Page 310 - Revista da Armada
P. 310

*
                                                                  E assim terminamos o inventário dos bens da Mari-
                                                               nha, no mar e em terra. Resta apenas chamar a atenção
                                                               do leitor  para o que representa,  em actividades e  em
                                                               despesas, conservar esta grande .. Nau .. , em estado de
                                                               permanente eficiência  ..


                                                                                                     M.  do  Vale,
                                                                                                           elalm.



               UAM 305,  .. Mouro .. , do Serviço de Munições e de
            Armamento Portátil. 23,27 mts x 6.2 x 2.5; 2 porões para
            carga.  Lotação  um  sarg.  M  e  três  mar.  M;  desloca
            197 tons.                                          •••••••••••••••••••••••••••


            A mata do Alfeite




                  á anos, ainda sargento, fui chamado a frequentar um   aprendido muito com ela.  Ensinei-a às minhas filhas e hei-de
                  curso na Escola Naval, com vista a completar as con-  ensiná-Ia aos meus netos, esperando que todos a amem e res-
           H dições necessárias para ascender à categoria de oficial.   peitem  como eu.
               Entre as disciplinas desse curso, a de Português impunha-se   A prova de que nós, marinheiros, ao contrário do que afir-
            pela  sua  importância curricular e carácter selectivo.   mou,  a conhecemos  e a amamos  reside em que estando ela
               No  caso  presenle,  era  professora  dessa  disciplina  uma   implantada na Base Naval, um espaço que em princípio se des-
           jovem  recém-licenciada  que  não tinha quaisquer afinidades   tina a instalações militares, continua a existir, cada vez mais
           com  as  gentes da  Marinha.                        bela e mais exuberante.  Creio até  poder afinnar que  pouca
               Em  certa  manhã de Outono, daquelas em  que sabe bem   gente estará tão sensibilizada para as coisas da natureza, como
            viver, ao dirigir-se para a escola, atravessou a mata e, sensi-  os  marinheiros,  no  mar ou em  terra ... "
            bilizada para as coisas da natureza, sentiu-se profundamente   E assim ficou  provado que os alunos já conheciam a mata
           tocada pela  sua  beleza  e exuberância.            antes da  professora e que , afinal,  todos a compartilhavam.
              Enlão, ao começar a aula de português, acusou  os  seus   Que a mata do  Alfeite continue a  não  ser para os mari-
           alunos de a ignorarem.  Um deles resolveu chamar a si a res-  nheiros da outra banda apenas um caminho a percorrer obri~
            ponsabilidade  de  refutar  a  acusação,  fazendo-o  com  entu-  gatóriamente para ir e vir do serviço, mas antes um lugar onde,
           siasmo, citando o  seu  caso pessoaL                nas horas de lazer e tempos livres, todos, e as  famOias,  des-
              "Minha senhora, disse ele, considero que a mata do Alfeite   cansem  o corpo e  o espírito  à sombra acolhedora  das suas
           é minha. Não por ser seu proprietário, mas sim porque desde   árvores  seculares.
           há muito a descobri e disfruto os seus encantos:  os  silêncios   E pennilaITl-me um conselho: não a sujem, não a destruam,
           que flu!Uam  por cima do arvoredo e o canto dos passarinhos   nem  a  ponham  em  perigo.
           que o complelaITl; a quietude reinante que a integra plenamente
           no ambiente; o diálogo riquíssimo que podemos travar com
           a natureza ..
                                                                                                 R.  Lopes Ribeiro,
              Minha senhora,  eu  vivo  a mata  há  muitos  anos  e tenho                               I. " un.  OT

           Mortos da Marinha nas guerras do Ultramar



                 orrespondendo ao pedido que fizemos no artigo   tiveram  pouca  sorte  porque  essa  sentinela  era  da
                 com o titulo mencionado, publicado no n. o 2111   União Indiana. O João,  que ia à frente, quando perce-
            C{Junho 1989, desta Revista, escreve-nos o sarg.-  beu que estava em território da União quiz fugir mas,
           ·mor R Joaquim R. Dias de Carvalho a seguinte carta:   a  sentinela  abriu  fogo  abatendo-o  com  uma  rajada.
               Tenho a informar que o mar. A  7955, João Fonseca,   Dali  foi  transportado  para  Bombaim  e  no  dia
           não faleceu por doença. Foi morto por uma sentinela   seguinte  vieram  pór o  corpo  na  terra  de  ninguém,
           da  União  Indiana,  no  dia  11- 11- 1958,  em  Damão   donde foi transportado para Damão Grande no gaso·
           Pequena,  onde o  Aviso IIGonçalves Zarcon,  no qual   lina do navio, realizando-se ali o funeral, nesse mesmo
           prestava serviço,  estava fundeado.                 dia.
               Quando seguia de biciclete, ele e outro mar. A , a   Agradecemos  a  informação prestada,  a  qual foi
           fim de visitarem o aeroporto, não sabendo o caminho,   confirmada e registada pela COLOREDO (Comissão à
           dirigiram-se  a  uma  sentinela  para  lho  indicar,  mas   qual compete o assunto).
           20
   305   306   307   308   309   310   311   312   313   314   315