Page 116 - Revista da Armada
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Cristóvão Colombo e outros corsários




           estrangeiros em Portugal (1469-1487)







                 s corsários tiveram nos Descobrimentos uma acção relevante
                 que  tem  sido  descurada  pela  historiografia  portuguesa.
           O Púdica,  passiva e  pemlissiva. evita um  tema de tal  melin-
           dre. ignorando. assim,  faCIOS  fundamentais. e deixando que alguns
           historiadores  estrangeiros  deturpem  intencionalmente outros.  Por
           exemplo:
                -  Ignora que na segunda metade do século XV, época áurea
                   da expansão marflima, estiveram ao serviço do rei de Por-
                   tugal os mais  famossos  corsários estrangeiros: Colombo
                   Velho, o .. terror dos mares_, começou II:  actuar em  1469,
                   nesse ano atacou  II:  navegação portuguesa, e ainda nesse
                   mesmo  ano  ou  no  seguinte  ( 1470)  foi  contratado  por
                   D. Afonso V;  João Bretão. o .. rei do ma,..., atingiu o seu
                   apogeu em  1484. ano em que pilhou II: cidade de  BrislOl
                   e ataoou II:  navegação portuguesa. e nesse mesmo ano foi
                   contratado  por  D.  João II.
                 - Pennite que deturpem intencionalmente a biografia de Cris-
                   tóvão Colombo, que foi corsário ao serviço de Colombo
                   Velho,  apoucando  a  influência  que os  portugueses  nele
                   exerceram durante dezasseis anos (1469-1485). desde os
                   18 anos de  idade até  aos  34.


           JO . .\O BRt:l . .\O

              Vann  (Jehan em  francês,  João em português)  Koatanlem.  dito
           João Bretão,  foi  para os  historiadores  da  Bretanha o  crei  do  maf'lo
           da  segunda  metade do século  XV.
              Terá nascido em 1455 numa famnia de marinheiros. annadores,
           mercadores e piratas; em  1475, com 20 anos. era necessário ao serviço   R~lrolo com~mportb,ro d~  Crisl61'l'lo  ColombCJ,  de  SeOOsli"no  d~ Piombo
           do  rei  de  França que lhe deu  200 libras  para equipar um  navio,  e   (/495-1$47),  ~XpOslO no Museu  Mtlropolilllno  d~ An~. em  NOIll  lorqu~.
           vendeu depois todos os seus bens para equipar uma annada de cinco
                                                               então polissémico, aplicável. por extensão semântica. a «um grande
           navios  associado  a  ricos  mercadores  bretões.
              Em  1484. já corsário famoso.  veio li barra de Lisboa atacar navios   homem do ma  .... A oferta de um clIStelo não seria de estranhar porque
                                                               os reis presenteavam lauta.mente os seus chefes corsários - na mesma
           portugueses e ingleses: estando o rei D. João 11  na Beira a submeter
           castelos e vilas,  a rainha D.  Leonor expediu quatro canas simultâ-  época  o  rei  de  França deu  ao  seu corsário Jorge  Grego  uma casa
           neas (23. 25 e 28 de Setembro e  I de Outubro) li Câmara de Lisboa   senhorial  em Bordéus  (2).
           mandando arrestar navios para atacar João Bretão que já roubara uma   Importa sublinhar um pomleoor fundamental:  no ano (1 484) em
                                                               que João Bretão praticou a sua razia mais sonante (o saque de Bristol)
           nau  portuguesa e outra inglesa e fizera encalhar na baía de Cascais
           mais quatro navios ingleses que se preparava para roubar (I). Nesse   e  atacou  a  navegação  portuguesa,  foi contratado  por  D.  João  11.
           mesmo anode 1484. não estando a Bretanha em guerra com a Ingla-  C()I,O~180 \'ElHO
           terra.  pilhou  e  incendiou  o  porto  e  a cidade de  Bristol,  causando
           embaraços ao duque da  Bretanha que.  por um  lado,  desaprovou o   Infestou os mares ao serviço do rei  de França. atacando navios
           corsário,  mas  por OUlro.  veladamente,  annou-o cavaleiro e deu-lhe   comerciais de  várias  nacionalidades.  nomeadamente  italianos.  um
           em  recompensa  1200 moedas de ouro.  Ainda nesse ano de  1484  o   corsário que os documentos da ~poca denominam Coulon ou Coullon
           rei  português  D. João  O convidou-o a  licar ao seu  serviço na  luta   (em  francês),  Colón (em  espanhol) ou  Colombo (em  italiano). ou
           contra os _bárbaros- (mouros). e o duque da Bretanha. aproveitando   ainda Colombo Velho. para O distinguirem de OUlro, homónimo, que
           o ensejo para se livrar dum vassalo im:verente. aconselhou-o a aceitar.   apareceu  mais  tarde  (Colombo Jovem),  é considerado  o  «pai_  da
              Sobre a presença de Koatanlem em Portugal pouco se sabe: chegou   marinha de guerra francesa.  Diz Alonso de Palcncia, cronista espa-
           em  1484. recebeu de D.  João II  em  1487 uma pensão por _serviços   nhol contemporâneo; Inf~stabu ti mar d~ Ocideme UII pirata flamado
           excepcionais.  e  regressou  em  1490.  Num  processo jurídico  que   CoMn  ( ... ). Por ei se habian h~cho losfranceses aptos para la "a\'~­
           tramitou na  Brctanha em  1539 alguns declararam que ele foi  almi-  gUciÓII,  porque ames se  les cOlIsideraba,  o descollocedores  d~ tal
           rante da frota  portuguesa e que D. João II  lhe deu em Lisboa casas
           e ben~ ahundantes,  incluindo um castelo. O vocábulo «almirante. era   (2) R~n Omn~s, • Y"nn  Kootanl~m. Admirai du  Ponugal ~I Soo Nl'I'~u
                                                               Nirolas, in I"  Hr~lCJgn~. Ú  Portugal. ú  Brbi/, "CI~S du CinqUQnltnair~ d~
             (I)J. Sil,v M"rqu~s, «lÀscvbri1Mmos Portuguun_, ,vi. 111. pp.  178·1lJ();   la  Cria/ion  ~n  BT?tagn~ d~ l'E"uign~nt~n/ du  Panug"is.,  P"ri$,  /973.-
           Dun"Ol Pif?sd~ Lima .• Dum Cidod~s tIO Stn;ÇQd~ Ponugal., mi. I.  P"no,   /I.  Toudtnrd .• ú  ~1rt" M"rili_ Bm"" d /afinau M()ym-Ag~ •• NanJ~s,
           p/DI                                                /967.

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