Page 23 - Revista da Armada
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XI - Contribuiu bastante para a expansão da levou até à India. Esta viagem, nas suas consequên-
nossa vida .e da nossa ·Literatura. cias, deve a Portugal a consciência duma missão
XIJ - «Os Lusíadas» não se concebem sem a universalista, a qual, ainda hoje, é uma grande rea-
India, e sem «Os Lusíadas» o nosso ,patri- lidade sob muitos aspectos; foi e é uma das grandes
mónio literário e moral ficaria infinitamente causas da nossa coesão naciona'l, fonte de um patrio-
menos rico. tismo superior, o qual implica a «ideia duma grande
. missão histórica, duma vasta projecção humana».
Eis, pois, os grandes motivos' históricos que nos
assistem para celebrar o «D;ia da Marinha», no dia
8 de Julho, dia do início da grande jornada que nos J. CABEÇADAS
espectáculo
o GMulldo do CESpectáculo
N O prinCIpIO era O verbo, exibir em ampliação enorme passou a afirmar-se mais pro-
quer dizer, era o teatro. Já no os traços de um rosto ou a fundamente pela presença vi-
século quarto antes de Cristo, expressão de um olhar; daqui va, a tirar vantagem ' do calor
em hemicic10s ao ar livre, que 'se dispense a máscara, a humano em mensagem pessoal
se representavam as célebres veemência do gesto, e até pela directa; o oinema ganhou na
tragédias das festas Dionisía- capacidade sugestiva de situa- apresentação do grandioso e
cas: máscaras exagerando esta- ções e movimentos, a própria espectacri'ar; a televisão bene-
dos de emoção, espaços limi- palavra. É o cinema, a arte da ficia de nos trazer sem descon-
tados, pouco movimento, a imagem por essência. forto a notícia, o aconteci-
palavra a preencher a essência E depois, ainda, foi a elec- mento, até o teatro e o cinema,
da comunicação. Depois, na trónica a decompor a imagem sem calor pessoal, sem grandio-
Idade Média, foi a represen- num rapidíssimo ponto mais sidade, na modéstia de peque-
tação nos templos, posta ao ou menos luminoso, transmi- nino alvo de raios catódicos,
serviço da Igreja. De origem tido até nossas casas, onde o mas em nossa casa.
popular nasceu a comédia am- podemos apreciar projectado Não há, pois, a bem dizer,
bulante, de feira ou palácio, na fosforescência de uma calote vencidos nem vencedores. Ape-
com tipos conve:ocionais, mi- rectangular de vidro, pequena nas o ser humano se "reparte
niaturizada talvez nos actuais janela onde o cinema e o tea- mais por solicitações que têm,
bonecos de gerifalte. Foi o tro e todos os acontecimentos cada uma, seus méritos e limi-
Renascimento, enfim, que nos do mundo nos são servidos, tações. Que a TV ganha em
trouxe os primeiros teatros deixando-nos usufruir o con- assistência, sem dúvida. Mas
cobertos, a casa do espectá- forto das pantufas, o acon- teatros e cinemas conttnuam
culo que evoluiu, com peque- chego da casa, quando lá fora cheios, e o homem selecciona,
nas sofisticações técnicas, até chove ou neva, ou faz calor. nesta oferta, o que de mo-
às que conhecemos. Foi a televisão. mento mais o seduz. Cada um
Depois do teatro, pode di- A sequência é também desa- com suas qualidades. Todos
zer-se que já em nossos dias, fio. Progresso é a destruição com seus impactos específicos,
apareceu a imagem fotorregis- de qualquer coisa que se ultra- com suas mensagens, como
tada para sequente projecção passa, mas é também qualquer agora se diz, proporcionando
em superfície lisa, parede ou coisa que se . conquista. O ci- mais comunicações num mun-
pano, a iludir existência de nema destronou o teatro, como do onde paradoxalmente o ho-
palco de acção, porém com a a televisão destronou o teatro mem se vai sentindo mais iso-
liberdade de registo em gran- e o cinema. Mas ao desafio lado, mais ilha perdida no
des ambientes naturais, impos- responde-se com novas ener- oceano imenso da espécie.
síveis de reproduzir nas estrei- gias, com a afirmação e explo-
tas dimensões de cenários e ração de capacidades próprias.
bastidores, capaz também de E a verdade é que o teatro 8. Machado
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