significativas a esta comissão
da armada, como a Companhia Carris de
ção ao Mediterrâneo, navegando ao largo
As lanchas dos navios Santa Rita Segunda,
BALANÇO DAS da costa portuguesa em meados de março Flord d’Abril e Senhora do Rosário chega- Ferro de Lisboa, a Companhia União Fabril
ATIVIDADES 2017 – AMN 20 de 1917. A 20 milhas a oeste do Cabo da ram paulatinamente à baía de Cascais dois ou a Glama & Marinho. Algumas figuras
Roca, às 18h Neumann deparou-se com dias depois, seguindo posteriormente para proeminentes da sociedade portuguesa
os quatro caíques de pesca algarvios, que bordo do caíque de pesca Maria da Con- aderiram à causa, servindo de exemplo o
no dia anterior tinham aportado na baía ceição com destino a Lisboa. A lancha do político e escritor Guerra Junqueiro. No
de Cascais para a venda de peixe. A frota Restaurador foi encontrada pelas patrulhas dia seguinte, a 18 de março de 1917, Karl
pesqueira algarvia era composta por uma locais, sendo esta rebocada até Cascais Neumann afundou o vapor sueco Victoria
tripulação de 103 homens, cujas embarca- pelos vapores República e Augusto de Cas- ao largo da costa algarvia. O afundamento
ções perfaziam um total de aproximada- tilho. Um dos feridos foi conduzido até ao dos quatro caíques portugueses era o pre-
mente 84 toneladas de arqueação bruta. hospital de S. José. Os náufragos permane- lúdio de uma campanha bem-sucedida no
As fontes consultadas sugerem a presença ceram brevemente no Instituto de Socorros Mediterrâneo.
de dois submarinos alemães no local do a Náufragos e foram entregues 6 escudos Miguel Castro Brandão
Investigador do CINAV
ataque, provenientes de sentidos opostos: a cada elemento da tripulação. O governo Investigador do CITCEM
norte e sul (Ajax, 1918: 17). Apesar da pre- custeou o transporte dos pescadores até Notas:
sença ou mera passagem de um outro sub- ao Algarve. A obra The German Pirate – His 1
Somente o navio Restaurador provinha da Fuze-
marino germânico vindo de sul, somente Methods and Record (Ajax, 1918), publicada ta, os restantes navios eram originários do porto
Karl Neumann afundou os quatro caíques por um autor anónimo que utiliza o pseudó- de Olhão.
Capa em questão. A documentação da Armada nimo Ajax, fala-nos deste episódio. O autor 2 As fontes consultadas não identificam o nome
Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme do segundo submarino em questão.
da Brigada Real da Marinha. regista a presença de um segundo subma- confirma o saque alemão e a envolvência de
Foto SMOR L Almeida de Carvalho rino, alegando que este, vindo de sul, em dois submarinos no ataque, no entanto Ajax Bibliografia:
nada contribuiu para o ataque. Os periódi- apresenta-se em grande medida lacónico Ajax (1918), The German Pirate – His Methods
cos O Comércio do Porto e A Capital admi- sobre este episódio em particular. and Record, New York, George H. Doran Company.
Revista da
Fontes Hemerográficas:
ARMADA tem igualmente este facto, não obstante 1917, foi sem dúvida um dos episódios A Capital, 13 de Abril de 1917, p.3.
O ataque do UC 67 a 17 de março de
estas fontes periódicas sugerem-nos uma
A Capital, 14 de Abril de 1917, p.3.
tentativa de cerco por parte de ambos os mais dramáticos em torno da guerra sub- A Capital, 19 de março de 1917, p.2.
Publicação Oficial da Marinha Diretor Desenho Gráfico E-mail da Revista da Armada O Comércio do Porto, 20 de março de 1917, p.4.
Periodicidade mensal CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria revista.armada@marinha.pt submarinos. Não podemos afirmar com marina ao largo da costa portuguesa, rece- Documentos:
Nº 525 / Ano XLVII Chefe de Redação ra.sec@marinha.pt segurança se efetivamente o segundo bendo, inclusive, algum mediatismo nos Arquivo Geral da Marinha (AGM), Ministério da
2
Janeiro 2017 Administração, Redação e Publicidade submarino participou ativamente nesta demais periódicos da época. A Armada
CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Revista da Armada – Edifício das Instalações Paginação eletrónica e produção Marinha, Divisão Naval, nota nº 1153, 18 de mar-
Redatora Centrais da Marinha – Rua do Arsenal Página Ímpar, Lda. tentativa de cerco aos 4 caíques de pesca, portuguesa compartilhou uma compaixão ço de 1917.
Recursos eletrónicos:
1149-001 Lisboa – Portugal
Revista anotada na ERC 1TEN TSN -COM Ana Alexandra G. de Brito Telef: 21 159 32 54 Estrada de Benfica, 317 - 1 Fte juntamente com Karl Neumann. enorme para com os pescadores lesados, Ships Hit during WW1 [Consulta em 20.09.2018].
1500-074 Lisboa
Depósito Legal nº 55737/92 Secretário de Redação As fontes não são exatamente concor- mobilizando-se no sentido de os apoiar Disponível em: https://uboat.net/wwi/ships_hit/
ISSN 0870-9343 SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho Tiragem média mensal: 4000 exemplares dantes no modo como os navios foram financeiramente. A Armada criou uma search.php
24
JANEIRO 2018 3 NOVEMBRO 2018