Page 41 - Revista da Armada
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nota de abertura





        REVISTA  DA  ARMADA                   SER MARINHEIRO


                                              Diz  a grande Hermínia num dos  seus  fados  mais castiços que  «ser
         Publicação Oficial                   marinheiro,  é  ser  nobre,  é  ser  valente» ...
         do Ministério da Marinha             Não  vou  aqui  examinar. o  problema  sob  esse  aspecto,  até  porque
                                              não  ficaria  bem  à  nossa  tradicional  ~odéstia. Vou  encará-lo  sim,
                                              no sentido geral e mais humano do que sentem todos quantos servem
                                              ou serviram a ARMADA e são realmente marinheiros.
        Director  e  Editor:                   ,
        Comodoro  António  Júlio  Malheiro    Há dias tive uma longa conversa com  um camarada que já está na
          do  Vale                            reserva  a  qual  me  inspirou  estas  considerações.
                                              Dizia-me  ele  que  não  foi  marinheiro  por  vocação  mas  antes  por
        Orientação  gráfica:
                                              mero  acaso.  Nascido  nas  serranias beirãs,  só  conh~ia o  ma.r  visto
        Hernani  Lopes
                                              da terra e os navios por os vêr passar ao largo.
                                              Veio  para a Marinha porque queria viajar, gostava da farda,  preci-
                                              sava de arrumar a sua vida, mas  a razão principal, julga ele, foi  ter
        Propriedade                           no  sangue, como todos os portugueses, o vírus da aventura que nos
        do  Ministério  da  Marinha           levou aos quatro cantos do mundo.
                                              Navegou  nos  sete mares,  passou  muitas  noites  em  branco,  enjoou,
        Redacção  e  Administração
                                              sofreu  chuvas,  ventos  e  temporais,  esteve  longe  da  família  muitas
        Ministério  da  Marinha
                                              vezes, conheceu o amargo da saudade e teve algumas desilusões.
        Praça  do  Comércio
        Telefone:  368960                     Compensações?  Sim,  também  teve.  Conheceu  terras  distantes  e
                                             gentes estranhas,  viu como o mundo  poderia ser belo se os homens
                                              não  teimassem  em  <?  estragar  e  quando  deixou  o  serviço  f'e-Io
                                              de  cabeça  erguida  e  com  a  noção  de  ter  cumprido.
         N.O  2/ Setembro  de  1971  / ANO  I.
                                              Não  fez  fortuna  nem  conquistou  glórias.  Foi  um  marinheiro
                                             . simples  e vulgar, desses muitos anónimos que fazem  a ARMADA.
                                              Agora, afastado do activo pela idade que não perdoa, sente a nostal-
                                              gia do mar, dos navios, das terras distantes e das gentes que lá conhe-
        -Preço  de  venda  avulso   3$00
                                              ceu, das vagas e dos temporais, do marulhar da água no costado e do
         Assinaturas  anuais:                 bater cadenciado  das  máquinas,  das gaivotas  elegantes  a desenhar
                                              curvas no céu, dos golfinhos brincalhões a saltar à proa dos navios,
         Continente  e  Ilhas   24$00
                                              dos  apitos  do  mestre  e das  bandeiras  e galhardetes  de  sinais ' a  tre-
         Ultramar  e  Brasil
          (Via  marítima)     26$00           mular  ao  vento ...
                                              Quando  vê  a  «sua» ARMADA  a desfllar em  parada ou os navios
                                              de guerra a  navegar no  Tejo, todo  ele vibra de emoção e não  raro
         Na  capa:
                                              as lágrimas lhe vêm aos olhos. Que saudades!
                                              Ali vão outros como ele,  marinheiros por acaso,  homens tirados ao
                                              Povo,  vivendo  a  vida que ele já viveu,  com  os mesmos  problemas
                                              e os mesmos anseios.
                                              Quantas e quantas vezes, na solidão do mar, mal dormido e enjoado,
                                              remoendo saudades e tristezas e lembrando o conforto da terra firme,
                                              amaldiçoou a hora em que se lem~rou de assentar praça na Marinha ...
                                              E a terminar, em ar de despedida, concluiu:
                                              $abes uma coisa? Se eu voltasse aos meus 18 anos e me perguntassem
         Portugueses  de  hoje  em  navio     que carreira queria seguir ... escolhia a Marinha!
         de  outrora  no  Brasil  de  Se.   re
         de  S.  Machado
                                              NOTA DE REDACÇÃO
                                              . A  Revista  da  Armada.,  no  presente  ano  será  editada  mais  uma  vez  em
         Execussão  gráfica:                  principios de Novembro. Em 1972 passará a ser mensal.
         IMPRIMARTE,   Pub licaçôes  e  Art es   'A  - Revista  da  Armada.  pa"derá  ser  adquirida  em  Lisboa  e  no  Porto,  em
          Gráficas,  S.A.R.L.                 várias tabaGarias e vendedores de jornais.

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