Page 268 - Revista da Armada
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540 perguntas que fazemos uns
           aos  outros,  cujas  respostas  todos
           desconhecem. É grande 8  expecta-
           tiva.  Até já se falou  em organizar
           um festival de recePÇáo ao «Lambu-
           çasll, de que farão parte muitos ca-
           rinhos e umas refeições melhoradas
           aM Lisboa, possivelmente ...

           A caminho do Funchal, 1.8 de Maio
           de 1.952
              Depois que salmos de Dakar e
           arrumadas  que foram,  cá  dentro,
           tantas  emoções  e  imagens  queri-
           das,  uma única preocupação e  um
           único pensamento assaltam cons-
           tantemente os nossos esplritos -
           o IfLambUçaS».  Poderá  parecer es-
           tranho  e  aM incrivel que  um  ani-
           mal, um cão vulgar, faça convergir
           sobre si as atenções de tanta gen-
           te. Pois a verdade é que parece até
           que a vida a bordo softeu qualquer
           modWcação,  só  porque,  desde  o     o «Lambuças», esse caminhava   -se,  como  se  tivessem  ficado
           seu desaparecimento, nunca mais   no seu ar habitual de passeio, apa-  petrificados, até que o «La.mbuças»,
           alguém viu aquela famflia tão hete-  rentemente  despreocupado  e  de-  não sabendo como libertar-se  da-
           rógena - cão, gata e macaco - na   sinteressado,  lJ'ngindo  ignorar  a   quela  carraça,  resolve  retomar  a
           mais franca camaradagem e com o   carga que suportava e que por cer-  marcha. E lá seguem eles novamen-
           melhor  espirita  de  compreensão   to o incomodava.                 te para gáudio dos assistentes.
           das  realidades  tentando,  com  os   O  «ChicolI,  esse olhava  tudo e   Claro  está  quando.  por  quaJ-
           seus  naturais recursos,  distrair e   todos de alto com os olhos úmidos   quer motivo alheio aos dois, eles se
           alegrar toda a guarnição de um na-  e miudinhos, e a despeito de balou-  separam, o «ChicolI te.m de valer-se
           vio de guerra.                    çar muito com os movimentos com-   de todos os seus recursos de eximia
              A  gata e o macaco, sós,  nunca   passados  do  lfLambuças»,  dava  a   trepador para se libertar da perse-
           conseguiram  entender-se  bem,    sensação de ir o mais confortavel-  guição tenaz do NLambuças».
           dissociando-se por lhes faltar como   mente instalado, virado para a cau-  É vt}-lo correr e trepar por tudo
           que o elo de ligação - o cão.     da do «Lambuças».                  o que encontra a jeito até se refu-
              Com  ele  tudo  era  diferente,    Era vt}-los, nesta posição, cami-  giar na ponte alta,  muito juntinho
           recordam-se  entre as cenas  mais   nhar pelo navio, indiferentes a  tu-  do oficiaJ de quano.
           curiosas  e  caricatas  a  do macaco   do  e  a  todos  que  os  miravam,   O seu peito arfa descompassa-
           passear-se  às  costas  do  t'Lambu-  provocando a  bilariedade geral.   damente,  mas  agora  sente--se  em
           ças», com as unhas fincadas no pe-    Notava-se  que  o  rLambuças»   segurança. Lá de baixo, do convés.
           lo  e  na  carne  do  companheiro,   não ia lá muito satistfeito, mas tu-  ladra-lhe o «Lambuças», ameaçan-
           numa posição de equillbrio verda-  do o que o macaco lhe fazia, ele su-  do-o ou talvez ... propondo-lhe tré-
           deiramente  notável,  mesmo  para   portava com admirável estoicismo   guas.
           um macaco.                        canino. Em contrapartida, no olhar    No dia seguinte, ou mesmo pas-
              Costumavam ficar naquela po-   do «Chico»  via-se  um misto de es-  sado um bocado, lá estão de novo
           sição depois de terem estado jun-  panto e receio,  talvez por não per-  juntos, aninhados a um canto, ago-
           tos,  brincando  e  divertindo-se   ceber bem como tinha ido ali parar   ra também na companhia da reMa-
           mutuamente,  ora  abraçados,  ora   e não saber como conseguiria safar-  ria».  Com  ela  lá,  o  caso  muda de
           mordendo as caudas um do doutro,   -se de posição tio critica, sem irri-  figura. O .ChicolI não se mexe, qua-
           ora um dando patadas em retribui-  tar a  prestimosa besta  de carga.   se nem respira, pois todo ele é res-
           ção das patadas do outro, aM que     A  certa altura o trLambuças» re-  peito peJas unhas afiadas da gatita.
           o IfLambUÇas», já fano e desejando   solve parar para descansar um pou-  O trLambuças» está quase a se-
           descansar, se levantava de um pu-  co e senta-se rodando à  volta de si   micerrar os olhos.  A  «MariaN, essa
           lo.  Sucedia  porém que o  «ChicolI,   próprio, ao jeito peculiar dos cães.   fita constantemente o irrequieto sl-
           após o impulso dado pelo «Lambu-  O «Chico», apanhado desprevenido,   mio, à  espreita do menor gesto de
           çasll para se levantar eliberrar, apa-  fica com a cabeça encostada à  ma-  desrespeito.
           recia  muito hirto empoleirada  no   deira do convés e de cauda para o   O irrequieto macaquito não po-
           lombo  daqueleJ  E  o  cãozito,  de  ar. E quando todos julgam que, da-  de mais. Começa então 8  apalpar o
           olhar, tio lt!tnguido e  tão doce, não  da a posição critica em que ele se   terreno tentando averiguar até que
           tinha  outro  remádio  senão  o  de  encontra, o «Lambuças» vai ficar li-  ponto  é  significativo  o  olhar  da
           conformar-se. E  ai iam eles.     vre, a  posição de ambos mantem-   gata.

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