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REVISTA DA ARMADA | 576

           Relativamente  a  esta  última  matéria,  reconhece-se  que  as   Reitera-se que a UE é um “parceiro único e essencial da NATO”,
          alterações  climáticas  serão  um  multiplicador  de  crises  e  de   com  a  habitual  dupla  abordagem,  que  reconhece  o  valor
          ameaças,  obrigando  ao  empenhamento  mais  frequente  das   de uma defesa europeia mais forte e mais capaz, mas que
          Forças Armadas em resposta a catástrofes naturais e levando a   preconiza que as capacidades europeias sejam interoperáveis
          NATO  a  posicionar-se  como  organização  internacional  líder  na   e possam reforçar as da Aliança.
          gestão das implicações securitárias deste desafio global.
                                                              ASSEGURAR O  SUCESSO  CONTINUADO  DA
          FUNÇÕES ESSENCIAIS DA NATO                          ALIANÇA

           Perante este novo ambiente estratégico, o documento mantém   Por último, é reafirmada a importância de reforçar a NATO como
          as  três  funções  essenciais  da  Aliança,  embora  com  diferentes   instituição  político-militar,  investindo  na  relação  transatlântica,
          designações,  considerando  que,  no  seu  conjunto,  contribuem   na  coesão  política  e  na  unidade.  Além  disso,  reafirma-se  o
          para a defesa coletiva, que é a maior responsabilidade da NATO.   compromisso de todos os aliados acelerarem o seu investimento
           • Dissuasão e defesa                               na defesa, cumprindo o “Defence Investment Pledge” adotado na
            Anteriormente  designada  por  defesa  coletiva,  esta  função   cimeira de Gales em 2014 (2% do PIB para a defesa, dos quais
            retoma todos os elementos da postura de dissuasão e defesa da   20% para investimento).
            Aliança, assente numa combinação de capacidades nucleares e
            convencionais, defesa antimíssil e capacidades cibernéticas.   CONSIDERAÇÕES FINAIS
                                                 o
            Neste quadro, adota-se uma abordagem de 360 , defendendo
            uma atenção às ameaças provenientes de todas as direções   Este  é  claramente  um  Conceito  Estratégico  que  procura
            geográficas, por mar, terra, ar, ciberespaço e espaço, sejam   salvaguardar todas as preocupações de segurança dos 30 aliados,
            elas  colocadas  por  atores  estatais  ou  não-estatais  e  por   nem  sempre  coincidentes,  e  que  teve  o  mérito  de,  perante  a
            tecnologias atuais ou emergentes e disruptivas, contrariando   invasão  da  Ucrânia  pela  Rússia,  resistir  à  tentação  de  se  focar
            a ideia de uma ameaça única a Leste.              exclusivamente na ameaça do flanco Leste – que já dominara o
            Também é sublinhada a importância da segurança marítima,   período  da  Guerra  Fria.  Curiosamente, no  final  desse  período,
            realçando a necessidade de fortalecer a postura de dissuasão   Georgi Arbatov – ex-conselheiro soviético de Nikita Krutchov e
            e  defesa  neste  domínio,  a  fim  de  garantir  a  liberdade  de   Mikail Gorbachov – disse, numa viagem aos EUA, que “nós vamos
            navegação  e  a  proteção  das  principais  rotas  comerciais  e   fazer-vos  uma  coisa  terrível,  vamos  privar-vos  de  um  inimigo”.
            linhas de comunicação (incluindo cabos submarinos).  Passadas  três  décadas,  este  novo  Conceito  Estratégico  volta  a
            Destaca-se,  ainda,  o  papel  da  NATO  no  controlo  de   apontar  uma  ameaça  clara  a  Leste,  mas  também  demonstra,
            armamentos, na não-proliferação e no desarmamento, bem   inequivocamente,  que  há  mais  NATO  para  além  da  Rússia,
                                                                                        o
            como no contra-terrorismo.                        confirmando a abordagem de 360 , introduzida por Portugal na
           • Prevenção e gestão de crises                     Aliança Atlântica.
            A função de gestão de crises passa a designar-se prevenção
            e gestão de crises, afirmando-se que a NATO deve continuar                              Sardinha Monteiro
            a ser capaz de prevenir e de responder a crises que possam                                      COM
            afetar  a  segurança  da  Aliança,  devendo  ter  os  recursos                               Silva Pinto
            para  realizar  operações  militares  de  gestão  de  crises,  de                               CMG
            estabilização e de contra-terrorismo.
            Neste âmbito, nota-se um esforço de traduzir o essencial das
            lições  aprendidas  da  missão  no  Afeganistão,  destacando-
            se  o  papel  importante  dos  parceiros  e  a  necessidade  de
            coordenação com outros atores no terreno.
            O documento realça, também, a importância de reforçar a
            capacidade de a Aliança apoiar operações de evacuação ou
            de ajuda humanitária, decorrentes de alterações climáticas,
            insegurança alimentar e emergências sanitárias.
            Finalmente,  sublinha-se  a  importância  dos  parceiros,
            identificando explicitamente a ONU, a UE, a OSCE e a União
            Africana.
           • Segurança cooperativa
            As parcerias continuarão a ser fundamentais para a segurança
            cooperativa,  face  aos  desafios  do  futuro  e  à  crescente
            competição estratégica.
            É reiterada a política de “porta aberta”, extensível a todas as
            democracias  europeias  que  partilhem  os  valores  aliados  e
            cuja entrada para a NATO contribua para a segurança comum,
            enfatizando  que  eventuais  processos  de  adesão  não  serão
            influenciados por países terceiros.
            Neste particular, reafirma-se explicitamente a decisão tomada
            em 2008, na cimeira de Bucareste, de aceitar os pedidos de
            adesão  à  NATO  da  Geórgia  e  da  Ucrânia.  Esta  reafirmação
            constitui  uma  resposta  clara  à  política  russa  de  tentativa
            de  estabelecimento  de  esferas  de  influência,  pretendendo
            condicionar o direito de cada país poder decidir livremente
            as suas alianças.


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