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REVISTA DA ARMADA | 549
SAÚDE PARA TODOS 73
APENDICITE AGUDA
Apendicite aguda é o nome dado à infl amação do apêndice cecal, que é uma bolsa com 5-10 cm e formato de tubo, localizada na pri-
meira porção do cólon (região inferior direita do abdómen). Esta doença é relaƟ vamente comum e manifesta-se de diversas formas,
por vezes simulando outros quadros clínicos – o que pode levar a um atraso no diagnósƟ co e no tratamento, com aumento do risco
de complicações, tais como perfuração do apêndice, abcesso, İ stulas, hemorragias e disseminação da infeção para o peritoneu ou
outros órgãos.
EPIDEMIOLOGIA No exame objeƟ vo constata-se dor na palpação abdominal.
Aproximadamente 7% da população é diagnosƟ cada com apen- Esta dor pode ser generalizada e inespecífi ca numa fase inicial
dicite aguda ao longo da sua vida. Pode ocorrer em indivíduos de da doença mas cerca de 24h depois já é mais focalizada no ponto
todas as idades, mas é mais comum entre os 10 e os 30 anos, com de McBurney, na fossa ilíaca direita. Pode ser pesquisado o sinal
discreto predomínio no sexo masculino. A apendicite aguda é a de Rovsing que consiste em palpar o abdómen do lado esquerdo
principal causa de cirurgia abdominal urgente em idade pediátrica. e observar se a dor surge do lado direito, no ponto de McBur-
A taxa de mortalidade é inferior a 1% em casos não complicados, ney. Também a dor pode tornar-se mais intensa quando se ter-
contudo se o tratamento não é célere e surgem complicações, a mina a palpação abdominal direita, ou seja, durante a libertação
taxa de mortalidade pode subir aos 5%. súbita da pressão profunda no abdómen (sinal de Blumberg). O
ato de tossir pode aumentar a dor (sinal de
ETIOLOGIA Dunphy). Como o apêndice está situado
A infl amação do apêndice ocorre geralmente em conse- na proximidade de alguns músculos,
quência da sua obstrução e é, na sua maioria, causada alguns movimentos podem incremen-
por acumulação de fezes endurecidas (fecalitos) ou tar a dor abdominal, tais como dor na
hiperplasia linfóide (infl amação do tecido linfóide DR hiperextensão passiva do membro infe-
que surge, por ex., após uma infeção viral res- rior direito (sinal do psoas) ou dor na
piratória ou gastrintesƟ nal), mas também rotação interna do membro inferior
pode estar associada a parasitas intesƟ - direito (sinal do obturador). Se o apên-
nais, corpos estranhos, cálculos biliares, dice é retrocecal (situado por trás do
tuberculose, bridas, doença infl amatória cego) a pressão profunda pode não pro-
intesƟ nal ou tumores. vocar resposta (apendicite silenciosa).
Como resultado da obstrução do apên- Os doentes com suspeita de apendicite
dice surge congestão e insufi ciência na aguda geralmente realizam análises sanguí-
irrigação arterial, que pode culminar em neas para avaliar a existência de um processo infl ama-
necrose (morte) dos tecidos e, consequen- tório e sua gravidade, bem como exames de imagem
temente, perfuração do apêndice. Simultanea- (ecografi a/TAC) para se observar a infl amação do apêndice
mente, a obstrução do apêndice leva a uma proliferação excessiva e excluir outras patologias que possam apresentar uma sintoma-
das bactérias nessa área, instalando-se um processo infecioso. tologia similar.
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS TRATAMENTO
Os principais sintomas que alertam para uma possível apendi- O tratamento defi niƟ vo é a apendicectomia (remoção cirúrgica
cite aguda são a dor abdominal (inicia-se na região periumbilical e do apêndice). Atualmente, esta pode ser realizada por via tradicio-
depois vai fi xar-se do lado direito do abdómen – num ponto cha- nal (incisão de abertura do abdómen na região abdominal) ou via
mado McBurney) que aumenta com o passar do tempo e agrava laparoscópica. Habitualmente há necessidade de fazer anƟ biote-
com o ato de caminhar; perda do apeƟ te; náuseas; vómitos; dis- rapia e medicação analgésica.
tensão abdominal; alteração do trânsito intesƟ nal; febre. Destaco O internamento, nas apendicites não complicadas, é de apenas
que apenas 50% dos pacientes apresenta este quadro clínico ơ pico. alguns dias. No domicílio é importante os pacientes cumprirem os
conselhos médicos e limitarem a aƟ vidade İ sica para os tecidos
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL da parede abdominal cicatrizarem mais rapidamente. A completa
Existem várias doenças que podem apresentar sintomas análo- recuperação ocorre em cerca de 4-8 semanas.
gos aos da apendicite aguda e que são importantes excluir. Entre
elas destacam-se, por exemplo, as doenças intesƟ nais (gastroen- PREVENÇÃO
terite aguda, doenças infl amatórias intesƟ nais, síndrome do cólon Parece haver redução do risco de apendicite aguda em pessoas
irritável), as doenças urológicas (infeção urinária, cólica renal) e que têm uma dieta mais rica em fi bras, já que estas provocam
as doenças ginecológicas (doença infl amatória pélvica, rotura de amolecimento das fezes e, assim, torna mais diİ cil a obstrução do
quisto ovárico, dismenorreia, endometriose, gravidez ectópica). apêndice.
DIAGNÓSTICO Ana Cristina Pratas
A colheita de uma história clínica detalhada e a realização de um CTEN MN
exame objeƟ vo minucioso são, como sempre, muito importantes. www.facebook.com/participanosaudeparatodos
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