Page 113 - Revista da Armada

& Nota de Abertura
Lá homenageiam-se assim os heróis
e cá esquecemo-los
á dias veio parar-me às mãos um bole-
tim mensal do Serviço de Relações
H Públicas da Marinha brasileira
(ltNoMan> n. o 542) no qual vem publicado um
artigo - Força Aérea Brasileira - que me deu
que pensar.
Depois de, muito resumidamente, historiar
o desenvolvimento da Força Aérea Brasileira
- que, tal como sucedeu entre nós, resultou
da fusão das Aviações Naval e Militar -, diz
o seguinte:
( ... ) A FAB sempre teve uma fonte de
inspiração na figura e nos feitos de Santos-
-Dumont. Pela Lei n. o 165. de 5 de Dezembro
de 1947, foi-lhe conferido, em carácter perma-
nente, o posto de Tenente-Brigadeiro, e o nome
de Alberto Santos-Dumont passou a figurar no
Almanaque do Ministério da Aeronáutica,
onde se acham relacionados todos os oficiais
da Força em serviço activo. Quando foi resta-
belecido o posto de Marechal nas Forças
Armadas, em 1959, o Governo concedeu a
Santos-Dumont o posto honorífico de
Marechal-do-Ar com o qual o seu nome conti-
nuou a encabeçar a lista de oficiais-aviadores.
Finalmente, em 1971, Alberto Santos-Dumont
foi proclamado Patrono da Força Aérea Bra·
sileira.( .. .)
Todas estas honrarias foram atribuídas a
um Homem que não foi militar. Foi, sim. o
aeronauta que conquistou o título mundial de
Pai da Aviação, ao realizar, em 1906, o primeiro
voo, homologado, com um aparelho mais
pesado que o ar, percorrendo a distância de
60 metros a uma altura entre 2 e 3 metros do
solo.
(para pormenores sobre a vida prodigiosa
deste grande brasileiro aconselha-se a leitura
do artigo «Santos·Dumont - O brasileiro que
rea.lizou um dos grandes sonhos da humani·
dade ... Voan) - publicado no n. o 49/0utubro
1975 desta Revista).
Além das honrarias mencionadas, salienta·
·se que o seu corpo foi exumado e dele retirado
o coração que se encontra guardado num
escrínio de ouro sobre uma coluna de jaca-
randá, no Salão Nobre da Academia da Força
Aérea Brasileira. Os seus restos mortais repou-
sam junto dos de seus pais, num jazigo, que
ele próprio mandou construir num cemitério
do Rio, o qual é encimado por uma réplica do
monumento que lhe foi erguido em Saint·
-Claud, França. O seu nome está espalhado por
todo o Brasil em ruas, praças, avenidas, etc,
havendo também muitos monumentos em sua
memória.
Talvez porque, além de marinheiro fui tam-
bém aviador (na extinta Aviação Naval), tenho
os meus ídolos tanto do mar como do ar.
Dos primeiros destaco o Grande Almirante
inglês Nelson, o maior da guerra no mar, e o
Grande Almirante português dos Mares da
índia, Vasco da Gama, símbolo dos Descobri·
mentos; dos segundos, o brasileiro Santos-
·Dumont, pelo que aqui ficou dito, o americano
Lindberg, que cometeu a proeza mais espec-
tacular de toda a história da aviação, e o
português Sacadura Cabral que, com Gago
Coutinho, rea.lizou a primeira travessia aérea
do Atlântico Sul, conquistando para o nosso
país a prioridade da navegação aérea por
métodos cientificos inéditos em todo o Mundo,
permitindo que os aviões começassem a cum-
prir as suas rotas com a mesma certeza com
que os navios cumpriam as suas.
E termino esta «notan com tristeza, por
constatar como é venerada a memória de todos
estes grandes Homens, nos respectivos países
e cá, em Portugal!
Sacadura Cabral não teve sepultura nem
mausoléu porque desapareceu no mar e só não
foi esquecido porque alguns teimosos não dei-
xam de o lembrar ...
Que bonito seria, mesmo sendo agora uma
imitação, proclamá-lo Patrono da Força Aérea
Portuguesa! Ou, pelo menos, estabelecer que
o «Dia da Força Aérea)) fosse comemorado na
data em que o hidroavião «Santa Cruz)), coman·
dado por aquele grande aviador, amarou na
baía de Guanabara, levando o abraço de Por·
tugal ao povo irmão do Brasil.
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