Page 4 - Revista da Armada
P. 4

REVISTA DA ARMADA | 568



















              PLANETÁRIO DE MARINHA



              2021 – UMA NOVA VISÃO DO ESPAÇO                                                                    Fotos SAJ ETC Silva Parracho






          “A noção do tempo desaparece. O espaço adquire outras perspetivas. Durante uma hora somos espetadores, de todas as latitudes e
          longitudes, do surpreendente espetáculo da abobada celeste”
          Esta  frase,  que  descreve  os  primeiros  suspiros  da  vida  do  Planetário  de  Marinha,  inicialmente  designado  Planetário  Calouste
          Gulbenkian, teve o destaque de ser publicada na primeira página do “Diário de Notícias” em 20 de julho de 1965, o dia da sua
          inauguração. Nesse dia completavam-se dez anos sobre a morte de Calouste Sarkis Gulbenkian.
          Desde então os portugueses, com especial incidência do público escolar, passaram a dispor de um novo espaço cultural, proporcionando
          uma experiência até então desconhecida – sessões de astronomia projetadas numa cúpula.


          ORIGEM                                              DESENVOLVIMENTOS – PRIMEIRA RENOVAÇÃO

             ideia da construção de um planetário em Lisboa surgiu do   A cidade  de Lisboa, tal como as principais capitais europeias,
         Afascínio  e  entusiasmo  pela  astronomia  de  um  oficial  da  passava a dispor de um equipamento cultural por excelência, onde
          Marinha  Portuguesa,  o  Comandante  Eugénio  Conceição  Silva,   eram divulgadas, de um modo didático, as ciências astronómicas.
          quando visitou o planetário de Nova Iorque. Ao longo da sua vida,   O sistema de projeção de origem, que atualmente está exposto,
          o Comandante desenvolveu várias atividades relacionadas com   como peça central, na recém-criada Ala Calouste Gulbenkian na
          este seu passatempo favorito, desde a construção engenhosa de   galeria  poente  do  Planetário,  era  de  funcionamento  manual  e
          telescópios, que utilizava nas suas observações, passando pela   durou quase 40 anos. Em atividade ininterrupta de 1965 a 2004,
          fotografia  de  astros;  algumas  destas  peças  estão  expostas  na   mostrou o céu estrelado a mais de três milhões de visitantes.
          galeria nascente do Planetário.                      Entretanto, em março de 2002, o Ministério da Ciência e da
           A genialidade deste projeto reside na sua grandiosidade; ainda   Tecnologia e a Marinha Portuguesa estabeleceram um protocolo
          hoje, o Planetário de Marinha é um dos maiores planetários da   que tinha por objetivo a dinamização, a ampliação e a renovação
          Europa, com uma cúpula de 23 metros de diâmetro, e 300 lugares   do Planetário. Havia que adquirir um novo sistema de projeção;
                                                              tal veio a ser feito em 2004, sendo escolhido um projetor ótico
          sentados.                                           da marca Zeiss – o Universarium modelo IX, ainda hoje um dos
           Uma  parceria,  entre  a  Marinha  Portuguesa  e  a  Fundação   melhores projetores do mundo. A parceria conferiu ao Planetário
          Calouste  Gulbenkian  (FCG),  tornou  o  sonho  do  Comandante   o  estatuto  de  Centro  Ciência  Viva,  passando  a  designar-se  por
          Conceição Silva uma realidade – Lisboa iria ter um Planetário. A   Planetário Calouste Gulbenkian – Centro Ciência Viva.
          construção do edifício, da autoria do arquiteto Frederico George,
          iniciou-se em setembro de 1963. A FCG custeou a aquisição do
          sistema de projeção ótico – o modelo Planetarium UPP 23/4, uma
          invenção com patente datada de 1922, também conhecido por
          “Wonder of Jena” – adquirido à empresa VEB Carl Zeiss-Jena.
           Iniciava-se, assim, um ciclo de “viagens” pelo espaço, inéditas
          na altura. As sessões de planetário, através da recriação do céu
          noturno cintilante, onde se projetavam figuras de constelações
          e se explicavam os fenómenos celestes, tais como os eclipses
          e a chuva de estrelas, apresentados com uma voz radiofónica,
          contagiava o visitante, que ficava fascinado pelos mistérios da
          astronomia. O Planetário passou a constar, na lista das famílias
          e de escolas, como um daqueles lugares de visita obrigatória
          em Lisboa.


          4   DEZEMBRO 2021
   1   2   3   4   5   6   7   8   9