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SUMÁRIO
NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA 73
02 700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento OS VALORES E MÉRITOS OS AÇORES, O MAR E A NOSSA ALMA…
DOS FUZILEIROS 04
07 NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa
09 Lusitano 17 Aquilo que nos é dado dura, e nós dentro dele, com ele, por ele. Não é a flor do instante que nos perfuma mas o presente eterno do
que dura e passa, do que dura e não passa.
18 Cerimónia Militar In “O pequeno caminho das grandes perguntas”, Tolentino Mendonça, 2017
22 Direito do Mar e Direito Marítimo (13) ui aos Açores, mais precisamente -O doutor ainda vai ter muitas
24 Academia de Marinha Fà “mui leal” (como está escrito na saudades disto!
sala principal da Sociedade Amor da
Foi como se uma maré de for-
25 Notícias Pátria) cidade da Horta. Fui a con- tes recordações tomasse conta
vite, para falar numa conferência
de mim como um vento na face,
28 Novas Histórias da Botica (66) 11 BALANÇO DAS científica sobre a minha área médica que não deixa lugar para outra
respiração. Foram memórias das
de conhecimento, a cardiologia, que
29 Estórias (37) ATIVIDADES 2017 – MARINHA decorreu precisamente na Socie- correrias que na marginal fazia
dade Amor da Pátria. Como muitos
(…e agora refiz), das saídas aos
30 Vigia da História (97) outros da minha geração, conheço restaurantes, dos amigos, do
muito bem o Arquipélago dos Aço-
sentir belo da neblina, da chuva
31 Desporto res. Fiz várias comissões de embar- e do sol no mesmo dia, dos livros
que, em corvetas, com visitas por
e dos poemas… que em tal sítio
32 Saúde para Todos (51) todas as ilhas e mar, muito mar… faziam mais que sentido… eram
Encontrei uma Horta muito seme-
reais e talvez ainda sejam… Foi
33 Quarto de Folga lhante àquela que, repetidamente e então que percebi que o mar se
entranhou em mim, de modos
sempre com alegria, visitei… Ainda
34 Notícias Pessoais / Convívios bem, gosto dela assim mesmo. Na que ainda não são do meu total
conhecimento. Que o mar per-
verdade, tenho na Horta muitos
CC Símbolos Heráldicos amigos entre os médicos e não só. dura, na nossa alma, e dá sen-
ATIVIDADES 2017 – AMN 20 e, tenho por certo, seremos
tido àquilo que fazemos, somos
Estes médicos amigos eram todos
BALANÇO DAS
do meu curso de medicina, da Facul-
dade de Medicina de Lisboa. Assim, sempre… Marinheiros na alma.
não visitava só o lugar, visitava tam- Visitei o restaurante “Genuíno”,
bém os amigos. Desta vez fui, de de um cavalheiro com o mesmo
uma forma inesperadamente súbita nome, que completou duas vol-
e intensa, confrontado, no interior tas ao mundo, numa navegação
de mim mesmo, com as minhas pró- solitária, em veleiro. Trata-se
prias memórias antigas da cidade. de um restaurante decorado
Fui confrontado, novamente e à maneira naval, completo até
sem aviso, com a beleza e majestosidade da Ilha do Pico, vista com crestas de vários navios da Armada, de velhas corvetas e
da Horta, dourada por um nascer do sol esplendoroso… talvez até já de navios mais modernos, tendo ele próprio já servido
das vistas mais belas do Mundo. Fui também assaltado pelas na Marinha. Parece uma casa fora de casa. Se completarmos
emoções que, sem sabermos, estão dentro de nós e “duram” e, aquela visita com o eterno “Peter,” cheio da temática naval, com
recordei-o, sem o sabermos “não passam”… Lembrando-nos, tal um dono e amigo (…o Zé Henrique) que ostenta o seu respeito
como a citação acima, que “não é a flor do instante que perfuma” pelos homens do mar… e que sempre me tratou com um respeito
a alma. São as memórias esquecidas, os cheiros e os silêncios, os desusado nos tempos que correm, concluímos, sem grande sur-
Capa risos e as lágrimas, guardadas em lugares recônditos da alma, presa, que deverá haver poucos lugares no mundo em que um
Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme onde não vamos normalmente. Contudo esse sentir, essa memó- marinheiro, português, mesmo médico e sem grande jeito para a
da Brigada Real da Marinha.
Foto SMOR L Almeida de Carvalho ria está lá naquele lugar de silêncios, que faz com que cada um escrita, possa sentir-se tão em casa…
seja “eu” e, sim, iluminam o nosso ser, dão cor à nossa persona- No final, mais que a nostalgia de um lugar, onde se navegou,
lidade nos silêncios não ditos, surpreendem quem nos conhecia, fica-se com a nostalgia da viagem, feita ao longo da vida, dentro
Revista da
ARMADA antes de nós próprios conhecermos o mar… de nós próprios. Acontece, agora, que no promontório elevado
Fui, naqueles dias, invadido por uma nostalgia do tempo em
em que a Marinha considerou colocar-me, sou permanente-
que demandava aqueles portos, imersos na bruma. Essa saudade mente confrontado com uma visão de conjunto, de quem não
Publicação Oficial da Marinha Diretor Desenho Gráfico E-mail da Revista da Armada
Periodicidade mensal CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria revista.armada@marinha.pt ardeu-me no ser, com um calor esquecido e renovado, nos dias reconhece tal sentir, não reconhece o sabor da vida, ou do sal,
Nº 525 / Ano XLVII Chefe de Redação ra.sec@marinha.pt em que estive por lá e nos dias seguintes. Foi uma saudade ben- que o vento traz de ilhas perdidas na nossa alma. Sinto, contudo,
Janeiro 2017 Administração, Redação e Publicidade dita, de um tempo livre, em que muitas vezes o sal me envolvia que não posso, nem devo fazer esquecer aos mais novos, a nossa
CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira Revista da Armada – Edifício das Instalações Paginação eletrónica e produção
Redatora Centrais da Marinha – Rua do Arsenal Página Ímpar, Lda. e o tempo, de um tempo sem tempo, parecia não correr… Na diferença. Não posso perder de vista o mar… Julgue-me o mari-
1149-001 Lisboa – Portugal
Revista anotada na ERC 1TEN TSN -COM Ana Alexandra G. de Brito Telef: 21 159 32 54 Estrada de Benfica, 317 - 1 Fte verdade, verifiquei tantos anos passados, fui ingénuo, deveria ter nheiro desconhecido, que comigo partilhou o balanço, o mar
1500-074 Lisboa
Depósito Legal nº 55737/92 Secretário de Redação ouvido as vozes de velhos marinheiros que afirmavam numa voz pela popa e o desejo de chegar…
ISSN 0870-9343 SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho Tiragem média mensal: 4000 exemplares aberta: Doc
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JANEIRO 2018 3 DEZEMBRO 2018