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REVISTA DA ARMADA | 540
Ocidental Koln. Portugal foi o país seguinte a Fragata Comandante Roberto Ivens, integrada na STANAVFORLANT, num exercício de aproximação para
juntar-se à força, logo no ano imediato, com reabastecimento, no Golfo da Biscaia, em 1985.
a integração da fragata Almirante Pereira
da Silva, em 12 de maio de 1969. Refira-se
que as três fragatas dessa classe tinham
sido cofinanciadas pela NATO, na condição
de serem empregues exclusivamente no
quadro da Aliança Atlântica. O ano de 1973
assinalou outro marco na participação lusa
na STANAV FORLANT, uma vez que o cargo
de chefe do estado-maior da força foi, pela
primeira vez, ocupado por um oficial portu-
guês: o capitão-de-fragata Cardoso Tavares.
Desde então, a Marinha foi participando
nesta força naval permanente por períodos
de cerca de quatro meses por ano – inicial-
mente com as fragatas da classe Almirante
Pereira da Silva e, a partir de 1983, com as
fragatas da classe Comandante João Belo.
Nessa altura, i.e., em plena guerra fria, as “Nenhum marinheiro de nenhuma nação durante a guerra fria os meios e as forças da
unidades navais portuguesas integradas na quer ser pior do que os outros e eu teste- Aliança somente participaram em exercícios.
STANAVFORLANT exercitavam conceitos munhei, continuamente, as guarnições dos Foi a operação SOUTHERN GUARD, desenca-
essencialmente defensivos, tendo em vista navios menos modernos «darem o litro» deada durante a primeira guerra do Golfo
a proteção dos corredores de navegação para mostrar que conseguiam desempe- (Inverno de 1991), que envolveu a NAVOC-
transatlânticos, designadamente, de com- nhos ao nível dos «Rolls Royces»”. Não sei se FORMED, contando com a participação da
boios de navios transportando reforços mili- estas declarações foram feitas a pensar nas fragata portuguesa Comandante Sacadura
tares para a Europa (com foco nas táticas guarnições dos navios portugueses, mas elas Cabral. Pouco depois, confrontada com os
de luta anti-submarina e anti-aérea), não assentavam-lhes na perfeição. crescentes desafios na sua fronteira seten-
descurando, contudo, planos de operações Entretanto, com a queda do muro de Ber- trional, a NATO reconfigurou a NAVOCFOR-
contemplando uma eventual confrontação lim, em novembro de 1989, e a posterior MED de forma a que constituísse a segunda
direta no mar. dissolução do Pacto de Varsóvia, em março força naval permanente da Aliança, pas-
Um dos aspetos mais interessantes da de 1991, a NATO alterou a sua estratégia, sando a designar-se Standing Naval Force
STANAVFORLANT era o facto de os navios passando de um conceito restrito de defesa Mediterranean (STANAVFORMED).
integrarem a força numa base de igualdade, (associado à resposta flexível) para um Entretanto, também em 1991, a Marinha
independentemente da dimensão de cada conceito alargado de segurança, visando a viu serem aumentadas ao seu efetivo as fra-
marinha. Havia naturais diferenças de idade, prevenção de conflitos e a atuação fora de gatas da classe Vasco da Gama que – com as
de valor combatente e de capacidades entre área (i.e., para além das áreas de atuação suas modernas capacidades de comando e
as várias unidades navais, mas, uma vez inte- tradicionais da NATO: o Atlântico e o Medi- controlo, os seus sofisticados sensores e sis-
gradas na força, todas contribuíam o melhor terrâneo), numa conceção de fronteira de temas de armas, e os seus versáteis helicóp-
que podiam para o desempenho global. Veri- segurança mais alargada do que a fronteira teros orgânicos (apenas integrados a partir
ficava-se, até, que as guarnições dos navios literal. Usando a gíria informática, o ano de de 1995) – permitiram potenciar o desem-
com menores capacidades se empenhavam 1991 testemunhou a evolução da NATO 1.0 penho nacional nas forças navais da NATO,
em potenciar ao máximo o desempenho dos para a NATO 2.0. como ficou comprovado com a primeira
seus navios. Como referiu o comodoro F. J. Nesse mesmo ano e pela primeira vez atribuição da Vasco da Gama à STANAVFOR-
Haver Droeze (Marinha Holandesa), coman- desde a sua criação em 1949, a NATO envol- LANT logo em 1992. Porém, o salto qualita-
dante da STANAVFORLANT em 1986/87: veu-se numa operação real, uma vez que tivo então conseguido não se deveu apenas
à evolução tecnológica, mas, também, à
potenciação da formação e do treino, con-
seguida, em grande parte, pela parceria com
a Royal Navy, que permitiu, desde 1991, o
recurso ao Flag Officer Sea Training, que
tem vindo a proporcionar, desde então, um
treino de excelência e de grande exigência às
unidades navais nacionais.
Tudo isso permitiu que Portugal passasse
a integrar o restrito número de Aliados com
capacidade para comandar, em regime de
rotação, as forças navais permanentes da
NATO, o que aconteceu pela primeira vez
em 1995/96, conforme relatarei no pró-
ximo artigo.
Sardinha Monteiro
Fragata Vasco da Gama na primeira integração de um navio da sua classe na STANAVFORLANT, em 1992.
CMG
MAIO 2019 5