Page 30 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 525  REVISTA DA ARMADA | 535
 SUMÁRIO
         NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA                                                                         73

 02  700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento  OS VALORES E MÉRITOS   OS AÇORES, O MAR E A NOSSA ALMA…
 DOS FUZILEIROS 04
 07   NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa

 09   Lusitano 17  Aquilo que nos é dado dura, e nós dentro dele, com ele, por ele. Não é a flor do instante que nos perfuma mas o presente eterno do
          que dura e passa, do que dura e não passa.
 18  Cerimónia Militar                                         In “O pequeno caminho das grandes perguntas”, Tolentino Mendonça, 2017

 22  Direito do Mar e Direito Marítimo (13)  ui aos Açores, mais precisamente           -O doutor ainda vai ter muitas

 24  Academia de Marinha  Fà “mui leal” (como está escrito na                          saudades disto!
          sala principal da Sociedade Amor da
                                                                                        Foi como se uma maré de for-
 25  Notícias  Pátria) cidade da Horta. Fui a con-                                     tes  recordações  tomasse  conta
          vite,  para  falar  numa  conferência
                                                                                       de mim como um vento na face,
 28  Novas Histórias da Botica (66)  11  BALANÇO DAS    científica sobre a minha área médica   que não deixa lugar para outra
                                                                                       respiração. Foram memórias das
          de conhecimento, a cardiologia, que
 29  Estórias (37)  ATIVIDADES 2017 – MARINHA decorreu  precisamente  na  Socie-       correrias  que  na  marginal  fazia
          dade Amor da Pátria. Como muitos
                                                                                       (…e agora refiz), das saídas aos
 30  Vigia da História (97)  outros  da  minha  geração,  conheço                      restaurantes,  dos  amigos,  do
          muito bem o Arquipélago dos Aço-
                                                                                       sentir belo da neblina, da chuva
 31  Desporto  res. Fiz várias comissões de embar-                                     e do sol no mesmo dia, dos livros
          que,  em  corvetas,  com  visitas  por
                                                                                       e dos poemas… que em tal sítio
 32  Saúde para Todos (51)  todas as ilhas e mar, muito mar…                           faziam mais que sentido… eram
           Encontrei uma Horta muito seme-
                                                                                       reais e talvez ainda sejam… Foi
 33  Quarto de Folga  lhante àquela que, repetidamente e                               então que percebi que o mar se
                                                                                       entranhou  em  mim,  de  modos
          sempre com alegria, visitei… Ainda
 34  Notícias Pessoais / Convívios  bem,  gosto  dela  assim  mesmo.  Na               que ainda não são do meu total
                                                                                       conhecimento.  Que  o  mar  per-
          verdade,  tenho  na  Horta  muitos
 CC  Símbolos Heráldicos  amigos entre os médicos e não só.                            dura, na nossa alma, e dá sen-
 ATIVIDADES 2017 – AMN 20                                                              e,  tenho  por  certo,  seremos
                                                                                       tido àquilo que fazemos, somos
          Estes  médicos  amigos  eram  todos
 BALANÇO DAS
          do meu curso de medicina, da Facul-
          dade de Medicina de Lisboa. Assim,                                           sempre… Marinheiros na alma.
          não visitava só o lugar, visitava tam-                                        Visitei o restaurante “Genuíno”,
          bém  os  amigos.  Desta  vez  fui,  de                                       de um cavalheiro com o mesmo
          uma forma inesperadamente súbita                                             nome, que completou duas vol-
          e  intensa,  confrontado,  no  interior                                      tas ao mundo, numa navegação
          de mim mesmo, com as minhas pró-                                             solitária,  em  veleiro.  Trata-se
          prias memórias antigas da cidade.                                            de  um  restaurante  decorado
           Fui  confrontado,  novamente  e                                             à  maneira  naval,  completo  até
          sem aviso, com a beleza e majestosidade da Ilha do Pico, vista   com crestas de vários navios da Armada, de velhas corvetas e
          da Horta, dourada por um nascer do sol esplendoroso… talvez   até  já  de  navios  mais  modernos,  tendo  ele  próprio  já  servido
          das  vistas  mais  belas  do  Mundo.  Fui  também  assaltado  pelas   na  Marinha.  Parece  uma  casa  fora  de  casa.  Se  completarmos
          emoções que, sem sabermos, estão dentro de nós e “duram” e,   aquela visita com o eterno “Peter,” cheio da temática naval, com
          recordei-o, sem o sabermos “não passam”… Lembrando-nos, tal   um dono e amigo (…o Zé Henrique) que ostenta o seu respeito
          como a citação acima, que “não é a flor do instante que perfuma”   pelos homens do mar… e que sempre me tratou com um respeito
          a alma. São as memórias esquecidas, os cheiros e os silêncios, os   desusado nos tempos que correm, concluímos, sem grande sur-
 Capa     risos e as lágrimas, guardadas em lugares recônditos da alma,   presa, que deverá haver poucos lugares no mundo em que um
 Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme   onde não vamos normalmente. Contudo esse sentir, essa memó-  marinheiro, português, mesmo médico e sem grande jeito para a
 da Brigada Real da Marinha.
 Foto SMOR L Almeida de Carvalho  ria está lá naquele lugar de silêncios, que faz com que cada um   escrita, possa sentir-se tão em casa…
          seja “eu” e, sim, iluminam o nosso ser, dão cor à nossa persona-  No final, mais que a nostalgia de um lugar, onde se navegou,
          lidade nos silêncios não ditos, surpreendem quem nos conhecia,   fica-se com a nostalgia da viagem, feita ao longo da vida, dentro
 Revista da
 ARMADA    antes de nós próprios conhecermos o mar…           de nós próprios. Acontece, agora, que no promontório elevado
           Fui, naqueles dias, invadido por uma nostalgia do tempo em
                                                              em  que  a  Marinha  considerou  colocar-me,  sou  permanente-
          que demandava aqueles portos, imersos na bruma. Essa saudade   mente confrontado com uma visão de conjunto, de quem não
 Publicação Oficial da Marinha   Diretor   Desenho Gráfico   E-mail da Revista da Armada
 Periodicidade mensal   CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos   ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria  revista.armada@marinha.pt    ardeu-me no ser, com um calor esquecido e renovado, nos dias   reconhece tal sentir, não reconhece o sabor da vida, ou do sal,
 Nº 525 / Ano XLVII   Chefe de Redação   ra.sec@marinha.pt   em que estive por lá e nos dias seguintes. Foi uma saudade ben-  que o vento traz de ilhas perdidas na nossa alma. Sinto, contudo,
 Janeiro 2017    Administração, Redação e Publicidade   dita, de um tempo livre, em que muitas vezes o sal me envolvia   que não posso, nem devo fazer esquecer aos mais novos, a nossa
 CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira   Revista da Armada – Edifício das Instalações   Paginação eletrónica e produção
 Redatora   Centrais da Marinha – Rua do Arsenal    Página Ímpar, Lda.  e o tempo, de um tempo sem tempo, parecia não correr… Na   diferença. Não posso perder de vista o mar… Julgue-me o mari-
 1149-001 Lisboa – Portugal
 Revista anotada na ERC   1TEN TSN -COM Ana Alexandra G. de Brito   Telef: 21 159 32 54    Estrada de Benfica, 317 - 1 Fte   verdade, verifiquei tantos anos passados, fui ingénuo, deveria ter   nheiro  desconhecido,  que  comigo  partilhou  o  balanço,  o  mar
 1500-074 Lisboa
 Depósito Legal nº 55737/92   Secretário de Redação   ouvido as vozes de velhos marinheiros que afirmavam numa voz   pela popa e o desejo de chegar…
 ISSN 0870-9343    SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho    Tiragem média mensal: 4000 exemplares   aberta:  Doc

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