Page 113 - Revista da Armada
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• Nota de Abertura
Os ingleses e nós
m 9 de Maio de 1386, os reis D. João do curso, em que tomaram parte oficiais
I de Portugal e Ricardo li da Ingla- de vários países da NATO, tive o gosto de
E terra assinaram um tratado de ouvir, da boca do almirante inglês que fez
aliança e amizade que ainda hoje perdura, as apreciações finais, que apontava como
passados que são 600 anos. exemplo o comportamento em terra dos
As comemorações desse evento, em marinheiros portugueses que, aos olhos
boa hora acontecido, começaram no ano da população local, eram os mais simpáti·
transacto e continuam no corrente. E mal cos e correctos. No jantar de despedida, o
seria que esta Revista não o assinalasse, director dos cursos um captain inglês.
limitando-se a focá-lo apenas no aspecto sentou à sua direita o oficial português
que à nossa Marinha diz respeito, sem o mais antigo, explicando aos outros que
fazer no âmbito do País. era uma deferência para com os seus ve·
E mesmo no aspecto restrito que esco- lhos aliados da Peninsula Ibéríca.
lhi, falo na minha experiência pessoal e Em Hong Kong, onde permaneci vá-
nos benefícios que colhi dessa aliança du- rios períodos, numa longa comissão de
rante a minha longa carreira de mar. É serviço no Extremo Oriente. como coman-
pois o meu preito de homenagem à Royal dante do aviso ((Gonçalves Zarco», o co-
Navy e ao grande povo inglês, que a histó- modoro inglês comandante da base naval
ria me ensinou a admirar e o convívio pes- «Tamar)) deu ordens permanentes para
soal me ensinou a respeitar. que o nosso navio fosse tratado exacta-
São muitos e variados os favores e mente como os ingleses!
gentilezas que devo aos camaradas da Na viagem de regresso a Lisboa, numa
Marinha inglesa e por isso, na impossibili- altura em que éramos muito mal vistos e
dade de os mencionar a todos, seleccionei maltratados, por causa da guerra do ultra-
apenas alguns. mar, com que a maíor parte dos paises
Em 1953, comandando um navio ocea· não concordava, tivemos sempre o apoio
nográfico e de estudos de pesca, navega· valioso dos ingleses, que resolveram al-
va de Luanda para Lisboa sendo forçado, gumas dificuldades.
por avaria na caldeira, a arribar ao porto E não cito mais exemp!~s para não me
de Freetown, na Serra Leoa. alongar. Direi apenas, e para terminar,
Chegámos ali a um sábado, sem di· que o que fica dito, os muitos exercícios
nheiro inglês, e quase sem carvão, água e em que tomei parte com os ingleses no
frescos. Tudo fechado, teríamos passado mar e demais contactos com eles, fizeram
um mau fim-de-semana se não fossem os com que, sinceramente, considere a Royal
nossos amigos ingleses que, tomando a Navy como aminha segunda Marinha ...
responsabilidade. tudo resolveram da E, o meu caso está longe de ser único.
melhor maneira. Estou convencido de que, como eu, pensa
Em 1955, sendo imediato do contratar·
a maior parte dos marinheiros portugue-
pedeiro «Tejo)), fiz o curso de táctica anti-
ses.
·submarina aeronaval na Joint Anti-Sub-
marine School, de Londonderry, na Irlan-
da do Norte, onde aprendi muito. No fim clalm.
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