Page 54 - Revista da Armada
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ImprB5Sion/Ulta cerimónia durant811s comemorações referidas na (ato I, com li panicipaç40 da J J navios da NATO que tomlll1lm parte
numa reviste naval realizada no mesmo porto (fotos o/fJ[6Cidss pelo alm. A. Calhorda}.
Passava da meia noite, uma noite escura como Gostaria de me conservar ali por mais tempo mas,
breu, quando ao olhar para o través, avistei uma luz não fazia ideia do que nos iria acontecer com o deslo-
verde muito perto, pelo que manobrei, guinando e camento da tempestade, nem tinha, senão muito
aumentando a velocidade, e chamei por fonia por vagamente, ideia da nossa posição.
ttnavio desconhecidOIl, dizendo·lhe que estávamos O combustível era outra grande preocupação.
muito próximos, na esperança que ele nos visse tam· Por estas razões tinha que sair daquela zona agra·
bém e manobrasse. dável tendo optado fazê-lo pelo quadrante NW do
Foi a única vez, durante a guerra, que estabelece- tufão, que é considerado o mais safo. Assim, pelas 6
mos os faróis de navegação durante a noite. horas, guinámos nessa direcção à velocidade de 6 nós,
O mar castigava fortemente o navio. Um vagalhão a menor a que o navio governava, voltando a encontrar
levantou-lhe a popa, pondo os hélices fora de água e as condições em que navegámos antes de entrar no
fazendo·o estremecer todo. Vi-me obrigado a reduzir olho do tufão. Mergulhando de proa na cava das vagas,
a velocidade, afastando-me ainda mais dos restantes com os hélices fora de água e a trabalhar em seco, gal-
navios. Entretanto a luz verde desapareceu, mas o gávamos as cristas, mergulhávamos novamente nas
certo é que o facto de me ter afastado fez com que, cavas seguintes ... enfim, um verdadeiro festival de
sem querer, levasse o navio a entrar no centro, ou olho, balanço, vento e surriadal A altura dos olhos de quem
do tufão. E foi o llnico a quem tal sucedeu ... ia na ponte alta era de 8.4m, em mar plano e a altura
Dávamos balanços de 55°, o que é muito, mas o das vagas oscilava entre os 15 e os 18m. Eram verda·
que mais me preocupava era saber que a inclinação deiras montanhas de água ...
crítica era de 72° e, se a atingíssemos, seria o fim! Esta dança macabra durou até ás 7 horas, quando
O barómetro descia assustadoramente, chegando mar e vento começaram a amainar um pouco. Cerca
aos 686 mm (a pressão normal ao nível do mar, como das 8 horas as condições já permitiam localizar os
se sabe. é de 760mm). estragos.
Cerca das 5 da manhA, o barómetro começou a As bombas de profundidade tinham ido no mar;
subir. À nossa volta a escuridão era total. O vento e as caixas de detonadores tinham saído dos respectI·
a chuva continuavam a fustigar o navio. vos suportes e rolado perigosamente pelo convés; as
Pouco depois, porém, pareceu-me começar a ver bombas de profundidade colocadas nos tubos dos moro
I mais claro à proa e repentinamente, atravessámos teiros (com a inclinação, para cima, de 45°) tinham
fortes cortinas de chuva e surriada e ... entrámos no caldo deles e ido também borda fora; o turco de carga
olho do tufão! Que sossego ... Calma de vento e mar dos torpedos fora arrancado e levado pelo mar ...
chão! A nossa volta via-se perfeitamente um cilindro Alguém me trouxe o que restava da bandeira
escuro de chuva. Já amanhecia e notava·se a claridade nacional· apenas uma tira de lona com os dois gatos
do sol por cima das nuvens. para ligação ás adriçasl
Mantivemo-nos cerca de meia hora dentro do olho Ocasiões houve em que receei que o navio se par-
do tufão. que tinha cerca de 1400m de diâmetro. tisse em dois e as inclinações eram tão grandes que
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