Page 298 - Revista da Armada
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Mas.  como a artilharia dos juncos chi-  douro  da  armada  portuguesa  uma   tempo que sofriam muitas avarias e bai-
         neses era constituída somente por peque-  embarcação  pertencente  ao  junco  de   xas. Durou o comba"le todo o tempo que
         nas  bombardas  de  ferro  de  pouca   Duarte Coelho. que conseguira furar o   os  batéis  levaram até  chegar juntO das
         potência e  fraco alcance. Manim Afon-  bloqueio a coberto da escuridão. dizen-  naus.  Nessa altura. o  fogo da artilharia
         so,  numa  tentativa  de  demonstrar  aos   do que aquele estava  fundeado  por de-  destas obrigou os navios de remo chine-
        chineses as suas intenções pacíficas, con-  trás  duma  outra  ilha  e  que  não  se   ses  a  afastarem-se.
         tinuou  a navegar com os navios forma-  atreveria a tentar a passagem através dos   Depois desta tentativa  frustrada  pa-
        dos em coluna sem lhes responder. Outro   navios  chineses  se  nào  lhe  fosse  dado   ra fazer aguada. a situação tomou-se in-
         tanlO não fizeram os seus capitães. Quan-  auxflio.                 sustentável  para  os  portugueses.  Uma
        do  os juncos chineses  se  aproximaram   Ao romper do dia,  Martim Afonso,   vez que não  podiam  ficar mais  tempo,
         mais e os pelouros e as nechas por eles   não tendo possibilidade de ir com a sua  sem correr o risco da água lhes vir a fal-
         lançadas  começaram  a  tomar-se  mais   armada para o local onde se encontrava  tar, só lhes restava  voltar  para Malaca.
        ameaçadores. mandaram abrir fogo. cau-  o junco de Duarte Coelho.  por o  vemo   E foi  isso que acabou  por ser decidido
        sando  imediatamente  muitas  avarias  e   não  dar  para  isso.  enviou  dois  batéis  em conselho. do qual foi  lavrado o res-
        elevado número de monos e feridos nos   artilhados para o  comboiarem.  Mas os   pectivo auto.
         navios atacantes que, por isso. se viram   batéis  não conseguiram  romper a  linha   Certa manhã. catorze dias depois de
        obrigados a afastar-se. Ambrósio do Re-  de navios chineses.  Violentamente ata·   ter chegado li ilha da Veniaga. a armada
        go pretendeu mesmo ir com o seu junco   cados com artilharia e arremessos de ne-  portuguesa. aproveitando uma mudança
        em perseguição dos chineses mas  Mar-  chas, viram-se forçados a retroceder com   de vento favorável. suspendeu e dirigiu-
        tim  Afonso  mandou  chamá-lo  e.  mais   quatro  mortos  e  muitos  feridos .   -se  para o  largo.  rompendo caminho a
        tarde. admoestou-o severamente por não   Já irritado com a sobranceria dos chi-  tiro de bombarda.  por  entre os  navios
        se ter  restringido a  uma  atitude  mera-  neses.  Martim Afonso perdeu a paciên-  chineses que a envolviam.  Em breve es-
        mente defensiva.                   cia  e  resolveu  dar-lhes  combate.  Mas   tava a batalha generalizada. sendo con-
            Não  conseguindo  impedir  que  os   agora foram  os seus capitães que adop-  tfnuas as descargas de artilharia de parte
         navios portugueses fossem fundear junto   taram uma atirude conciliatória. fazendo-  a  pane.
         à ilha da Veniaga, onde muito bem qui-  -lhe ver que se enveredasse pelo uso da   Lamentavelmente.  a  nossa  armada
         seram,  a  arnlada  chinesa  fundeou  em   força  ficariam irremediavelmente perdi-  não  conseguiu  manter-se  concentrada.
         volt!!  deles,  mas a  uma distância consi-  das  as  possibilidades  de  chegar  a  um   Possivelmente por serem mais veleiras.
        derdvel  por  causa  da  nossa  anilharia.   acordo com eles.  E decorreram mais al-  as duas naus grandes, juntamente com (l
        continuando a disparar intermitentemen-  guns dias sem que a situação se modifi-  junco de Ambrósio do Rego, adiantaram-
         te  as  suas  bombardazinhas  para  dar  a   casse. salvo no que diz respeito ao junco   -se. deixando ficar para trás as duas naus
        emender  aos  nossos  que  queria  que se   de Duarte Coelho que, depois de espe-  mais  pequenas.
         fossem  embora.                   rar em vão pela sua embarcação ou por   Em tomo de qualquer dos grupos. se-
           Nessa mesma  noite,  os  portugueses   qualquer notícia do capitão-mor.  resol-  guiam numerosos navios chineses ~ispa­
        captumram  uma  pequena  embarcação   veu  regressar a  Malaca.      rando incessantemente as suas pequenas
        com cinco chineses que trataram muito   Temaram então OS portugueses fazer  bombardas. lançando nuvens de flechas
        bem  e que  Martim Afonso utilizou  co-  aguada,  problema que começava a tor-  e  fazendo  repetidas  tentalivas de  abor-
        mo mensageiros para. no dia seguinte de   nar-se mais importante do que qualquer  dagem. Respondiam os portugueses com
        manhà. mandar dizer ao capitão-mor da   outro. Para isso, Martim Afonso mandou  a sua  podcros<I  artilharia, acompanhada
        armada chinesa que estranhava muito ter   artilhar e guarnecer os batéis das naus,  por tiros de espingarda e de besta, cau-
        sido recebido em som de guerra quando   de que assumiu  pessoalmeme o coman-  sando graves avarias e numerosos mor*
        viera  apenas  para  comerciar  pacifica-  do. e com eles dirigiu-se para um lugar  tos e  feridos  nos  navios  inimigos.  Pela
        mente; que trazia muilas e ricas merca-  da ilha, um tanto afastado do fundeadou-  forma como o combate se estava a desen-
        dorias que. cenamente, seriam do agrado   ro da armada, onde fora  informado que  rolar.  tudo  fazia  prever que  ao  fim  de
        dos chineses: que, se a  razão da guerra   havia água. Mas o movimento dos batéis  mais algum  tempo os chineses.  salva  a
        que  lhe  estavam  fazendo  era  castigar   não  passou  despercebido  aos  chineses   race. acabariam por retirar, deixando a
        qualquer coisa  mal  feita  por outros ca-  que mandaram logo em sua perseguição   nossa  armada  seguir em paz.
        pitães que ali tivessem estado antes dele,   mais de trinta navios de remo.  Estava a   Foi então que os portugueses foram
        pois que o compreendia perfeitameme e   nossa gente em terra, enchendo as pipas.   vítimas dum  golpe de  azar.  Na  nau  de
        que vinha preparado para discutir as re-  quando os guardas que tinham ficado nos   Diogo de Melo. uma das duas naus mais
        parações  devidas.  Esta  mensagem  não   batéis deram o  alarme da aproximação   pequenas que iam atrás. incendiou-se por
        obteve  resposta.                  do inimigo.  E encontrava-se este já tão   acidente  um  barril  de pólvora.  O  fogo
           Na  noite  seguinte.  Martim  Afonso   perto que Martim Afonso se viu obrigado   propagou-se  rapidamente  a  toda a  nau.
        repetiu o processo. Capturada uma em-  a dar ordem para abandonar as pipas e   sucederam-se as explosões de pólvora e
        barcação com dois chineses.  foram  es-  recolher aos batéis. Travou-se então um   aquela acabou por ir ao fundo. Encontra-
        tes  muito  bem  tratados  e  enviados  ao   violento combate entre os nossos quatro   va-se perto dela a outra nau pequena de
        capitão-mor da armada de guarda-costas   batéis  e as dezenas  de  navios  inimigos   que  era capitão Pedro Homem. o qual,
        com a mesma mensagem do dia anterior.   que os rodeavam e que não se poupavam   vendo o que acontecera  à companheira
        Desta vez os chineses acusaram a recep-  a esforços para os abordar.  No entanto,   e que  havia  muitos  náufragos  na  água.
        ção  ...  redobrando  o  fogo  da  sua arti-  graças à perícia dos nossos bombardeiros   não hesitou em dar ordem para atraves-
        lharia!                            e  espingardeiros,  que  não  perdiam  um   sar (parar ou reduzir consideravelmente
           Na  terceira noite, mantendo-se a si-  tiro, não o conseguiram. sendo obrigados   o andamento) e para que o seu batel fosse
        tuação  de  impasse.  chegou  ao  fundea-  a  conservar-se  à  distância.  ao  mesmo   recolher os  náufragos.

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