Page 28 - Revista da Armada
P. 28

REVISTA DA ARMADA | 525  REVISTA DA ARMADA | 538
 SUMÁRIO
         ESTÓRIAS                                                                                          47

 02  700 Anos da Marinha – Cerimónia de Encerramento  OS VALORES E MÉRITOS   A CASAMENTO E A BAPTIZADO...
 DOS FUZILEIROS 04
 07   NRP Viana do Castelo. Frontex – Missão Lampedusa

 09   Lusitano 17  estas pequenas estórias a que assisti, dir-se-á que não têm   Eis  o que aconteceu:  Ponta Delgada, S.  Miguel.  No  jardim

 18  Cerimónia Militar  Dpés nem cabeça. E têm razão, pois só quem as vive é que as   Antero de Quental, muitas pessoas e  o nosso  grupo de mari-
                                                              nheiros aguardando a passagem da procissão do “Senhor Santo
          sofre e entende. Também, verdade seja dita, não sei por onde as
 22  Direito do Mar e Direito Marítimo (13)  começar: se pelo princípio, se pelo fim. Para variar, relato-as ao   Cristo”. Numa janela de sacada, de ferro forjado, uma placa “Polí-
          sabor das recordações e com o meu fraco poder de síntese.
                                                              cia de Investigação e Defesa do Estado”. Aparece um tipo, coloca
 24  Academia de Marinha  zação  em  girobússolas),  tinha  obrigatoriamente  de  passar  por   uma vela na sacada, risca um fósforo e acende a vela. O Tininha,
           Sempre que  era nomeado  para ir ao  estrangeiro  (especiali-
                                                              do outro lado da rua, assoprou e… a vela apagou-se. Gargalha-
 25  Notícias  um  departamento  da  PIDE,  na  Calçada  de  S.  Francisco,  para   das e palmas. O “pide” desce à rua, dirige-se ao nosso grupo, diz
          obter o passaporte, onde respondia, por escrito, a questionário
                                                              umas coisas ao que o Tininha responde com um “Vai dar milho
 28  Novas Histórias da Botica (66)  11  BALANÇO DAS    extenso e minucioso: profissão, estado   aos pombos”.
                                                                                  Assim,  no  contexto  da  PIDE,  recordo
          civil, para onde ia, quanto tempo, filia-
 29  Estórias (37)  ATIVIDADES 2017 – MARINHA ção,  avós paternos e  maternos – e  foi   outra estória que, não me entristeceu,
                                                                                 não me revoltou, mas pelo contrário, me
          aqui que meti água. Não sabia, porque
 30  Vigia da História (97)  nunca soube, o nome dos  meus avós.                 rejubilou. Hoje, volvidos 65 anos, sinto o
                                                                                 mesmo gozo. O Tininha foi vingado.
          Em minha vida só conheci a minha avo-
 31  Desporto  zinha, mãe da minha mãe e, no questio-                            anos depois da prisão do Tininha. Está o
                                                                                  Eu conto: Goa, Dezembro de 1953, sete
          nário,  foi  isso  que  escrevi:  “avozinha”.
 32  Saúde para Todos (51)  Estava eu nos EUA (Great Lakes, Illinois)            Aviso  de  1ª  Classe  “Bartolomeu  Dias”
          cursando  a  girobússola  “SPERRY  MK
                                                                                 fundeado em Mormugão, mais propria-
 33  Quarto de Folga  XXIII”,  quando  recebi  carta  e  a  notícia              mente em Dona Paula. Os sargentos CM
          da visita a casa dos meus sogros de um
                                                                                 Zé Marques, Fausto Henriques e eu, AE,
 34  Notícias Pessoais / Convívios  rapaz  que  se  apresentou  como  “meu       organizámos uma festa de Natal. Devida-
          amigo”; também de Lagos, conhecia as
                                                                                 mente  autorizada  pelo  Imediato,  Cap.-
 CC  Símbolos Heráldicos  minhas irmãs e até os seus nomes. Per-                 -Ten. Adelino Vieira, convidámos quatro
 ATIVIDADES 2017 – AMN 20                                                        camaradas do exército já nossos conhe-
          guntou se sabia o nome dos meus avós.
 BALANÇO DAS
                                                                                 cidos que prestavam serviço em Pangim
          Respondeu  a minha  mulher  que não,
          pois  sempre  ouvira falar apenas numa                                 e Margão. À hora marcada foi o nosso
          avozinha.  Finda  a  visita  pediu-lhe  para                           gasolina buscá-los a terra. Para espanto
          que,  quando  voltasse  a  Lagos,  desse                               nosso, em vez de quatro aparecem sete.
          cumprimentos às suas cunhadas.  Só                                     O Zé  Marques quis  logo saber  quem
          algum  tempo  depois  é que se fez luz:                                eram os desconhecidos e quem os con-
          “ai que este tipo era da PIDE!” E estava                               vidara. Dos camaradas do exército cada
          certa  pois,  em  idênticos  questionários,                            um deles pensava ser  um dos outros.
          respondi  sempre da mesma  forma  e                                    É então que um dos intrusos diz serem
          sem mais problemas. Foi assim quando                                   da PIDE e que gostariam de confraterni-
                                                                1
          fui a França, Montluçon, para estudar a girobússola “SAGEM”; o   zar . Mas o Zé Marques tinha outra ideia. Foi falar com o nosso
          mesmo em Inglaterra, Watford, para a “ARMA BROWN”, e nova-  Imediato e expôs o problema. Resposta rápida: “Estou de acordo
          mente aos Estados Unidos para a “SPERRY MK XIX”.    consigo. Se não foram convidados, acho bem que os ponham em
           E isto dos “pides” leva-me a recordar a prisão do Tininha, 2º-Ma-  terra”. E assim se fez. Os pides foram, agora sim, “convidados”
          rinheiro electricista, no NRP Vouga, no regresso de uma comissão   a sair de bordo e colocados em terra. Não foi bonito? Eu gostei!
          (1946) de 5 meses aos Açores. Já em Lisboa, frente ao forte de S.   Mais, adorei! Assim se respeitou o adágio popular: “A casamento
 Capa     Julião da Barra, soam os telégrafos na casa da máquina: “stop”   e a baptizado não vás sem ser convidado”.
 Pelotão de Fuzileiros desfilando com o uniforme
 da Brigada Real da Marinha.  logo seguido de um “devagar a ré”. Que se passa? Interrogamo-  Termino, homenageando todos os que, de alguma forma, foram
 Foto SMOR L Almeida de Carvalho  -nos. Subo ao convés. A BB é arriado o portaló. A lancha da Polícia   vítimas da prepotência aviltante.
          Marítima Roaz atraca ao navio e sobem a bordo três civis (PIDE)   “Não bastaria a natureza inteira, Não bastaria o céu para voar-
          que, sem darem cavaco aos oficiais que estavam junto ao patim   des, E prendem-vos assim desta maneira!... Covardes!” (Guerra
 Revista da
 ARMADA    superior, dirigem-se sem hesitações à coberta dos torpedeiros,   Junqueiro, em “O Melro”).
          despejam o cacifo do Tininha, depois descem à central de vante e
                                                               Com saudades do mar…
          prendem-no. De salientar que ele se encontrava no seu posto de                             Teodoro Ferreira
 Publicação Oficial da Marinha   Diretor   Desenho Gráfico   E-mail da Revista da Armada                1TEN SG REF
 Periodicidade mensal   CALM EMQ João Leonardo Valente dos Santos   ASS TEC DES Aida Cristina M.P. Faria  revista.armada@marinha.pt    faina e, pasme-se, tudo isto sem qualquer oposição de quem quer
 Nº 525 / Ano XLVII   Chefe de Redação   ra.sec@marinha.pt   que fosse. Total intromissão no nosso navio. Total impunidade.   N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico
 Janeiro 2017    Administração, Redação e Publicidade   Um vexame, uma vergonha. Inacreditável. Inesquecível.
 CMG Joaquim Manuel de S. Vaz Ferreira   Revista da Armada – Edifício das Instalações   Paginação eletrónica e produção   Notas:
 Redatora   Centrais da Marinha – Rua do Arsenal    Página Ímpar, Lda.  Uns anos depois encontrei o Tininha e recordámos esse tempo   1   Já uns dias antes fôramos avisados, pelo Sr. Pinto, dono do “Café Caravela”,
 1149-001 Lisboa – Portugal
 Revista anotada na ERC   1TEN TSN -COM Ana Alexandra G. de Brito   Telef: 21 159 32 54    Estrada de Benfica, 317 - 1 Fte   mau. Disse ele: “Estive três meses preso. É para esquecer. Não   em Pangim, que um tipo que se sentara à nossa mesa era da PIDE e chama-
 1500-074 Lisboa
 Depósito Legal nº 55737/92   Secretário de Redação   tinham por onde me pegar”; e rematou com ar travesso: “só se   va-se Casimiro Monteiro (sim, o mesmo que em 1965 assassinou o General
 ISSN 0870-9343    SMOR L Mário Jorge Almeida de Carvalho    Tiragem média mensal: 4000 exemplares    Humberto Delgado, perto de Badajoz).
          foi por ter apagado a vela da sacada da PIDE”.
          28
 JANEIRO 2018  3  MARÇO 2019
   23   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33