Page 15 - Revista da Armada
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guarnição do seu navio, que sem·   da  certa?  Eu  sou  o  vosso  cão,  o   costa portuguesa: Sines a S.  Pedro
         prelbe levava algum regalo para os  companheiro,  o  vigia,  o  cabo  de   de Muel.  O seu programa oscilava
         dentes e  barriga.  ffMondego» não   quarto exemplar que toma conta do   entre uma semana em Lisboa e dez
         latia  nem  se  mostrava  furioso.   navio enquanto voclls, súcia de ma-  dias ou mais no mar.
         Estendia a pata em cumprimento,   landros,  batem  uma  soneca  anti·
         da mostrando os dentes,  abanava   ·regulamentar. Com os diabos! NiJo   Tentei logo fazer camaradagem
         o  rabo  ciclonicamente  e,  em  dois   têm uma empenhoca que me ponha   com o cão, pois sempre gostara de
         tempos,  engolia  os  presentinhos   fora deste chiqueiro que fede,  tem   rafeiros,  mas  /lMondego)/  não  se
         que safam dos bolsos dos marujos,   pulgas e onde a comida é péssima?  mostrava muito acesslvel. A primei-
         seus amigos.                      ffIngratos, cambada de ingratos! ... »   ra  tentativa  de lhe passar a  mão
            IIQuem  diz por ai que este cão   Isto pensava, certamente, o ffMon-  pelo pêlo arreganhou os dentes e
         está danado? - Danado, o tanas».   dego»  no  momento  dos  /ladeus».   rosnou,  o  que valeu  uma descom-
         /IVo/ta  ás visitas)) e  do focinho do   indo-se  enroscar  a  seguir  num   postura: /lseu palerma,  então faço·
         cão sumia-se a satisfação e'o riso;   ClUltO  do catre  exlguo,  a  suspirar   -te  festas  e  respondes-me  desse
         o  rabo  oscilava  esmorecido  como   saudoso, comentando com os seus   jeito? ...  Não passas dum refinadls-
         tocado por aragem;  mas não  vão   botões caninos:  que bons amigos   simo  malcriado.  Toma  nota:  se
         julgar que latia ou se esganiçava a   estes marujos do meu navio! Metia-  repetires a  gracinha,  apanhas  um
         ladrar em sinal de revolta -  nada   -se depois a dormir profundamente   riquíssimo pontapé no rabiote, que
         disso.  Silêncio, olhar triste e inter-  a  noite inteira,  coisa  que a  bordo   vais  bater  com  a  focinheira  no
         rogativo  a  significar:  «amigos,   não vencia,  escalado permanente   cabrestante,  â  proa.  Entendes?/J
         quando acaba esta indignidade de   para o serviço de vigiláncia pelos   /lMondego/J  foi-se um  tanto espan-
         me  terem  aqui  catrafilado,  como   cabos de quarto madraços.      tado,  creio  que  até  humilhado.
         qualquer cachorro vadio, fraldiquei-  A canhoneira ffIbo» fazia a Úsca·   Resolvi esquecer a  sua existência.
         ro,  sem eira nem beira, nem mora·   lização da pesca na zona centro da   Passava por ele sem lhe ligar o mi-

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