Page 9 - Revista da Armada
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cadores, que fugindo ao Rei e à Lei, con·   complacência do Governador! Por aqui  sobre os demais e que, por isso, teve a
         fiados apenas no esforço do seu braço e   se  pode  avaliar  o  grau  de  degradação  sorte, ou o  azar. de ser quem primeiro
         da  sua  inteligência,  se  espalharam  por   moral e de corrupção a que tinha descido   avistou uma grande nau de -mouros,. que
         todo o  Oriente.                   a  Índia  Portuguesa, decorridos, apenas   navegava em sentido oposto. Tratava-se
            Preocupado sobretudo em evitar tra·   oito  anos  após  a  mane  de  A fonso  de   duma nau de Cambaia que vinha do Pegú
         balhos  e  arredondar  o  seu  pecúlio,   Albuquerque.               ricamente carregada e  se dirigia para o
         D.  Duarte de Meneses, depois da partida                             golfo Pérsico ou mar Vennelho. Aproxi·
                                               Em  Agosto  de  1523,  chegou a  Or-
         de  seu  irmão  para  o  Mar  Vermelho,                              mou-se dela. navegando a remos. a nossa
                                            muz  D.  Luís  de Meneses,  ido  do mar
         dirigui-se para Ormuz com uma armada                                 galé e,  logo que a leve ao alcance de tiro,
                                            Vermelho.  Indignado  com  o  procedi-
         constituída por três naus pequenas, três                             submeteu-a  a  um  intenso  bombardea-
                                            mento de seu  irmão não quis continuar
         caravelas  redondas  e  quatro  ou  seis                             mento que lhe provocou grandes avarias.
                                            ali  com ele  e  dirigiu-se  imediatamente
         galés, a fim de consolidar a paz naquela                             Vendo-se em risco de serem metidos ao
                                            para Goa. Mas, perto de Diu. encontrou
         região  e...  tratar  dos  seus  negócios!                           fundo. os .,mouros»  amainaram.  isto é,
                                            grandes mares que o obrigaram a retro-
            Em Onnuz, foi o Governador encon-                                 renderam·se, arriando as velas e as ban-
                                            ceder e a arribar a Ormuz.  Em começos
         trar, preso na nossa fonaJem , Rais Xa-                              deiras.
                                            de Setembro, as  armadas de  D.  Duarte
         rafo que tinha sido o mentor da subleva-                                Preparava·se  Bastião  de  Noronha
                                            e D.  Luís de Meneses iniciaram. em con-
         ção, em que tinham perdido a vida inu-                               para atracar a galé li nau  a fim de fazer
                                            serva, o  regresso li  índia.
         tilmente tantos portugue..'>Cs e omluzinos,                          a  trasfega  de  carga  que  esta  levava.
         e  o  responsável pelo assassínio do rei.   Como de costume. os  navios que as   quando os soldados .. velhos,. começaram
         Pois.  por  incrív.el  que  pareça,  com  a   compunham iam bastante afastados uns   a  murmurar.  dizendo  que  era  muito
         concordância  da  maioria  dos  fidalgos .   dos outros para aumentar a probabilidade   arriscado  colocar  a  galé.  que  era  um
         perdoou-lhe todos os seus crimes e rein-  de encontrarem alguma  -nau de  Meca,.   navio raso, ao lado de uma nau tão alte-
         tegrou-o nas antigas funções de guazil da   que era a obcecação pennanente de todos   rosa. ficando à mercê dos projécteis que
         cidade.  Como  seria  de  esperar,  tanto   os fidalgos . soldados e marinheiros por-  dela lhe quisessem lançar. Que o que se
         D.  Duarte de Meneses como os fidalgos   tugueses que andavam  por aqueles  ma-  devia  fazer  era  ir  buscar  primeiro  a
         que  o  apoiaram  receberam,  em  troca,   res.  E cada capitão  içava a maior quan-  tripulação  da  nau  com  a  barquinha  da
         elevadas quantias em dinheiro e  riqufs·   tidade de pano que podia para se adiantar   galé.  pôr  naquela  gente  nossa  e,  só
         simos presentes, além de serem constan-  aos companheiros.  Era  uma espécie de   depois. acostar.  Riram-se os _reinois,. de
         temente obsequiados com festins, organi-  grande regata oce:inica em que o prémio   tanta prudência,  em relação a  uma  nau
         zados por Rais Xarafo, enquanto perma-  podia  representar a  independência para   mercante que se tinha rendido e que não
         neceram em Ormuz. A par disso, alguns   o resto da vida. Só que, algumas vezes.   dava o mais pequeno indício de resistên-
         ormuzinos que durante a guerra haviam   era a própria vida que se perdia no jogo.   cia. E insistiram com o capitão para que
         demonstrado  a  sua  lealdade aos  Ponu-  Um  dos  navios  mais  veleiros  das   a  fôsse  abordar.  ávidos  de  sentir  as
         gueses foram banidos da cidade ou man-  duas  armadas era  a  galé de  Bastião de   riquezas que nela pressentiam escondidas
         dados matar por Rais Xarafo. perante a   Noronha que conseguiu  grande avanço   a deslizar-lhes pelas mãos. Mas'Bastião


                                          ,                                             ,
                  ARMADA  MEDIA DA CARREIRA DA  INDIA



                                                            SAllf'RIIGAIIA}1
                                  .... 1l11J.M1 DI! Lll>-.c)A   ou            .1CARJ.,\I       REGRESSAIlAM
                                                           DES.\I' AIlY.Ct:IlA.\1   SA 1)<,1)IA   00.\1 CARGA



           REINADO            ~.w;J.fí~lf4;JJJ;                                               ~.t!í;é.
              DE
          D. MANUEL                                          .&;.:1.1;     J:.i;lJ;.dI;.
           (1497- 1521)      A;,jf.I;'.r.-&-~                                                 J!l;JJJr"u;;






           REINADOS
              DE                 .ili;~k                                                      ~~
          D. JOÃO 1Il                                         &               .&:ti;.
             E DE
         D. SEBASTIÃO            &~~                                                          ~.llJ;
           (1522-1578)
                                                                                                             1-


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