Page 134 - Revista da Armada
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A cartografia da Biblioteca
Central da Marinha
PrinCipa\ vocação de uma biblioteca é, sem sombra
de dúvida, coleccionar o maior número possfvel de - - --
Alivros, sejam eles preciosos códices belamente ilumi·
nados, ou modernas obras impressas das quais já se fizeram
dezenas de edições. De facto, apesar das variadas actividades
culturais que uma biblioteca deve ler e dos serviços que pode
prestar, o prestfgio duma instituição deste tipo mede-se,
geralmente, pelo número de títulos ou volumes que possui.
A actualização de uma biblioteca não é tarefa fácil. O nú-
mero de obras publicadas vai aumentando de ano para ano e
o seu custo também cresce desmedidamente, em especial quan- ..
do se trata de edições de prestígio. À excepção da Biblioteca r
Nacional que, por direito ao depósito legal, vai recebendo,
sem despesa, todas as obras editadas no país, os responsáveis
pelas outras instilUições congéneres são permanentemente en- .j,.- ,..
frentados com problemas de ordem financeira de difícil -t·;~ _
solução. ••
As bibliotecas são, de um modo geral, temáticas. isto é, <
especializadas numa ou mais áreas do conhecimento huma- • t
no. Entre estas tcm um lugar destacado no nosso país, a Si- .J ~ '.,Q
bJjoceca Central da Marinha que reune obras sobre actividades, ::1 I
fundamentalmente. ligadas ao mar. No entanto, esta bibliote-
ca, além dos livros que possui. dispõe de uma colecção de "
cartas geográficas, património que é comum existir em esta-
belecimentos congéneres, como acontece na nossa Biblioteca
Nacional e noutras grandes bibliotecas estrangeiras.
A propósito. é curioso notar que a Biblioteca Nacional de Pa-
ris é aquela que possui a maior colecção de cartas náuticas • . r
portuguesas do tempo dos Descobrimentos: exactamente 33
útulos e, como alguns destes são atlas ou grupos de várias fo- --
lhas, constata-se que o número de cartas ascende a várias
centenas.
A colecção da Biblioteca Central da Marinha tem um nú-
Josl dtl CosIa Miranda. carJa da /fM d~ C#IOO. 1688. v:islnlf' na Bibliott-
mero reduzido de cartas, o que se deve, principalmente. ao
ca Ctnlral da Marinha. (fofO tkl ~RA" - Rui Salfa).
facto de parte das cartas que pertenciam ao património co-
mum daquela biblioteca e do Museu de Marinha, terem fica- Costa Miranda, conhece-se o texto de um alvará de D. Pedro
do no museu, quando, em 1962 estas duas instituições se U. com data de 1706, onde se diz que ele é o único «sujeito_
cindiram. que havia no reino capaz de fazer cartas de marear e mais ios·
O mais importante monumento cartográfico que se encon- trumemos de navegação ( I), facto que mostra bem a situação
tra na Biblioteca da Marinha é um atlas de 1688, inicialmente deplorável a que chegou esta arte. na qual os portugueses li-
constituído por 8 folhas, mas a que faltam as números dois nham sido senhores inconlestáveis.
e três. As cartas existentes representam parte da costa meri- Pois bem, Costa Miranda foi o único mestre do qual che-
dional e oriental do continente africano, costa ocidental da pe- garam até aos nossos dias canas náuticas e um instrumento
nfnsula indw.stânica e ilha de Ceilão. de navegação, exactamente uma agulha de marear que ainda
O seu autor é José da Costa Miranda, de cuja biografia lem o privilégio suplementar de ser a mais antiga de origem
se conhece muito pouco. Todavia, este meStre tem uma parti- portuguesa que se conhece. Encontra-se no Museu Whipple,
cularidade na história da cartografia que merece a pena as- de Cambridge. na Inglaterra, e está datada de 1711.
sinalar. Além de algumas can as manuscritas e planos de portoS
Sabe-se que os cartógrafos foram também, em grande par-
te. fabricantes de instrumentos náuticos. Ex.istem numerosos
(I} Arquivo NadOllal da Torrt do Tombo. chancrloria dt D. Afotuo Vi.
documentos referindo os exames a que aqueles artífices eram DooçiJu L "JJ.jls 248. publicado por SauM Vimbo •• Trabalhos Nduricos
submetidos para obterem a condição de mestres. No caso de dos Ponuguests nos slculos XVI t XVII •. \'01 I. pdg. 2/8-9. Usboa, J898.
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